As feiras ganham o País
‘Brasil Que Lê – Agência de Notícias’
Fascinada pela leitura, a curitibana Aline Cristina de Souza sempre sonhou um dia conhecer uma Bienal ou uma grande feira de livros. Aos 19 anos, concretizou o sonho. Durante a viagem a Porto Alegre, lembrava-se das reportagens em que o mundo da leitura se desvendava em cada linha que descrevia o evento. Ao chegar à 54ª Feira do Livro, deparou-se com obras de escritores que não conhecia, folheou, comprou lançamentos e apreciou livros de seu escritor preferido, José Saramago. Aline voltou para casa com oito livros na bagagem e uma sensação de que faltou algo no evento. “Fui com a impressão de ser um evento cultural mais voltado para contagiar o gosto pela leitura, com palestras, exposições, enfim, um lado mais estudioso. Embora tenha adquirido vários livros por preços excelentes, senti falta de um enfoque a mais do que é o mundo da literatura”, opina. No link Leia Mais você confere mais informações sobre as principais feiras que movimentam o País.
As impressões de quem visita as feiras são inúmeras: fascínio, encanto, críticas, descoberta. Em Porto Alegre, cenário da jovem leitora, a Feira é visitada por mais de um milhão de pessoas. É uma das maiores a céu aberto do mundo e a mais antiga no Brasil. Em 1955, o jornalista e diretor do extinto Diário de Notícias, Say Marques, viajou ao Rio de Janeiro para visitar a Cinelândia, bairro carioca, onde existia o comércio de livros em 40 barracas ao ar livre. Ao voltar para Porto Alegre, adaptou o que tinha visto e criou uma feira com o objetivo de aumentar as vendas dos livros. Com 20% de desconto, foram comercializados em 14 dias, 35.813 exemplares.
Com o tempo e a experiência, o evento foi sendo lapidado e, na última edição, a 54ª, a capital gaúcha contou com 167 expositores livreiros e a venda 600 mil livros. Patrono da edição, Charles Kiefer, 50 anos, autor de clássicos da literatura infanto-juvenil como Caminhando na Chuva, O Pêndulo do relógio, Um outro olhar, Antologia Pessoal, Você Viu Meu Pai por aí?, que recebeu por três vezes o prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro, acredita que a Feira de Porto Alegre cumpre, sim, seu papel de difundir e estimular a leitura, contrariando as impressões da jovem estudante Aline. “A Feira do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o estado brasileiro de maior consumo per capita de livros do Brasil: 5,6 livros por habitante/ano”, afirma.
O presidente da Associação Nacional de Livraria (ANL), Vitor Tavares, afirma que as feiras de livros sempre são um bom momento para o mercado livreiro, principalmente para a região onde ela se realiza, especialmente se ela for bem planejada tanto por parte dos organizadores como dos expositores. A realização de eventos paralelos com a presença de autores, livreiros, editores e bibliotecários e, ainda, uma boa divulgação na mídia com o envolvimento de toda a comunidade, são fundamentais para este sucesso. “É importante destacar que mesmo que as vendas durante o evento não sejam o esperado, números apontam que num período pós-feira — que pode variar entre 30 e 60 dias — o segmento de livros apresenta, naquela região onde ela aconteceu, um crescimento em suas vendas. Indiscutivelmente, isso deixa bem claro que um dos principais objetivos de uma feira de livros é o de difundir e democratizar o acesso ao livro e, principalmente, formar novos e fieis leitores”, afirma Tavares.
Democratizar a leitura - Na região sudeste, a média de livros lidos por ano é de 4,9. Uma das cidades que compõem esta região, Rio de Janeiro, realiza uma das maiores bienais, a Bienal Internacional. A I Bienal do Livro do Rio de Janeiro aconteceu em 1983 nos salões do Copacabana Palace numa área de mil m², porém com a necessidade de ampliar este espaço, em 1987 o evento mudou-se para o Riocentro, e aumentou área para 15 mil m² pelo fato de ser um dos acontecimentos editoriais mais importantes do país.
A Bienal de São Paulo teve um início tímido até chegar ao sucesso de hoje. A então 1ª Feira Popular do Livro aconteceu pela primeira vez em 1951 na Praça da República com o objetivo de introduzir no Brasil a tradição das feiras de livros europeias. Em 1956, foi realizada no Viaduto do Chá, mudança motivada pelo número de pessoas que por ali passavam. E em 1961, promoveu-se a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, em parceria com o Museu de Arte de São Paulo. Esses eventos serviram como projeto para que em 1970 a CBL trouxesse com exclusividade a 1ª Bienal do Livro Internacional. Abdala Jamil Abdala, 61 anos, presidente da Francal Feiras, empresa organizadora de eventos, afirma que a Bienal do Livro de São Paulo é o maior evento cultural da América Latina. “Ao reunir as principais editoras do país - e estrangeiras - num único espaço e promover uma série de atividades culturais paralelas, a bienal aproxima pessoas e livros e, com isto, dá uma importante contribuição para o desenvolvimento da cultura nacional”.