Retrato pessoal e brasileiro
PublishNews, Redação, 07/08/2009

Memórias – A menina sem estrela (Agir, 448 Pp., R$ 69,90), de Nelson Rodrigues, é considerado o mais memorialista dos livros do famoso escritor. Um importante documento não apenas autobiográfico e confessional, mas também dotado de qualidades ensaísticas e considerado pelo crítico Sábato Magaldi uma obra-prima. A obra é um conjunto de 80 crônicas, publicadas entre 18 de fevereiro e 31 de maio de 1967 no Correio da Manhã, que reafirmam o valor de sua produção jornalística. Mesmo datadas, comprovam a contemporaneidade do seu estilo. Reacionário para a esquerda, pornográfico para os conservadores, Nelson Rodrigues sempre foi alvo de controvérsias. Mas, seu talento nunca foi contestado. Neste livro, ele aborda, em seu estilo inconfundível, memórias da família e do país. Dividem as páginas do livro sua iniciação sexual, o assassinato de seu irmão Roberto, a revolução de 1930, a consagração com Vestido de noiva, o suicídio de Getúlio Vargas, os anos em que passou num sanatório para tratar da tuberculose, a gripe espanhola... Junto com suas lembranças pessoais, um fabuloso painel do Brasil da metade do século passado.

Nas crônicas de Nélson Rodrigues, nota-se a ausência de cronologia. Sendo memórias, começam da maneira mais tradicional possível: “Nasci a 23 de agosto de 1912, no Recife". Mas, o tradicionalismo acaba aí. Em seguida, Nelson emenda ao relato de seu nascimento a história da famosa espiã Mata Hari, na época em plena atividade, em Paris. No relato de suas lembranças, nem sempre os acontecimentos têm uma conexão com a realidade que os cerca. A ligação é, principalmente, com a emoção e a criatividade do autor. Suas crônicas são sempre pontuadas por um texto coloquial, perspicaz em que se misturam acidez e bom humor. A nova edição de Memórias - A menina sem estrela dá ao leitor a possibilidade de reencontrar ou descobrir personagens de um autor que marcou definitivamente o panorama literário brasileiro.
[07/08/2009 00:00:00]