
Nem a leve chuva que ameaçou cair na manhã de domingo atrapalhou o clima de confraternização e camaradagem dos jogos – ambos terminaram empatados.
Mais tarde, um dos jogadores – Lázaro Ramos – participou de um painel no Palco Petrobras, para divulgar o seu novo lançamento: Na nossa pele (Objetiva), espécie de continuação de Na minha pele, de 2017. No novo livro, Lázaro compartilha a história de sua mãe para falar de diversos assuntos.
“Estou arrependido de ter aceitado o convite para o jogo, porque estou com dores, mas mesmo com menos jogadores em campo conseguimos empatar”, comentou no início da mesa – no segundo tempo do jogo, o time branco, do qual ele fazia parte, de fato jogou com menos jogadores em campo.
Sobre o livro, ele detalhou o que chama de “poética do acolhimento estratégico ativo”. “Entender como as narrativas dominantes podem abrir espaços para outros caminhos faz parte do meu processo de criação”, disse. “Primeiro, destrincho uma narrativa: toco em assuntos que nos aproximam, que entendemos com facilidade, como origem, família, trabalho, uso muito humor, e, em seguida, faço uma provocação para o leitor se aproximar. Só depois falo o que realmente queria falar. Entendi que escrevo livros para o nosso tempo. Não sei se faço livros que daqui a 20 anos vão continuar atuais”, comentou. “Também não sei se é o método ideal, mas vivemos tempos áridos para o diálogo, para a conversa real”, pontuou.
Já Ronilso Pacheco estava divulgando o livro Teologia negra (Zahar), e contou como o ativismo antirracista se incorporou à sua pesquisa profissional ao longo do tempo. “Foi preciso ter contato com o teologismo negro que eu não conhecia. Muitos movimentos com o cristianismo como base tiveram papel importante na liberação de países africanos, ou no Caribe”, afirmou.
Segundo o pesquisador, uma geração anterior trouxe a teologia negra para o Brasil, mas houve uma pausa de divulgação em algum momento – o objetivo do livro foi reunir e divulgar diversas tendências para um novo público brasileiro. “Os EUA têm tradição do pensamento teológico como parte importante da luta pelos direitos civis, por exemplo, bem como durante o apartheid na África do Sul. O livro veio como uma contribuição para mostrar como o pensamento teológico serve de inspiração para lideranças. Não existe nenhuma grande revolução feita pelo povo negro que não tenha sido atravessada pela religião”, afirmou.
A mesa de encerramento do festival foi uma conversa bem humorada e sensível entre o escritor argentino Pedro Mairal e a jornalista Roberta Martinelli. “Escrever para o jornal é algo que sempre recomendo para quem quer viver de escrita”, disse o autor – ele está lançando pela Todavia o livro Fogo nos olhos, que reúne crônicas sobre amor escritas para a Folha de S. Paulo.
Questionado, ele disse não saber se existe uma “América Latina”. “Assim, dessa forma, acredito que apenas visto da Europa. Dito isso, há algo, há um calor, um trato bastante aquecido em geral. Há uma língua, e mesmo com o português há uma proximidade muito grande. Tive a sorte de contar com a tradução muito competente de Livia Deorsola, porque não se trata apenas de escolher palavras, mas há esse algo mais”, disse. Sobre o tema do livro, disse que o amor precisa ser resolvido com a linguagem. “Um trabalho de tradução como esse faz comunicar esse amor”.
Ele também comentou um traço de seus romances, em que os personagens principais são jornalistas e escritores, profissões que ele exerce ou já exerceu. “Sou preguiçoso”, brincou. “Busco personagens próximos a mim para não ter que inventar tanto. Mas há um perigo nisso, porque as pessoas acreditam que é você, até minha família pensou que era eu. Tivemos que fazer um grande almoço de desagravo com a minha família, para provar que não estava separado, por exemplo (risos). Acho importante criar personagens humanos e crio nessa proximidade comigo para que o personagem seja crível”, explicou.
