Um Salão do Livro com piso de plástico tipo lego, azul, vermelho, preto... A criançada já delira na entrada, na primeira pisada... Depois descubro que o carpete tradicional de Feiras, de tecido, acabava rasgando e o lego foi a solução, pois para cobrir o gramado ao lado do Palácio do Governo Estadual, são 4500 m² de madeira construindo o solo do grande espaço do V Salão do Livro do Tocantins (8 a 17 de maio). A madeira deforma com a temperatura e o lego se acomoda sobre ela, suavemente. Mas que pode ser uma sacada para outros eventos similares! Fica a dica desde Palmas.

Andar pelos corredores no final da última sexta, dia 15, nada fácil... Muita gente, e é claro muitos livros. Literatura encantando o tocantinense... O publico – o que não é bom, mas ótimo - predominantemente jovem. E aqui no grande auditório anexo também montado sobre o gramado, jovens, mais de mil deles, esperando o Tas. Sentados na mesma fileira, o grupo “Ciência em Show” do Instituto de Física da USP, que diariamente encantou a moçada, ensinando ciência com graça. Ops! O homem chegou e a plateia entra em delírio total... Tas distribui beijos e o delírio é ainda maior... Quem diria, o homem é superstar no Tocantins.

“Alô galerinha!” Anuncia o mestre de cerimônia de terno e gravata e pede para a turma sentar e “silêncio”. Mas a cada palavra do mestre, mais delírios... Anuncia que o Bluetooth dos celulares poderá receber vídeos durante a palestra, “no maior evento da literatura do Norte do Brasil, e que em uma semana já passaram 180 mil pessoas”; e ao meu lado Carolina, de 13 anos, está super animada, esperando as palavras do Tas, fazendo fotos com seu celular sem se preocupar muito com o mestre de cerimônia. Finalmente o mestre chama Marcelo Ataide Tristão de Souza, o Marcelo Tas. “Boa noiteeee, isto mais parece um show de rock, e vou tirar a jaqueta!” Claro, mais delírio. “...pediram-me para falar das transformações que as ferramentas estão fazendo com a gente. Novas tecnologias que estão mudando tudo”.

Daí começa a “aula” de Tas, que dura quase hora e meia e prende a atenção de todos. “Mas vamos começar pelo professor? Vocês conheceram o professor Tiburcio?” Olá class! (novo delírio), ‘porque sim não é resposta’. Eu tive, por exemplo, o Professor Erivaldo (foto antiga de sala de aula), careta! Aula de História do Brasil; ele enchia o quadro e nós copiávamos, e depois ele lia em voz alta; e, para completar, depois a prova que era um teste de memória daquilo que ele havia escrito com linda letra. Era o tempo do professor possuidor da informação. Ele tinha a informação e passava esta informação para os alunos; vejamos o quadro de mudanças: ONTEM Rádio – TV – Toca-discos – Toca-fitas – Jornal e agora além de tudo isto: Internet – Games – Celulares – MSN – MP3. Hoje prevalece a interatividade. Cutuca de um lado, e sabe lá o que vem... A primeira TV é sempre a cena clássica de se abrir a caixa e passamos então anos e anos vendo a tela, recebendo a informação passivamente. A grande novidade da TV foi o controle remoto... Mas hoje você controla com um novo tipo de controle remoto, o mouse! Receber hoje é diferente, você vai, você navega, você para, recomeça quando quer, você baixa, compartilha, interage.

Tas reflete então sobre a quantidade de informação que a gente produz. Mostra que na história da humanidade havia uma reta crescendo, mas que nos últimos anos a coisa detona utilizando gráfico da Universidade Berkeley. Ele indaga. “Quem tem computador pessoal, celular, usa chat, MSN, etc e tal?” E claro, todos respondem positivamente. Para avançar em suas reflexões. “Em dois anos produziu-se a mesma quantidade de informação que a humanidade havia produzido em toda sua história! Claro, falamos de quantidade de informação e não qualidade, mas o gráfico surpreende. A curva não para de acelerar; e toda esta informação é produzida de forma absolutamente interativa.”

