A trajetória de Lizza
PublishNews, 04/01/2006
Onze anos antes de Clarice, Elisa Lispector nasceu na Ucrânia. Diferente da irmã, sobretudo em seu romance-Canaã No Exílio (José Olympio, 208 pp., R$ 32), Elisa traz sua protagonista à luz das ações épicas. Saindo de uma Rússia onde o tzarismo cai, a autora mostra os pogroms, os judeus perseguidos, a revolução bolchevique e o ano de 1917 empurrando levas incontáveis de emigrantes para diversas partes do mundo. Eis Elisa Lispector e seu amplo cenário. No Exílio, publicado pela primeira vez em 1948, conta a trajetória de Lizza e sua família. Na fuga, sob a condição judaica posta a serviço da inconfiável tutela do risco, ela junta-se a seu povo e passa por uma Europa ameaçada por fantasmas reais: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Chegando bem mais tarde ao Brasil, a Maceió, e instalando-se em Recife (como se deu com a família de Elisa, na realidade), o humanismo necessário deixa seu recado numa ficção de primeira linha, que, embora trabalhe com fatos passados, não é datada. Nesse sentido, Elisa Lispector não se distingue de Clarice Lispector. O indivíduo - seja qual for sua trajetória, íntima ou coroada de ação - é, afinal, a garantia de que o mundo continua a ter sentido.
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