Ocupado para notar os olhares da moça
PublishNews, Redação, 03/12/2009
Escritor francês Martin Page apresenta seu quinto romance, Talvez uma história de amor

Depois de um dia comum de trabalho na agência de publicidade, Virgile chega em casa e ouve um recado perturbador na secretária eletrônica: “Aqui é Clara. Sinto muito, mas prefiro parar por aqui. Vou me separar de você, Virgile. Não quero mais.” Ouviu o recado cinco vezes. A surpresa não era pela ruptura: solteiro, Virgile não tinha ideia de quem fosse Clara. A partir desta premissa, o escritor francês Martin Page desenvolve a trama de Talvez uma história de amor (Rocco, 160 pp., R$ 29 – Trad. Bernardo Ajzenberg), seu quinto romance. O escritor explora o pânico que toma conta do personagem parisiense: diante de tantas evidências que o aproximam de uma suposta ex-namorada, Virgile acredita que desenvolveu uma amnésia irreversível. Tem certeza de que vai morrer, sentimento que é ressaltado em ataques de ansiedade. Quando se convence de que tem poucos dias de vida, decide encerrar contratos, escrever cartas de despedida e definir últimos desejos. Mas, Virgile toma uma decisão inesperada – decide recuperar a mulher que desconhece.

O enredo do livro assume então o charme de uma comédia romântica, centrada nas nuances do protagonista. Virgile é um anti-herói distraído, um romântico descuidado. Cético, solitário, ele também é do tipo contraditório convicto. Quanto mais se convence de que desconhece a tal Clara, mais alimenta a culpa por ter causado seu sofrimento. “Não era o instinto de sobrevivência de Virgile que não suportava a morte, mas sim seu espírito de contradição”, escreve Page. As características incomuns do personagem fazem lembrar o gênio de Antoine, protagonista de Como me tornei estúpido, também do escritor francês, que decide renunciar à própria inteligência para se encaixar na sociedade consumista e idiotizada.
[03/12/2009 01:00:00]