Petróglifo (1)
Uma abelha moribunda na areia,
em um pano hasteado
mar bravo, uma caveira,
a onda nômade bate na rocha
morro das aranhas
alado, íngreme
uma taturana queima a grama
no rastro da trilha
carapaças de moluscos
o musgo das rochas
se confunde com as ondas,
traços nítidos na pedra:
sob o teto de vime
linhas curvas
entrelaçadas
máscara severa,
coruja ou sentinela?
aviso de perigo à vista
silhuetas de círculos e triângulos,
rasuradas, agora, por vândalos
pétalas amarelas de um cacto
bagas, mar pesado
uma saíra-de-sete-cores
em voo rasante arranca
a flor do capim alto
arrancado pelo vento
um cacto náufrago
seca sobre o rochedo
Letra
Nine out of ten computers are infected
Leminski morreu
do uso contínuo
de um coquetel
de álcool, cigarro e drogas
às vezes
de álcool puro e Pervitin
pupilas dilatadas para encarar o nada
às vésperas da morte
fétido
camiseta cavada e chinelos
trapos a pele
verde como vômito
arranhando o violão e traduzindo Beckett
getting a tan without the sun
que o futuro o disseque
(... numa outra década,
guerrilha nas favelas,
Kaetán morreu de uma overdose
de dólares
êxtase de cheques,
abanando o leque
um séquito de adeptos)
nine out of ten computers... are infected
Morreu-me
Morreu-me o visto como palavra,
luminosidade intercalada
pelo raio entre os azuis
com os trovões
Eis-me aqui por dentro: o que captei
fez com que eu perdesse um de meus centros
Um peso oco soa na cabeça
como um lamento
Meses eunucos
Meses eunucos
eu poderia
sim reuni-los
num verso curto:
melancolia
do dia a dia
sol-agonia
dos mil invernos
múltiplos
meses eunucos:
manhãs-crepúsculo,
eu os combato,
sim, com o verso
inútil