Oito décadas para lembrar
PublishNews, Maria Amélia Mello*, 29/11/2011
Gerente editorial da José Olympio escreve para o PublishNews sobre os 80 anos da casa que publicou alguns dos mais importantes autores brasileiros

Editora José Olympio, 80 anos – uma história bem brasileira

Maria Amélia Mello*

A José Olympio, estabelecida no mercado desde 1931, é uma das pedras fundamentais na construção da cultura nacional. Ao longo de seus 80 anos – comemorados agora, em 29 de novembro – a editora atravessou várias fases, presenciou e viveu acontecimentos, participou de momentos históricos. Foi pelas mãos de seus colaboradores que muitos originais saíram do prelo para a posteridade. Algumas obras-primas da literatura brasileira, como Vidas secas, de Graciliano Ramos, O Quinze, de Rachel de Queiroz, Menino de engenho, de José Lins do Rego, A bagaceira, de José Américo de Almeida e, vale sempre lembrar, Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, conquistaram o reconhecimento do público e crítica a partir das edições da JO. Na Casa (era assim chamada), os autores brasileiros fincaram a bandeira da “posse da terra”, este imenso território que é a língua portuguesa.

Quando o jovem José Olympio – ainda Pereira Filho – deixava Batatais, interior de São Paulo, para tentar a vida na capital, a literatura brasileira estava longe de ganhar as primeiras páginas dos jornais. O mundo girava ao redor de cinco letrinhas – Paris – que exerciam um fascínio sobre nossa vida cotidiana. Falar e escrever em francês era sinal luminoso de cultura. Pouco se sabia do Brasil e de sua gente. A rigor, nem aquele garoto esperto, que começou ganhando uns trocados aos onze anos no balcão da farmácia de sua cidade natal (então com vinte mil habitantes, localizada na região da Alta Mogiana e vizinha de outra pequena cidade, Brodowski, que mais tarde entraria também para o nosso mapa cultural como a terra do pintor Portinari), podia imaginar que se tornaria o grande editor brasileiro. De brasileiros. E seria um dos principais responsáveis pelas mudanças da geografia literária. O Rio de Janeiro foi o lugar escolhido para firmar seu negócio e a literatura brasileira, sua paixão. Ele não parou mais.

Não é saudosismo, acredite, mas o comércio do livro era também afeto. As relações eram cordiais, traduzidas na simples arte da amizade. Por isso, seus editados frequentavam a livraria da rua do Ouvidor 110, dividiam conta no bar, falavam de política e de poética com a mesma desenvoltura, viravam compadres, brigavam e faziam as pazes, trocavam confidências, não perdiam os famosos almoços da Casa, andavam sempre juntos. A grande família da José Olympio, retrato de uma época.

Seus autores viajaram mundo afora, em outros selos, outras bibliotecas. Mas a referência não se dissipa. A editora está aí até hoje, revitalizada e parte integrante do Grupo Record, de Sergio Machado, desde 2001, comemorando oito décadas e trazendo de volta os maiores talentos da literatura. Não faz muito tempo, um amigo meu, brincando, disse: “Isto não é uma editora, é um monopólio”. Entre outros autores, para mencionar apenas os grandes clássicos, constam de seu catálogo: Ferreira Gullar, Ariano Suassuna, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Stanislaw Ponte Preta, Cassiano Ricardo, Mário Palmério, Marques Rebelo, Augusto Meyer, Raul Bopp, Aníbal Machado, Sérgio Buarque de Hollanda, Antonio Callado, Manuel Bandeira, Lucia Benedetti, José Cândido de Carvalho, Maria Clara Machado, Paulo Rónai, Pagu, Vianna Moog, Brito Broca, Luís Martins, Elisa Lispector, Campos de Carvalho, Rachel Jardim, Bernardo Élis, Rocha Lima, Francisco de Assis Barbosa, Amando Fontes.... ao lado de escritores contemporâneos, igualmente importantes, em processo de construção de suas obras de ficção, não-ficção e infantis.

Não é coincidência que nosso catálogo reúna tantos livros “emblemáticos”: Poema sujo, A pedra do reino, Martim Cererê, Cobra Norato, O tronco, O Quinze, Menino de engenho, A bagaceira, Chapadão do bugre, A estrela sobe, João Ternura, A lua vem da Ásia, O coronel e o lobisomem, A vida de Lima Barreto, Bandeirantes e pioneiros, O melhor de Stanislaw, A vida literária no Brasil, os ensaios sobre Machado de Augusto Meyer. E vale, ainda, citar o clássico de várias gerações, O menino do dedo verde, do francês Maurice Druon. Sim, anote aí: mais de dois milhões de exemplares vendidos. Aliás, de meninos a Casa vai bem: o de engenho, já ultrapassou um milhão de cópias vendidas. Um feito e tanto!

“A escrivaninha é um lugar perigoso de onde se pode observar o mundo”, frase de um autor cujo nome me escapa agora. Por isso, estamos com os olhos no presente, nas ruas, nas oportunidades. Mas, tradição é tradição, a nossa marca.

Quem hoje falar de Brasil, de literatura brasileira, de talento, sabe que deve muito ao José Olympio, ao José, pai de todos, editores e editados, um exemplo permanente das raízes do Brasil.

Como bem definiu o amigo José Cândido de Carvalho: “um caçador de esmeral

das literárias, um desbravador”.

* Gerente editorial da José Olympio

Grupo Editorial Record

[29/11/2011 01:00:00]
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