Don Juan por Don Juan
PublishNews, 09/01/2008
Don Juan (narrado por ele mesmo) (Estação Liberdade, 144 pp., R$ 29 - Trad. Simone Homem de Mello), de Peter Handke, apesar do seu subtítulo, é recontado, de fato, por um cozinheiro solitário, que em meio a leituras de Racine e Pascal, decide dar um basta nos livros. Sua decisão coincide com a aterrissagem de Don Juan no jardim do albergue onde ele vive, nas ruínas do monastério de Port-Royal-des-Champs, na França. Não um Don Juan qualquer, mas o próprio Don Juan, a figura legendária cujas aventuras já foram contadas e recontadas e que Peter Handke decide ambientar na contemporaneidade. Ao longo dos sete dias de sua permanência em Port-Royal, Don Juan conta a seu anfitrião as aventuras vividas na semana precedente: sete dias, sete países diversos, sete mulheres diferentes. O que importa aqui não são os números, mas as letras: "Não contar, e sim soletrar". É apenas um dos indícios de que Handke, ao construir essa espécie de fábula, também está interessado nas implicações do narrar, no seu sentido, nas suas possibilidades e nas suas conseqüências.
[09/01/2008 01:00:00]