A Feira se encerrou nesta domingo depois de nove dias ocupando a Praça Charles Miller, em São Paulo. Nesta segunda-feira, o PublishNews vai divulgar o balanço comercial de algumas das editoras participantes.
O jogo
Os dois jogos de futebol tiveram um nível técnico aceitável, dado o tamanho do campo e a falta de treino coletivo dos times, escolhidos pela organização (veja abaixo as escalações completas).
Eram dois tempos de vinte minutos em cada partida. No jogo masculino, entre o time branco e o time preto, o time branco dominou a posse de bola do primeiro tempo, mas, antes de abrir o placar com o jornalista Vitor Pamplona (da revista Quatro cinco um), as melhores chances tinham sido criadas pelo time preto. De branco, o jornalista Bruno Paes Manso atuou como um 10, coordenando as ações do meio campo e fazendo bons passes. O primeiro tempo terminou um a zero.
Na volta para o segundo tempo, uma reviravolta: o time preto acrescentou atletas e ficou com jogadores a mais em campo. O resultado foi uma virada, com gols de Felipe Poroger (o autor do recente Alguém sobrevive nesta história, da Todavia, fez um belo gol de falta) e do jornalista e escritor Plácido Berci, autor de Nuvem de terra (Globo Livros). Alguns minutos depois, porém, após um passe do jornalista Rodrigo Casarin (que lançou pela Arquipélago o livro de crônicas A biblioteca no fim do túnel), o editor e escritor Marcelo da Silva Antunes (do selo Borboleta Azul) chutou forte para empatar a partida, mesmo com a desvantagem númerica.
Lázaro Ramos jogou como ponta esquerda do time branco, mas o próprio ator e escritor falou antes da partida que não se podia esperar nada dele futebolisticamente – num lance bonito, misto de visão de jogo e puro acaso, matou uma bola de costas para armar um ataque para o seu time. Entre furadas, tombos aparentemente sem motivo e chuteiras voando, o jogo saiu melhor que o esperado. Outro destaque positivo, no campo do bom humor, foi o jornalista Márvio dos Anjos, goleiro do time branco que orientava seus atletas a partir da meta. No fim, o sentimento era o de esperança de que o jogo vire uma tradição d’A Feira do Livro.





Veja a escalação dos dois jogos:
MASCULINO - jogadores
Andre Whoong
Antonio Prata
Bruno Paes Manso
Caco Galhardo
Cido Bacci
Conrado Hubner Mendes
Emilio Fraia
Fábio Fávaro Igaki
Felipe Poroger
Fernando Luna
Ghayath Almadhoun
Giba Alves
Guilherme Wisnik
Lázaro Ramos
Leandro da Mata
Luis Capagnoli
Marvio dos Anjos
Mauricio Maas
Mauro Beting
Murilo Cleto
Plácido Berci
Rafael Mafei
Roberto Minczuk
Rodrigo Alvarez
Rodrigo Bueno
Rodrigo Casarin
Samuel Seibel
Tiago Ferro
Victor Feffer
Vitor Pamplona
Marcelo Antunes
Gols masculino:
Branco:
Marcelo Antunes e Vitor Pamplona
Preto:
Placido Berci e Felipe Poroger
FEMININO - jogadoras
Amanda Alves
Amanda Porfirio
Ana Christe
Ariadne Tavares
Bianca Molina
Clara Saraiva
Gabriela Almeida
Giovanna Rahhal
Gisele Pina
Giselly Corrêa
Jéssica Gomes
Jessica Soler
Julia Codo
Laura Basilio
Leide Marques
Lilly Nascimento
Luana Maluf
Marcela Dantas
Mari Pereira
Mari River
Maria Beatriz Teves
Maria Guimarães
Marina Bufon
Milla Garcia
Nathália Ferrão
Nathalie Cappelletti
Raisa Rocha
Roberta Martinelli
Sabrina Santana
Suleima Sena
Tatiana Vasconcellos
Victoria Cansian
Victoria Lima
Gols - feminino
Pelo azul:
Nathalie Cappelletti
Suleima Sena
Pelo preto:
Luana Maluf
Marcela Dantas