A Feira do Livro termina com jogos de futebol e conversas sobre literatura
PublishNews, Guilherme Sobota, 22/06/2025
Papos do domingo passaram por temas como antirracismo, família, amor e livros

Público n'A Feira do Livro do Pacaembu: nove dias de eventos literários e livros | © Nilton Fukuda / A Feira do Livro
Público n'A Feira do Livro do Pacaembu: nove dias de eventos literários e livros | © Nilton Fukuda / A Feira do Livro
Num ano em que A Feira do Livro consolidou sua relação com o futebol – marcante desde a primeira edição, por ser realizada em frente ao Estádio do Pacaembu e ter parceria com o Museu do Futebol, este ano acrescida da coincidência do evento ser realizado ao mesmo tempo em que a Copa do Mundo de Clubes –, o último dia começou com dois jogos de futebol. Autores e autoras, jornalistas, editores e outros profissionais desfilaram suas habilidades futebolísticas no gramado histórico do estádio, chamado agora de Mercado Livre Arena Pacaembu.

Nem a leve chuva que ameaçou cair na manhã de domingo atrapalhou o clima de confraternização e camaradagem dos jogos – ambos terminaram empatados.

Mais tarde, um dos jogadores – Lázaro Ramos – participou de um painel no Palco Petrobras, para divulgar o seu novo lançamento: Na nossa pele (Objetiva), espécie de continuação de Na minha pele, de 2017. No novo livro, Lázaro compartilha a história de sua mãe para falar de diversos assuntos.

“Estou arrependido de ter aceitado o convite para o jogo, porque estou com dores, mas mesmo com menos jogadores em campo conseguimos empatar”, comentou no início da mesa – no segundo tempo do jogo, o time branco, do qual ele fazia parte, de fato jogou com menos jogadores em campo.

Sobre o livro, ele detalhou o que chama de “poética do acolhimento estratégico ativo”. “Entender como as narrativas dominantes podem abrir espaços para outros caminhos faz parte do meu processo de criação”, disse. “Primeiro, destrincho uma narrativa: toco em assuntos que nos aproximam, que entendemos com facilidade, como origem, família, trabalho, uso muito humor, e, em seguida, faço uma provocação para o leitor se aproximar. Só depois falo o que realmente queria falar. Entendi que escrevo livros para o nosso tempo. Não sei se faço livros que daqui a 20 anos vão continuar atuais”, comentou. “Também não sei se é o método ideal, mas vivemos tempos áridos para o diálogo, para a conversa real”, pontuou.

Ronilso Pacheco estava divulgando o livro Teologia negra (Zahar), e contou como o ativismo antirracista se incorporou à sua pesquisa profissional ao longo do tempo. “Foi preciso ter contato com o teologismo negro que eu não conhecia. Muitos movimentos com o cristianismo como base tiveram papel importante na liberação de países africanos, ou no Caribe”, afirmou.

Segundo o pesquisador, uma geração anterior trouxe a teologia negra para o Brasil, mas houve uma pausa de divulgação em algum momento – o objetivo do livro foi reunir e divulgar diversas tendências para um novo público brasileiro. “Os EUA têm tradição do pensamento teológico como parte importante da luta pelos direitos civis, por exemplo, bem como durante o apartheid na África do Sul. O livro veio como uma contribuição para mostrar como o pensamento teológico serve de inspiração para lideranças. Não existe nenhuma grande revolução feita pelo povo negro que não tenha sido atravessada pela religião”, afirmou.

A mesa de encerramento do festival foi uma conversa bem humorada e sensível entre o escritor argentino Pedro Mairal e a jornalista Roberta Martinelli. “Escrever para o jornal é algo que sempre recomendo para quem quer viver de escrita”, disse o autor – ele está lançando pela Todavia o livro Fogo nos olhos, que reúne crônicas sobre amor escritas para a Folha de S. Paulo.

Questionado, ele disse não saber se existe uma “América Latina”. “Assim, dessa forma, acredito que apenas visto da Europa. Dito isso, há algo, há um calor, um trato bastante aquecido em geral. Há uma língua, e mesmo com o português há uma proximidade muito grande. Tive a sorte de contar com a tradução muito competente de Livia Deorsola, porque não se trata apenas de escolher palavras, mas há esse algo mais”, disse. Sobre o tema do livro, disse que o amor precisa ser resolvido com a linguagem. “Um trabalho de tradução como esse faz comunicar esse amor”.

