A impossibilidade de dizer
PublishNews, Redação, 26/05/2009

Questionamentos que levam ao fim das certezas são abordados em O inominável (Globo, 208 pp., R$ 35 - Trad.: Ana Helena Souza), de Samuel Beckett, escrito em 1949. Ele é o último romance da famosa “trilogia do pós-guerra” beckettiana, formada ainda por Molloy (1947) e Malone morre (1948). A obra de Beckett nasce em pleno “pesadelo da história” que refere Joyce (de quem Beckett foi secretário particular). Neste caso, um denso pesadelo de meio século, começando pela noite escura da I Guerra, passando pela Grande Depressão e o nazifascismo, para atingir seu auge na noite ainda mais negra da II Guerra (da qual Beckett participou junto à Resistência Francesa). O que levaria Adorno a decretar a própria impossibilidade de ainda se fazer poesia. Ao mesmo tempo, do lado da filosofia, os questionamentos modernos e o fim das certezas clássicas afinal levariam à declaração de Wittgenstein: “o que não sei dizer, devo calar”. É essa impossibilidade, ou seja, a falência da linguagem em dar conta de uma realidade, digamos, inominável, que está na origem dos silêncios significantes de Beckett em seu teatro. Em seus romances, porém, Beckett adotaria uma estratégia linguística oposta. Falaria - ainda que sobre a impossibilidade de dizer.

[26/05/2009 00:00:00]