Haicais por Quintana
PublishNews, Redação, 16/12/2009
Coletânea de pequenos grandes poemas ilumina o essencial do escritor gaúcho

O livro de haicais (Globo Livros, 90 pp., R$ 40), de Mario Quintana, reúne todos os poemas do escritor gaúcho que ele intitulou diretamente como haicais e ainda os que, sem terem sido por ele assim nomeados, são, em tudo e por tudo, haicais de Quintana. Selecionados e organizados por Ronald Polito, e ilustrado por Roberto Negreiros, o volume conta com posfácio de Paulo Franchetti. A expressão “haicais de Mario Quintana” significa mais do que à primeira vista. Pois ao frequentar a conhecida forma poética de origem japonesa, delicada estrutura de três versos dedicada, originalmente, a registrar um pequeno momento especial em meio a um cenário natural, Quintana encontra um caminho para concentrar todo o seu universo poético de modo sintético e luminoso.

Se por um lado ele mantém o essencial da forma japonesa, não somente a estrutura de três versos, mas também seu poder de síntese iluminadora, por outro a toma para si, fazendo-a falar com sua voz e com sua visão de mundo, feita de uma muito particular e delicada esperteza sutil. Pois Quintana pode parecer leve, quase ingênuo, mas por trás das aparências, é muito diferente. Trata a dureza das coisas com uma ironia que se reveste de extrema suavidade (“A morte é a libertação total: / A morte é quando a gente pode, afinal, / Estar deitado de sapatos...”). E a suavidade é já uma resposta irônica, logo, lúcida, de Quintana à própria dureza das coisas, portanto há de ser tudo, menos ingênua. Na verdade, muitas vezes se aproxima de certa (saborosa) filosofia existencial, à maneira de algum filósofo antigo, em que pesem a dicção coloquial e a ironia muito moderna (“Deus tirou o mundo do nada. / Não havia nada mesmo... / Nem Deus.”).
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