Uma ficção que tangencia a realidade. Assim é o romance de estreia de Edney Silvestre, Se eu fechar os olhos agora (Record, 304 pp., R$ 34,90). Escritor e jornalista de larga experiência, Edney Silvestre viveu e vive realidades que caminham à margem da ficção. Só como referência, lembro que ele foi correspondente internacional do jornal O Globo e da TV Globo, baseado em Nova York, de 1991 a 2002, tendo entre suas coberturas marcantes nada mais, nada menos, do que os atentados às torres do World Trade Center.
Em entrevista concedida ao PublishNews, Edney me recebe vestindo uma camiseta preta especial (elegante, adora camisetas pretas e tem muitas): Se eu fechar os olhos agora são as palavras gravadas num verde prateado fosco (como a bela capa do seu livro) na porção superior esquerda, não longe do seu coração. E, claro, essa proximidade não é à toa. Ele veste o livro, física e metaforicamente, como que a materializar “a voz” com que teceu essa narrativa envolvente.
Uma ficção que tangencia a realidade. Assim é o romance de estreia de Edney Silvestre, Se eu fechar os olhos agora (Record, 304 páginas). Escritor e jornalista de larga experiência, Edney Silvestre viveu e vive realidades que caminham à margem da ficção. Só como referência, lembro que ele foi correspondente internacional do jornal O Globo e da TV Globo, baseado em Nova York, de 1991 a 2002, tendo entre suas coberturas marcantes nada mais, nada menos, do que os atentados às torres do World Trade Center.
Em entrevista concedida ao PublishNews, Edney me recebe vestindo uma camiseta preta especial (elegante, adora camisetas pretas e tem muitas): Se eu fechar os olhos agora são as palavras gravadas num verde prateado fosco (como a bela capa do seu livro) na porção superior esquerda, não longe do seu coração. E, claro, essa proximidade não é à toa. Ele veste o livro, física e metaforicamente, como que a materializar “a voz” com que teceu essa narrativa envolvente.
Numa breve sinopse, Se eu fechar os olhos agora apresenta a investigação de um crime brutal. Em uma pequena cidade da antiga zona do café fluminense, dois meninos de 12 anos encontram o corpo mutilado de uma linda mulher às margens de um lago onde vão fazer gazeta. Assustados, os garotos chamam a polícia e passam por um duro interrogatório, tratados mais como suspeitos do que testemunhas. Isso no mesmo dia em que Yuri Gagarin deixava a órbita terrestre, descortinando uma vitória tecnológica num século que parecia caminhar para uma era de relativa paz, progresso e justiça social, em 12 de abril de 1961. “Para os meninos, Gagarin foi para o futuro e voltou”, afirma o autor.
Sem aceitar a explicação oficial do crime, os meninos começam uma investigação ajudados por um senhor que mora no asilo da cidade, um ex-preso político da ditadura Vargas, que esconde a motivação para seu interesse no assunto. E que diz a eles que “nada neste país é o que parece”. A investigação desvenda um perverso painel em que violência sexual, racismo, corrupção e espúrias alianças políticas se misturam, numa época em que o Brasil caminha para a industrialização. Para os meninos, será um terrível caminho de amadurecimento e chegada à vida adulta, ainda no início da adolescência.
“Quem contava a história era quem se lembrava da história...”, diz Edney, que se deu conta dessa verdade em Paris, quando, em meio a um trabalho, afastado da escrita do livro, uma voz lhe falou “se eu fechar os olhos agora, eu posso sentir o sangue dela...”, a voz de um dos garotos que contava a história. A voz que se lembrava das cartas que o outro amigo lhe escreveria. Memória – o fio condutor na costura do enredo habilmente construído.
Uma voz? Sim. “Tem que estar distraído para a voz chegar. Os personagens surgiram sozinhos.” O autor esperava personagens adultos, mas vieram os adolescentes. Já Anita, a vítima, “no fundo, no fundo, é a personagem central do livro. Através dela vê-se as estradas que nos conduziram ao que somos hoje. A história do Brasil”, afirma o autor.
“Nada neste país é o que parece.” O personagem que assim se pronuncia sofreu por causa de seus sonhos. “Ele é um comunista que é um ex-comunista, como Saramago, que me inspirou”, conta Edney. “Em determinado momento, tive que fazer uma separação da minha admiração para evitar a castração – adoro Saramago, mas não escrevo como Saramago, nem ninguém escreve nem escreverá como Saramago.” Milton Hatoum, Luiz Ruffatto, João Ubaldo Ribeiro são outros autores admirados pelo autor de Se eu fechar os olhos agora.
Questionado sobre o tom policial de seu romance, Edney Silvestre diz ter lido de tudo: Conan Doyle, Dashiell Hamett, Gerogs Simenon. “Você pode ler também Dan Brown, qual o problema? Li Thomas Mann com 13 anos e gostei.” Ele gosta de pensar que existe o prazer ou o desprazer da leitura, não uma separação entre literaturas por sua qualidade. Um pensamento imparcial, liberdade essencial ao escritor. E finaliza: “É possível ser jornalista e ficcionista de forma separada sem problema – como, por exemplo, Graciliano Ramos.”
Depois de três livros em que reúne crônicas, memórias e entrevistas, além de textos incluídos em coletâneas, o escritor e jornalista Edney Silvestre oferece ao público este romance pungente e emocionante. É ler e se envolver!