A cerimônia de abertura da Feria Internacional del Libro de Guadalajara é, por tradição, um ponto alto da festa. Pode-se dizer que a feira já começa por cima com a entrega do Prémio FIL de Literatura en Lenguas Romances, que anualmente premia o conjunto da obra de um escritor, em qualquer gênero literário, com US$ 150 mil.
O vencedor deste ano foi Fernando Vallejo, escritor colombiano e naturalizado mexicano. O homenageado foi o último a falar na série de discursos típicos de premiações como essa. Depois de autoridades e professores, Vallejo, que é conhecido por sua escrita afiada contra os poderes estabelecidos, não poupou aqueles que o premiaram. E seu discurso esteve na primeira página dos jornais mexicanos no dia seguinte.
Fernando Vallejo agradeceu o prêmio, do qual, disse, não se sentia merecedor. Em seguida, afirmou que destinaria o prêmio a duas entidades protetoras de animais no México; e então, a partir daí, discursou frontalmente contra os políticos mexicanos que estão no poder hoje, do partido conhecido pela sigla PRI, e também contra a Igreja e outras instituições às quais não poupa críticas.
“Quando era criança, sempre que eu pegava em dinheiro minha mãe me mandava lavar as mãos – porque eu tinha pegado em dinheiro. Era pobre, vivendo na pequena e suja Medellín. E assim fui criado. Se tivesse sido educado na escola do PRI, hoje seria milionário (e nunca teria precisado lavar as mãos depois de tocar dinheiro). Minha querida mãezinha era uma santa, uma geradora de filhos, como queria o papa...” Assim falou Vallejo, impiedoso com os políticos e a Igreja.
Em Guadalajara, uma feira organizada e realizada pelo poder público, a liberdade de expressão é uma realidade. Talvez isso seja um dos grandes fatores para o seu sucesso e crescimento. A festa, que contou com 64 autores em sua primeira edição, este ano terá mais de 500 escritores falando, debatendo, conversando e autografando. Dos 2.500 m2 iniciais, cresceu para os mais de 70.000 m2 atuais. E, no ano de 2010, contou com a visita de mais de 600 mil pessoas – em 2011, prevê ultrapassar os 700 mil. Vale também destacar a presença de quase 18 mil profissionais do livro visitando a feira no ano passado.
Marco Antonio Cortés Guardado, reitor da Universidade de Guadalajara, resumiu o sentimento em torno da FIL, que recebe de braços abertos até mesmo os discordantes: “A Feira Internacional do Livro nos leva a crer novamente na disposição dos seres humanos para viver em paz e de maneira civilizada.”





