A Academia Brasileira de Letras reagiu à tentativa de censura ao livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, pedida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), sob a alegação de se tratar de obra de conteúdo racista. Em reunião plenária realizada ontem (4), no Petit Trianon, a ABL se posicionou “contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística”.
Os acadêmicos também apoiaram o Ministro da Educação, Fernando Haddad, que rejeitou o veto do CNE que determinou a proibição do livro em todo o país. Para os membros da ABL, cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica.
“Um bom leitor sabe que tia Anastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Picapau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afro-descendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”. A ABL sugere ainda que em vez de proibir as crianças de saber disso, seria muito melhor que os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura crítica por parte dos alunos.
Eles afirmam que é necessário aos professores e formuladores de política educacional ler a obra infantil de Lobato e se familiarizar com ela. “Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício. A obra de Monteiro Lobato, em sua integridade, faz arte do patrimônio cultural brasileiro e apelamos ao senhor Ministro da Educação no sentido de que se respeite o direito de todo cidadão a esse legado, e que vete a entrada em vigor dessa recomendação”, comentaram.