A tecnologia e os e-books no Brasil
PublishNews, Stella Dauer, para o Revolução Ebook, 17/02/2012
Preço dos dispositivos e custo de produção são barreiras para a leitura digital, mas 2012 promete mudanças

O Brasil não é um exemplo mundial quando o assunto são os livros digitais. A estimativa é de que estamos três anos atrás de grandes mercados como o norte-americano. Entretanto, 2012 promete ser o ano em que as coisas realmente irão acontecer, e por isso apresentamos aqui um apanhado sobre a tecnologia – tanto de aparelhos como de formatos – utilizada no Brasil.

Formatos

Até o momento, o formato mais utilizado para e-books no Brasil é o PDF, o que é uma lástima. Como todos sabem, o PDF não é um formato de documento indicado para livros digitais, pois se lido em um dispositivo móvel nota-se grande desconforto, uma vez que não é possível redimensionar o texto, mudar a diagramação ou ainda trocar a cor do fundo.

Há também algumas lojas e editoras que oferecem outros formatos, como o Mobi e até o antigo PRC. Entretanto, o ePub vem crescendo exponencialmente nas livrarias on-line. As editoras começaram a perceber que o formato mais indicado para e-books é o ePub, tratado como um padrão nos EUA e na Europa.

Os "livros aplicativo", geralmente desenvolvidos para iPad, são até o momento uma exceção no mercado. Além de o comércio de tablets não estar em seu auge no Brasil, o custo para a produção de um livro interativo ainda é muito alto no país. Com preços que variam de R$ 14 mil a R$ 30 mil (entre US$ 8 mil e US$ 17 mil), apenas grandes editoras se aventuram nesse caminho. É o caso da Globo Livros, com Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, e da Melhoramentos, com O menino da terra, de Ziraldo. Mesmo assim, esse acervo interativo deve crescer em 2012.

Aparelhos de leitura

Para que o livro digital se popularize, é necessário que existam dispositivos para a leitura digital de fácil acesso – tanto econômico quanto tecnológico. E esse, infelizmente, também não é o caso por aqui. A interface mais utilizada para a leitura de e-books no Brasil é o tradicional PC, seja desktop ou notebook. De acordo com dados da FGV, eram 60 milhões de computadores em uso em 2011, e serão 100 milhões em 2012. O principal local de acesso à internet é a lan house (31%), seguido da própria casa (27%) e da casa de parente de amigos, com 25%. Ao todo, 87% dos brasileiros já estão conectados.

Os smartphones são a segunda fonte de leitura digital, seguidos por tablets e, por último, os e-readers. Essa diferença em relação a outros países está no custo. O preço dos computadores caiu bastante nos últimos três anos e muitas famílias puderam adquirir um. Entretanto, tablets e e-readers possuem preços assustadoramente altos e ficam fora de alcance de grande parte da população.

Já encontramos vários modelos de tablets por aqui. Além do popular iPad, empresas como Motorola, Samsung, RIM, ZTE e Asus oferecem seus aparelhos para venda. Empresas brasileiras também possuem aparelhos próprios, como o Positivo Ypy e o Multilaser Elite, mas alguns deles são produtos importados da China que apenas levam a marca brasileira.

Quando falamos de e-readers, a situação fica péssima. São apenas alguns modelos disponíveis, que perdem feio em qualidade para os melhores e mais baratos disponíveis nos Estados Unidos. São aproximadamente seis aparelhos de tinta eletrônica, e alguns são tão fracos que não merecem a compra. Além do Positivo Alfa, brasileiro, temos oficialmente dois modelos da iRiver, o Story e o Cover Story. Um dos primeiros a chegar ao mercado foi o Cool-ER, da falecida Interead, que é vendido até hoje por aqui. A Amazon estuda vender o Kindle diretamente no Brasil por R$199 (US$ 115) quando abrir sua loja no país, o primeiro aparelho que seria vendido a menos de US$200 por aqui.

Muitos impostos

O grande vilão dos preços são os impostos. No Brasil, a taxa de importação para aparelhos eletrônicos chega a até 60%. E, mesmo quando os aparelhos são fabricados no Brasil, como é o caso da Samsung – e, futuramente, da Apple –, impostos sobre componentes e outros itens acabam encarecendo demais os aparelhos. Temos no Brasil os preços mais altos do mundo em relação aos produtos da Apple, por exemplo. Enquanto o modelo mais simples do iPad custa US$ 499 nos Estados Unidos, o mesmo é vendido no Brasil por R$ 1.629 (cerca de US$ 943).

A situação dos e-readers é ainda pior. A baixa demanda e os altos impostos fazem com que um aparelho de leitura fabricado no Brasil – o Positivo Alfa – seja disponibilizado a R$ 799 (aproximadamente US$ 462), enquanto um Kindle – de qualidade superior – pode ser adquirido por US$ 79 nos Estados Unidos. Uma diferença gritante.

A Lei 12.507, de 11 de outubro de 2011, prevê a desoneração fiscal sobre a fabricação de tablets no país. Mais de uma dezena de empresas já está habilitada para utilizar o benefício, embora os efeitos reais sobre os preços ao consumidor ainda não tenham sido sentidos.

Em 2012

Neste ano, é esperado que bons ventos tragam crescimento no mercado tecnológico em geral. Mais tablets serão adquiridos e a possível entrada de empresas como Amazon, Google e Kobo no segmento de livros digitais promete esquentar bastante o mercado.

[17/02/2012 01:00:00]