Frida Kahlo em fotos inéditas
PublishNews, Redação, 15/07/2010
Por mais de 50 anos, documentos e lembranças de Frida Kahlo e Diego Rivera, entre os quais cerca de 6 mil fotografias, estiveram trancafiados num banheiro da famosa Casa Azul, hoje Museu Frida Kahlo

Ela foi precoce, libertária, conviveu com nomes que marcaram sua época e os conquistou – homens e mulheres –, com os quais dividiu sua vida e os quais recordou em seus quadros. Além disso, ditou moda, fez estandarte de suas dores e morreu antes dos cinquenta. Frida Kahlo tinha tudo para se tornar o mito que é até hoje – e ainda por cima tinha consciência de que o estava construindo. Se os principais pilares dessa construção ficam à mostra em sua obra, que sempre esteve flagrantemente entrelaçada à vida da artista, outra porção (literalmente escondida entre as paredes de sua casa) vem agora à tona com a publicação de Frida Kahlo - Suas fotos (Cosac Naify, 524 pp., R$ 120). Clique aqui e veja Galeria de fotos.

No livro, mais de quatrocentas fotos se reúnem para contar, de outros ângulos, a história da mais famosa artista mexicana. As fotografias do arquivo pessoal de Frida foram organizadas pelo fotógrafo, editor e curador mexicano Pablo Ortiz Monastério em sete temas principais: “Origens”, “Papai”, “A Casa Azul”, “O corpo dilacerado”, “Amores”, “A fotografia” e “Luta política”. Ensaios completam o livro que está sendo lançado simultaneamente em diversos países.

Quando, já viúvo de Frida, Diego Rivera deu a Dolores Olmedo instruções expressas de que o acervo pessoal do casal não fosse aberto por quinze anos após sua morte, não esperava que sua amiga e testamenteira fosse ser tão zelosa guardiã de seus segredos. Por mais de cinquenta anos, documentos e lembranças do casal – entre os quais cerca de 6 mil fotografias – estiveram trancafiados num banheiro da famosa Casa Azul, hoje Museu Frida Kahlo, em Coyoacán, na capital mexicana.

Mesmo se muito já se disse, ao longo dos anos, sobre os sofrimentos físicos e psíquicos de Frida Kahlo – começados com uma poliomielite na infância, agravados por um terrível acidente de bonde na adolescência, e coroados pelos abortos que sofreu devido a sequelas do mesmo acidente –, o conteúdo do livro ilumina muito sobre a vida dela, à moda de uma fotobiografia.

As imagens mostram uma série de autorretratos de seu pai fotógrafo, a Frida menina, seu estúdio, o encontro com Rivera, seu círculo cosmopolita de amigos e a intimidade da artista com personagens notáveis como Breton, Duchamp, Trótski, Henry Ford, Dolores del Rio e alguns brasileiros como Adalgisa Nery. Acompanhando as imagens – ora por si só eloquentes, ora persistentemente misteriosas – os ensaios que abrem cada uma das partes do livro vêm, como uma lufada de vento, arejar todo esse material congelado no tempo.

Os textos introdutórios – do organizador do volume, o fotógrafo, editor e curador mexicano Pablo Ortiz Monastério, e de Hilda Trujillo Soto, diretora do museu Frida Kahlo, que capitaneou a catalogação das descobertas – definem a importância do material publicado. A esses, somam-se ensaios encomendados a pesquisadores de diferentes áreas – Masayo Nonaka, Gaby Franger e Rainer Huhle, Laura González Flores, Mauricio Ortiz, James Oles, Horacio Fernández e Gerardo Estrada – que propõem leituras dos vários aspectos suscitados pelas imagens do livro.

Sobre Frida Kahlo

Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón (1907-1954), ou simplesmente Frida Kahlo, foi a maior pintora mexicana e possivelmente a mais conhecida artista plástica mulher do século XX. Sua obra combina elementos de matriz popular e religiosa mexicana a traços surrealistas. Filha do alemão Guillermo (nascido Carl Wilhelm) Kahlo e da mexicana Matilde Calderón, Frida teve uma vida pessoal tumultuada: teve poliomielite aos seis anos e, aos quinze, sofreu um acidente de bonde cujas sequelas perdurariam até a sua morte, aos 47 anos. Casou-se aos 21 com o muralista Diego Rivera, com quem manteve uma conturbada e duradoura relação, marcada por casos extraconjugais de ambas partes.

Sobre o organizador

Pablo Ortiz Monasterio (Cidade do México, 1952) é fotógrafo. Foi editor de publicações especializadas em fotografia, como a revista Luna Córnea, e, em 2007, foi curador da seção fotográfica da mostra Tesoros de la Casa Azul, em que se tornaram públicos os conteúdos do banheiro lacrado da casa de Frida e Diego. Seu trabalho ganhou múltiplas exposições no México e no mundo, e está publicado em livros como Corazón de venado (ed. Casa de las Imágenes), sobre o ritual do peiote entre os índios huicholes da Serra Madre Ocidental.
[15/07/2010 00:00:00]