“O mercado editorial não é mais uma indústria isolada. Estamos no negócio do conteúdo que se move on-line. Temos que experimentar, conversar e ser flexíveis. A maioria das ferramentas é gratuita. Se tentar e falhar, é só tentar novamente”. Foi com essa ideia que Juergen Boos, diretor da Feira de Frankfurt e um dos homens mais influentes no mundo editorial, abriu na noite desta segunda-feira, em São Paulo, o 1º Congresso Internacional do Livro Digital.
Ao PublishNews, ele disse que o fato de o Brasil ter boa parte de suas editoras sob administração familiar pode ser um entrave para essa transição para a era digital. “Vai demorar mais para elas se adaptarem e experimentarem, mas acho que não vão se arrepender”.
Ele destacou ainda que São Paulo é muito simpática a mídias sociais, muito mais que a Alemanha, e que as editoras devem capitalizar isso para se aproximarem de seus clientes.
Sobre o e-reader, disse que para alguns profissionais, como os editores, eles serão uma ótima ferramenta de trabalho. “Imagine todos os originais ali naquele aparelho... Não tem mais volta”. Mas ressaltou que o celular, porque combina todas as mídias, é o futuro. “Não quero ficar carregando um aparelho desse tamanho”, disse Boos mostrando seu leitor muito menor que o Kindle ou o iPad.
Ele tranquilizou ou editores: “A atenção é a nova moeda on-line e o que nos distingue é a seleção do melhor conteúdo”. “Vocês já fizeram isso antes. Já identificaram seu público-alvo, já aprenderam a selecionar o conteúdo. Elegem um livro porque o consideram divertido, educativo... Ninguém melhor que vocês para escolher isso, mas em como todo relacionamento devem ouvir o outro lado”.
Boos contou que a cada minuto, 24 horas de vídeos são colocados na internet e que 42 mil novos blogs são criados todos os dias. As pessoas estão se expressando mais e as ferramentas de publicação e de criação de conteúdo estão disponíveis a todos. Hoje, ao invés de só ler, a pessoa pode escrever e até vender seu próprio livro. De acordo com ele, a concorrência é maior, mas o público também.
Ele disse que nesse novo modelo a distribuição não será mais um problema. “Não temos que convencer um livreiro japonês a comprar nossos livros. Vendemos direto para quem quer comprar”.
“Há ferramentas gratuitas que podem ajudar a aproximar editoras e clientes, como o Google Analytics”, destacou Boos. “Como é que a Amazon consegue indicar livros para mim?”, brincou. Para ele, ter esses resultados ajuda na hora de criar e adaptar, por exemplo, textos de marketing.
Sobre o Twitter e Facebook, a febre do momento e cujo crescimento é assustador – só o Facebook ampliou em 1000% o número de usários em 2009 -, disse que são usados para conversar com seu cliente, mas que as redes sociais não devem ser focadas apenas na venda e no marketing, apesar de serem boas para isso também. Elas são, sobretudo, ferramentas de relacionamento porque permitem uma maior interação entre os públicos.
Boos lembrou que a Paulo Coelho construiu um produto a partir de conteúdo gerado por seus fãs na internet. E não gastou nada. Os fãs, aliás, são grandes aliados do mercado editorial. “Por iniciativa deles – talvez motivados por marketeiros e editores, conteúdos sobre determinado livro são gerados na internet e viram febre”.
Falou também sobre o triângulo amoroso entre editora, cliente e autor, uma relação que como qualquer outra só funciona quando os lados se ouvem e sabem o que o outro quer.
Outro assunto preocupante, a pirataria foi abordada pelo palestrante longe no palco. “Pirataria vai existir sempre. O que precisamos é educar as pessoas e informá-las de que direitos autorais devem ser pagos. É uma questão política”.
Por fim, alertou que tecnologia e formatos aparecem o tempo todo e também mudam o tempo todo. Ao migrar para a publicação digital devem pensar nisso para não ficar refém de coisas ultrapassadas. “Seu conteúdo deve ser flexível”. Disse que “o português brasileiro é uma das línguas do futuro” e deixou um recado às livrarias: “As pequenas que se especializarem vão encontrar o seu caminho e não terão concorrentes”.
CBL
Rosely Boschini, presidente da CBL, estava feliz com a grande adesão de editores ao encontro. “Tínhamos uma média de 150, 200 participantes nas outras edições do Encontro Anual de Editores e Livreiros, mas agora com o congresso chegamos a um número perto de 550 pessoas”, disse.
A discussão sobre o livro digital é um começo de conversa no Brasil. “Mas uma discussão importante porque se não começarmos a nos preparar, vamos perder muito tempo especialmente porque se trata de tecnologia”.
Ela disse que com esse debate “saímos do lugar comum e vemos que tem vida além desse mundinho que vivemos”.
Imprensa Oficial
Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, organizadora ao lado da CBL e da Frankfurter Buchmesse deste primeiro encontro sobre o livro digital, vê o e-book como um forte apelo para conquistar mais e mais leitores. “Não importa se em papel ou digital, mas o livro tem que ganhar novos públicos.
Sobre a impressão de livros, disse: “Continuaremos fazendo edições cuidadosas, mas não posso deixar de festejar os 33 mil internautas que fizeram download dos livros da Coleção Aplauso. Em dezembro de 2009, a Imprensa Oficial criou um site especialmente para essa coleção – de biografias de artistas, cineastas e dramaturgos brasileiros, roteiros de filmes e peças de teatro – onde qualquer pessoa pode ler ou fazer o download dos livros gratuitamente.
O PublishNews está fazendo a cobertura on-line pelo Twitter (@publishnews) com a tag #livrodigital. Fotos da abertura podem ser vistas na galeria de imagens.