O convidado faz então algumas observações sobre as diferenças essenciais, como um fichário antigo de biblioteca e o Google, a nova velocidade e praticidade em se encontrar a informação buscada. Conta as mudanças com sua própria história de vida, o que torna a coisa mais interessante para a galera. Em 1988, estudante de cinema em New York, ele desce do elevador na Faculdade e vê um monte de computadores chegando, para o novo departamento de mídias interativas. Pimba! Nosso palestrante conta que entra imediatamente neste novo curso. E quando volta ao Brasil, encontra-se num deserto! Só um amigo que trabalhava num banco conhecia as novidades e decide convidar Marcelo Tas para um almoço com seu chefe num restaurante chique de Sampa. Ele expõe as novidades, a visão de um mundo inteiramente interligado pela nova rede de computadores, as ideias da web então nascendo, e no final o chefe do amigo fica contrariado. ‘Se você convidar novamente seus amigos maconheiros para almoçar, eu te mando embora’! (muitos risos)

Tas destaca então alguns importantes momentos da história que levou a internet, como o artigo de Arthur Clarck (autor de 2001 Odisséia no espaço, que virou filme) intitulado, pasmem, Wirelss World; e de quando foi o artigo? 1945! Clarck especulava a rede que se poderia construir em torno do planeta com satélites. E em 1969 quando o homem pisou na lua, o mundo acompanhou o fato, via satélite! Hoje, a órbita onde estão quase 12.000 objetos conectando o planeta, é denominada ‘cinturão de Clarck’. Relatou também que em 1938 J. Reeves introduz a ideia da passagem do analógico para o digital. Usa alguns exemplos para explicar o conceito, no ‘momento nerd’ da palestra, com gráficos e noções de física, mas de forma didática e acessível. E conclui que as cópias analógicas iam perdendo qualidade enquanto as cópias digitais, que todos fazem o tempo todo, são sempre iguais ao original. Explica que isto implica em muitos problemas de direitos autorais que enfrentamos no presente. Para concluir com muito humor. “Reeves inventou a pirataria! A cópia é igual ao original. Ninguém mais tem o poder sobre o original”.

Tas seguiu ainda, com muitos outros interessantes tópicos, especialmente sobre as comunidades sociais que vão surgindo nos últimos anos e a presença marcante do Brasil nesta área. Relacionou os blogs e os blogueiros com a nova forma de se fazer TV, rádio, jornal, a força da participação de milhares de pessoas. Citou vários exemplos, mas o que mais animou a plateia foi o caso de ter certa vez visto um carro da CET em SP com chapa de Curitiba – o truque para se evitar as multas. Ele fotografou o fato e colocou em seu blog... Recebeu uma nota esclarecedora da CET, desmentindo o fato, ou a foto, acusando de montagem. Pois centenas de blogueiros enviaram outras fotos semelhantes, desmentindo o desmentido! A comunidade desmentiu! Deu ainda interessantes exemplos de carreiras que surgem via ações na net. “Os caras são famosos na internet”, e depois montam seu business. E ressaltou que as pessoas com formação mais tradicional têm muita dificuldade de entender o que está ocorrendo.

Ressaltou que o que vale é colaborar, Não ser bonzinho, mas desenvolveu o exemplo da Wikipédia, que ao início parecia não confiável, mas que hoje é tão confiável quanto qualquer outras enciclopédia, devido aos mecanismos de correção muito velozes... E obviamente o volume de informação é muito maior. Enquanto as tradicionais têm até 200.000 verbetes, a Wikipédia tem 2.000.000, e não para de crescer todo o tempo. Tas seguir ainda com interessantíssimos comentários sobre novidades que não param de surgir e mostrou os caminhos que abrem, sempre com grande conhecimento de causa, exemplos e reflexões inteligentes. Encerrou com o ‘momento Paulo coelho’, um pouco de sugestão, auto-ajuda. Procurem focar-se no presente! Contou como sua vida foi sempre um caminho sem previsão, e para concluir, a frase de efeito final: na dúvida, procurem observar o comportamento das crianças, sempre criativas e abertas.

Uma aula de atualidade, incentivo ao estudo, livros, conhecimentos, participação... Um momento alto do V Salão do Tocantins. Neste link, algumas fotos da festa.

José Luiz Goldfarb (enviado especial do Publishnews – participando do stand do Letras de Luz Civita/EDP)