Ele também comentou um traço de seus romances, em que os personagens principais são jornalistas e escritores, profissões que ele exerce ou já exerceu. “Sou preguiçoso”, brincou. “Busco personagens próximos a mim para não ter que inventar tanto. Mas há um perigo nisso, porque as pessoas acreditam que é você, até minha família pensou que era eu. Tivemos que fazer um grande almoço de desagravo com a minha família, para provar que não estava separado, por exemplo (risos). Acho importante criar personagens humanos e crio nessa proximidade comigo para que o personagem seja crível”, explicou.

A Feira se encerrou nesta domingo depois de nove dias ocupando a Praça Charles Miller, em São Paulo. Nesta segunda-feira, o PublishNews vai divulgar o balanço comercial de algumas das editoras participantes.

O jogo

Os dois jogos de futebol tiveram um nível técnico aceitável, dado o tamanho do campo e a falta de treino coletivo dos times, escolhidos pela organização (veja abaixo as escalações completas).

Eram dois tempos de vinte minutos em cada partida. No jogo masculino, entre o time branco e o time preto, o time branco dominou a posse de bola do primeiro tempo, mas, antes de abrir o placar com o jornalista Vitor Pamplona (da revista Quatro cinco um), as melhores chances tinham sido criadas pelo time preto. De branco, o jornalista Bruno Paes Manso atuou como um 10, coordenando as ações do meio campo e fazendo bons passes. O primeiro tempo terminou um a zero.

Na volta para o segundo tempo, uma reviravolta: o time preto acrescentou atletas e ficou com jogadores a mais em campo. O resultado foi uma virada, com gols de Felipe Poroger (o autor do recente Alguém sobrevive nesta história, da Todavia, fez um belo gol de falta) e do jornalista e escritor Plácido Berci, autor de Nuvem de terra (Globo Livros). Alguns minutos depois, porém, após um passe do jornalista Rodrigo Casarin (que lançou pela Arquipélago o livro de crônicas A biblioteca no fim do túnel), o editor e escritor Marcelo da Silva Antunes (do selo Borboleta Azul) chutou forte para empatar a partida, mesmo com a desvantagem númerica.

Lázaro Ramos jogou como ponta esquerda do time branco, mas o próprio ator e escritor falou antes da partida que não se podia esperar nada dele futebolisticamente – num lance bonito, misto de visão de jogo e puro acaso, matou uma bola de costas para armar um ataque para o seu time. Entre furadas, tombos aparentemente sem motivo e chuteiras voando, o jogo saiu melhor que o esperado. Outro destaque positivo, no campo do bom humor, foi o jornalista Márvio dos Anjos, goleiro do time branco que orientava seus atletas a partir da meta. No fim, o sentimento era o de esperança de que o jogo vire uma tradição d’A Feira do Livro.

© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro

© Flavio Florido / A Feira do Livro
© Flavio Florido / A Feira do Livro

Veja a escalação dos dois jogos:

MASCULINO - jogadores

Andre Whoong

Antonio Prata

Bruno Paes Manso

Caco Galhardo

Cido Bacci

Conrado Hubner Mendes

Emilio Fraia

Fábio Fávaro Igaki

Felipe Poroger

Fernando Luna

Ghayath Almadhoun

Giba Alves

Guilherme Wisnik

Lázaro Ramos

Leandro da Mata

Luis Capagnoli

Marvio dos Anjos

Mauricio Maas

Mauro Beting

Murilo Cleto

Plácido Berci

Rafael Mafei

Roberto Minczuk

Rodrigo Alvarez

Rodrigo Bueno

Rodrigo Casarin

Samuel Seibel

Tiago Ferro

Victor Feffer

Vitor Pamplona

Marcelo Antunes

Gols masculino:

Branco:

Marcelo Antunes e Vitor Pamplona

Preto:

Placido Berci e Felipe Poroger

FEMININO - jogadoras

Amanda Alves

Amanda Porfirio

Ana Christe

Ariadne Tavares

Bianca Molina

Clara Saraiva

Gabriela Almeida

Giovanna Rahhal

Gisele Pina

Giselly Corrêa

Jéssica Gomes

Jessica Soler

Julia Codo

Laura Basilio

Leide Marques

Lilly Nascimento

Luana Maluf

Marcela Dantas

Mari Pereira

Mari River

Maria Beatriz Teves

Maria Guimarães

Marina Bufon

Milla Garcia

Nathália Ferrão

Nathalie Cappelletti

Raisa Rocha

Roberta Martinelli

Sabrina Santana

Suleima Sena

Tatiana Vasconcellos

Victoria Cansian

Victoria Lima

Gols - feminino

Pelo azul:

Nathalie Cappelletti

Suleima Sena

Pelo preto:

Luana Maluf

Marcela Dantas

[22/06/2025 20:26:44]