Mercado espanhol de e-book em pauta
PublishNews, Redação, 09/03/2010
Arantxa Mellado, convidada do 1º Congresso Internacional de Livro Digital, fala sobre avanço do e-book na Espanha e sobre direitos autorais

Entre os dias 29 e 31 de março, São Paulo vai sediar o 1º Congresso Internacional de Livro Digital e espanhola Arantxa Mellado, advogada atuante no mercado editorial, responsável pela criação da ediciona.com, um dos mais importantes espaços virtuais de encontro do mundo literário, é uma das convidadas do evento organizado pela Câmara Brasileira do Livro e Frankfurter Buchmesse, com co-realização da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Nesta entrevista concedida à organização, Arantxa fala sobre o mercado espanhol de e-book, sobre sua expectativa em participar do encontro no Brasil, para onde vem pela primeira vez, e sobre direitos autorais neste novo mercado. “Compreendo a postura defensiva dos editores, que vêem na pirataria uma forte ameaça ao seu negócio, porém acredito que uma atitude muito protecionista acabará sendo prejudicial para eles”, diz.

É a sua primeira vez no Brasil? O que você acha de participar do primeiro

congresso brasileiro de livro digital?

Sim, graças ao convite para o Congresso sobre Livro Digital visitarei o Brasil pela primeira vez. E espero que não seja a última. Muito me interessa a participação nesse Congresso e aprender o que faz- se no Brasil a respeito da digitalização. Por sua vez, espero que a minha pequena contribuição no Congresso seja útil para vocês.

O que pensas a respeito dos direitos editoriais para os e-books?

A questão dos direitos é complicada e delicada. Compreendo a postura defensiva dos editores, que vêem na pirataria uma forte ameaça ao seu negócio, porém acredito que uma atitude muito protecionista acabará sendo prejudicial para eles. A questão de livros digitais é ainda recente e está por ser definida, por isso os autores e editores deveriam ser flexíveis em contratos e tentar colaborar para que a digitalização beneficie a ambos.

Como estão trabalhando as editoras da Espanha com os direitos digitais?

A maioria dos editores espanhóis negocia os direitos digitais nos contratos com os autores e tradutores. O direito digital, ainda sim, é um dos grandes problemas que os editores espanhóis têm na hora de digitalizar, sobre todas as obras do fundo, já que em muitos casos há dificuldade de encontrá-las. Chegou-se a um acordo com agentes literários em que, para que os livros digitais, não dão adiantamentos aos autores e ofereceu 20% do preço líquido de cada download para um período de dois anos (esse percentual será revisto, dependendo de como o mercado irá analisar.). No entanto, há alguns autores e agentes que se recusam a cooperar. Sendo assim, às vezes os editores confrontam-se com a recusa direta dos autores de que a sua obra seja lida em formato digital, alguns com medo da pirataria, outros pelo desconhecimento do meio digital, e outros consideram-no um veículo errado para a leitura. Outras vezes são os próprios agentes literários que não querem ceder os direitos digitais, eles vêem a digitalização como uma ameaça aos seus negócios, pois acreditam que o percentual oferecido aos autores é muito baixo. Um outro problema é o do direito de imagem de interior e da capa, que também deve ser renegociado. O valor dessas imagens está forçando muitos editores a considerar as questões das capas tipográficas para as impressões digitais.

Qual o número de editoras que trabalham com e-books na Espanha?

A pesquisa mais recente na Espanha sobre digitalização diz que 80% das 254 editoras entrevistadas declaram ter realizado as ações previstas no âmbito digital durante o período de 2009-2011. É um dado importante sobre como a digitalização tem marcado os editores espanhóis, levando em conta que no término de 2009, 44% dessas empresas continham menos de 5% de seus catálogos digitalizados. Nos próximos dois anos o avanço nessa área será notável, embora ao término desse período a oferta de catálogos completos na versão digital será limitada. Em 2011, um terço das editoras pesquisadas terá digitalizado de 50 a 100% de seu catálogo, embora apenas 12% disponibilizará o catálogo na íntegra em versão digital.

Que você pensa a respeito do mercado espanhol colombiano de e-books no mundo?

Não conheço o mercado colombiano suficientemente para dar uma resposta. Pelo que sei uma empresa espanhola tem um acordo com editoras colombianas para a conversão das obras em formato digital e sua posterior comercialização se dá através de uma plataforma de distribuição, porém tenho carência de informações sobre a implantação do mercado de e-book na Colômbia.

Sobre a participante

Arantxa Mellado é parceira fundadora e diretora executiva da Ediciona, uma rede social de profissionais e negócios da indústria livreira com mais de 7 mil usuários na Espanha e América Latina, do Grupo Intercom. Possui sua própria empresa de negócios pela internet voltada à comunicação de informações e publicações. É também autora do Blog Ediciona, lidando com eventos e tendências atuais no mercado do livro e e-books. Começou a carreira como editora e revisora e continuou como diretora do departamento editorial nas editoras Emecé e Salamandra. Em 2002 fundou a Borealia, uma empresa que disponibiliza serviços editoriais e produziu dezenas de livros de diversas editoras. Essa experiência proporcionou a ela uma excelente percepção da cadeia produtiva de livros e suas fraquezas. Arantxa tem bacharelado em Direito pela Universidade de Barcelona e pós-graduação em estudos sobre História do Direito Medieval.
[09/03/2010 00:00:00]