Obra analisa as bases históricas do cangaço
PublishNews, Redação, 17/06/2010
Trabalho de Luiz Bernardo Pericás vai além do caráter meramente narrativo

O fenômeno do cangaço “independente” (em oposição ao banditismo vinculado a “coronéis” do sertão) começou na segunda metade do século XIX e durou até cerca de 1940, tendo sido extensamente estudado por diversos autores. No entanto, a maior parte destas obras é de “caráter basicamente narrativo”, escritas no calor do momento, em “linguagem quase literária (e, por vezes, preconceituosa) ou então para justificar certos posicionamentos”, avalia o historiador Luiz Bernardo Pericás.

Pericás foi além da constatação desta lacuna bibliográfica, foi a campo. O resultado desse trabalho é agora publicado em Os cangaceiros - ensaio de interpretação histórica (Boitempo, 320 pp., R$ 54), no qual analisa as bases históricas e a atuação dos grupos do cangaço chefiados por Antonio Silvino, Sinhô Pereira, Ângelo Roque, Jararaca, Corisco e Lampião.

O livro será lançado hoje (17), às 19h, no Espaço ECCO (SCN quadra 3, bloco C, loja 05. Brasília/DF. Tel.: 61 3327-2027) e o lançamento paulistano está marcado para terça-feira (22), às 19h, na Livraria da Vila da Lorena (Alameda Lorena, 1731 – Jardins – São Paulo/SP. Tel: 11- 3062 1063)

O tema – já retratado por autores como Graciliano Ramos e José Lins do Rego e mesmo pelo pintor Di Cavalcanti – é desenvolvido à luz de uma abordagem multidimensional, que toma a estrutura agrária sertaneja “como um forte elo entre a base econômica mais ampla e a superestrutura”, mas não se atém somente a uma interpretação economicista, investigando outros níveis para traçar um quadro complexo do banditismo rural nordestino. A influência de outras culturas, como a indígena, a portuguesa e a sertaneja, e o ambiente político e institucional, são elementos considerados no ensaio, assim como os discursos que permeavam as diversas camadas sociais da região.

Como aponta na orelha o também historiador Lincoln Secco, na história do Nordeste brasileiro “o cangaço apareceu como a forma pela qual se moviam as contradições típicas de uma sociedade formada por populações errantes, pobres e vitimadas pelo mandonismo local e marcada pela instabilidade”. Segundo Secco, “as vivas descrições geográficas revelam que o autor realmente percorreu o sertão nordestino”, relatando “os casos de violência, torturas, as relações amorosas, o cotidiano, o papel das mulheres e das crianças, a questão racial, os hábitos alimentares, as relações políticas, o coronelismo, as formas de combate, os armamentos e até as malogradas tentativas dos comunistas em dar uma direção programática para aquela forma de banditismo”.

Sobre o autor

Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México). Foi Visiting Scholar na Universidade do Texas. É também autor de Che Guevara: a luta revolucionária na Bolívia (Nacional, 1997), Um andarilho das Américas (Elevação, 2000), Che Guevara e o debate econômico em Cuba (Xamã, 2004) e Mistery Train (Nacional, 2007).
[17/06/2010 00:00:00]