Em O amor do Pequeno Príncipe - Cartas a uma desconhecida (Nova Fronteira, 32 pp., R$ 24,90), de Antoine de Saint-Exupéry, uma paixão perdida no tempo vem à tona por meio das cartas inéditas do escritor. A correspondência, reproduzida em fac-símile e traduzida para o português, resgata uma história de amor protagonizada pelo escritor e aviador francês durante seu último ano de vida - episódio que só se tornou público em novembro de 2007, por ocasião da venda de diversos documentos do autor que hoje fazem parte da coleção do Museu de Cartas e Manuscritos, em Paris. As cartas, destinadas a uma mulher desconhecida, iluminam também a relação entre o autor e sua criação e retomam a mistura de doçura e melancolia que marcou sua obra. Juntamente com a publicação do título, a Editora Nova Fronteira, no Ano da França no Brasil, dá início ao lançamento das novas edições dos livros de Antoine de Saint-Exupéry; Cidadela, Correio Sul, Terra dos homens, Voo noturno, Cartas à sua mãe e Escritos de guerra.
Tendo passado mais de dois anos nos Estados Unidos, Saint-Exupéry, piloto da aeronáutica francesa, viajou a Argel em maio de 1943 a fim de ingressar no campo de ação militar de sua esquadrilha - o grupo de reconhecimento aéreo 2/33. Foi no trem que o conduzia de Oram a Argel que conheceu uma jovem de 23 anos, por quem se apaixonou imediatamente. Tudo o que se tem certeza a respeito da identidade da moça, no entanto, é que era natural do leste da França, casada, residente na cidade de Oran e oficial da Cruz Vermelha, onde trabalhava como motorista de ambulâncias.
A correspondência é iniciada pelo próprio Pequeno Príncipe, que, empunhando uma flor, se aproxima candidamente: “Desculpe incomodá-la... Só queria lhe dar bom-dia!” Nas páginas seguintes, porém, quando a moça deixa de responder a seus recados e telefonemas, uma certa amargura vai tomando conta das palavras e também dos desenhos. Duas longas cartas, dessa vez assinadas pelo autor, encerram o volume, com frases que parecem vir de alguém que sabe não ter muito mais tempo de vida. “Não há Pequeno Príncipe hoje, nem haverá nunca mais”, escreve. “O Pequeno Príncipe morreu. Ou então, tornou-se muito cético. Um Pequeno Príncipe cético não é mais um Pequeno Príncipe. Fiquei magoado com você por tê-lo destruído.” Nenhuma das cartas é precisamente datada, mas é possível supor que, logo depois de redigir essas palavras, Saint-Exupéry tenha realizado seu último voo, desaparecendo durante uma missão de reconhecimento em 31 de julho de 1944, na etapa final da Segunda Guerra Mundial. Seu corpo jamais foi encontrado.