A primeira vez da LVB&Co. em Bolonha
PublishNews, Anna Luiza Cardoso*, 15/04/2024
Anna Luiza compartilha com os leitores do PN sua experiência na Feira Internacional do Livro de Bolonha, seus diferenciais e tendências

A Feira Internacional do Livro de Bolonha que se encerrou na última quinta (11), marca a estreia da LVB&Co. na maior feira de literatura infantojuvenil do mundo. Estreia da nova agência, diga-se, após mudança de nome que aconteceu ano passado, e do Miguel, que nunca tinha vindo nem a Bolonha, nem a essa feira. No meu caso, Anna, foi reestreia, pois vim ao evento em 2014 com Luciana e novamente em 2015, sozinha e apenas por um dia. A experiência completa de Bolonha mesmo, não tinha há dez anos. E desta vez foi - está sendo, pois ficamos aqui até o fim do mês - integral.

Eu e Miguel, que participou da feira pela primeira vez
Eu e Miguel, que participou da feira pela primeira vez
Bolonha é pulsante, como cidade e como feira. Gira em torno de comida e, principalmente nesta época do ano, mas não só, de literatura. A quantidade de livrarias relativamente ao tamanho da cidade é impressionante. E se tem um povo que sabe receber é o italiano: com despojamento, um calor impossível no norte do mundo, e o melhor acolhimento que é a mesa farta, o copo cheio e papo solto com tutti quelli che li capiscono. Quando o papo é sobre libri e sobre cibi, a coisa fica ainda melhor.

De todas as feiras a que já fui, Bolonha é de longe a mais gostosa. Não só pela cidade, que é linda e (ainda) menos turística do que a maior parte do restante da Itália, e pela comida, realmente um patrimônio nacional assim como no restante do país, mas também pela feira propriamente. Os pavilhões do espaço onde ocorre o evento são amplos, arejados e naturalmente iluminados por janelões que vão do chão ao teto em várias partes dos halls em que ficam os estandes das editoras, ligados por pátios, internos e externos, alguns com bancos e plantas, outros com mesas, cadeiras e foodtrucks, onde se pode sentar, pegar um ar e um sol, descansar, bater um papo, almoçar.

Por falar em almoço, nesse quesito feira alguma se compara. Frankfurt é péssima, Londres, terrível, ambas caríssimas. Em Bolonha tem lasanha, arancino, calzone, bar de mortadela, suco de laranja rossa fresco, gelato, barraca de pasticceria e presunto de parma de recheio de tudo e qualquer coisa. Um sonho. Em italiano e muito mais barato. Isso sem falar nos jantares pós-evento (os aperitivos passamos, por razões de cansaço ou palestra), e nas festas pós jantares, em nada módicos palazzos do século XIV, sustentados por colunas dóricas originais e revestidos por belíssimos mosaicos de mármore e granilite, e mais antigos até que o prédio principal da Universidade de Bolonha, esta a primeira do Ocidente, fundada em 1088, mas cuja sede, o Palazzo dell’Archiginnasio, só foi construída em 1563.

Por ser voltada à literatura infantojuvenil, a feira de Bolonha é também mais lúdica que as outras, literalmente ilustrada. As atenções são igualmente divididas entre autores e ilustradores, e passear por seus corredores é um deleite. Muito interessante também ver de perto o que se está publicando para pequenos e jovens leitores ao redor do mundo, e impressas as muitas jóias literárias que até então só tínhamos visto em PDF. Não é a mesma coisa. Livros ilustrados podem ser verdadeiras obras de arte plástica, e a literatura infantil se beneficia demais da possibilidade de ver e tocar os livros.

Eu e Miguel no 'Caipirinha Hour', no estande do Brasil
Eu e Miguel no 'Caipirinha Hour', no estande do Brasil
Com relação a observar e identificar tendências, algo que faço - acho que fazemos todos, em todas as feiras - fiquei com a impressão de que Bolonha é menos pasteurizada. Apesar de haver temas claramente em destaque - muita coisa interessante sobre educação financeira com viés social, sobre guerras e seus efeitos nefastos, sobre valorização das diferenças e o olhar para o outro -, senti o leque de assuntos e abordagens muito mais amplo e variado do que de costume em outras feiras. Mas não sei ainda se procede mesmo ou se foi apenas uma impressão pontual sobre uma amostra restrita e isolada do evento. Veremos.

A forte presença brasileira também foi notável este ano, com mais de 40 editoras expondo em estandes coletivos ou individuais, com a participação de editores de praticamente todas as casas editoriais brasileiras. Agentes, éramos poucos, apenas nós e a querida Mia Roman, a quem deixamos aqui um agradecimento especial pela mesa emprestada para algumas reuniões e várias recargas no celular. Providencial!

Como sempre em todas as feiras, o happy hour do estande do Brasil foi concorridíssimo, com seu já tradicional open bar de caipirinhas e música brasileira ao vivo. Ponto de encontro certeiro dos amigos e colegas conterrâneos, e também dos amigos e colegas estrangeiros bastante conscientes de que por melhores que sejam os italianos, quem sabe mesmo fazer festa é brasileiro. Mas como bons brasileiros na Itália, celebramos também nossa cultura com prazer e orgulho, e saímos de lá com nossos amigos e clientes Vito di Battista e Marco Nardiny, da agência bolonhesa Otago, diretamente para uma antica trattoria italiana, pois afinal é de pasta e vino que se vive aqui.


* Anna Luiza Cardoso é agente literária e sócia da LVB&Co Agência Literária. Com 12 anos de experiência no mercado editorial, é especializada na representação de autores brasileiros para o Brasil, exterior e audiovisual, mas também atua como coagente de diversas editoras e agências estrangeiras.

[15/04/2024 09:40:00]