O negócio da moda
PublishNews, Redação, 19/06/2009

O São Paulo Fashion Week recebeu em sua abertura o presidente da Federação Francesa da Costura, do Prêt-à-porter, dos Costureiros e dos Criadores de Moda e da Câmara Sindical da Alta-Costura, Didier Grumbach, para lançamento de seu livro Histórias da moda (Cosac Naify, 456 pp., R$ 99 – Trad.: Dorothee de Bruchard e Joana Canedo). O livro narra as transformações sociais e estéticas da moda por meio de pesquisas históricas enriquecidas com as memórias pessoais de Grumbach, que dedicou toda sua vida ao métier, e dos criadores que fizeram parte desta evolução. Do surgimento da alta costura na França ao processo de organização das indústrias, passando por questões políticas e econômicas, o autor mostra a lógica da indústria da moda, desmistificando-a e revelando-a como um grande negócio, sem diminuir a importância da criação, do glamour e do espetáculo que sempre estão a ela associados. Daí o lugar especial que o autor reserva aos grandes estilistas, fornecendo informações preciosas e enfatizando a importância de cada um deles na linha cronológica.

A trajetória da indústria da moda começa em 1675, quando o rei Louis XIV decreta que as costureiras teriam o direito de vestir as mulheres da corte, o que antes somente era concedido aos mestres alfaiates. Quase 200 anos depois, surge o primeiro grande nome: Charles Frédéric Worth, um inglês estabelecido em Paris. No século XX o termo alta-costura é cunhado pela Câmara Sindical de Costura Parisiense, órgão que se dividiu de acordo com os segmentos de moda, estabelecendo padrões de qualidade e definindo os critérios para uso dos diferentes termos: alta-costura, costura e criação, prêta- porter e confecção. Os dias atuais são marcados pela associação dos nomes dos criadores às grandes marcas, financiadas por grupos de investidores.

Fica evidente a particularidade deste negócio que se iniciou pelas mãos de alfaiates e costureiras prestando serviços à nobreza e à aristocracia, passando a uma organização profissional e ao privilegiado de grandes criadores. A presença da moda na vida cotidiana pode, às vezes, dissimular o poder de uma indústria que movimenta milhões de dólares todos os anos e emprega milhares de pessoas em todo o mundo. Grumbach oferece dados numéricos bastante expressivos, além de documentos e fotos de várias épocas para ilustrar e comprovar detalhes de todo o processo que resulta no que a moda é nos dias atuais.

A inserção de mercados emergentes e a grande circulação dos produtos no cenário globalizado é prova de que também a moda não escapa dos efeitos do mundo sem fronteiras e da comunicação em rede. Grumbach sempre reforça a ideia de que o sucesso internacional exige que a criação não se paute mais por interesses localizados, mas pelo mundo, um mundo de tendências mestiças. Histórias da moda traz, como o autor mesmo diz, um desejo de propor perspectivas a uma indústria que atualmente engloba muitos fatores, como grandes investimentos, gerenciamento, capacidade de produção e difusão dos produtos, mas que tem como ponto chave a criatividade, a inventividade e a capacidade de reinventar a si própria.
[19/06/2009 00:00:00]