A saga de uma família
PublishNews, Redação, 17/07/2023
No novo romance de Aurora Venturini, o leitor acompanha a personagem Chela, uma jovem superdotada, porém desprovida de qualquer senso de sociabilidade, e sua família

Como se fosse um espelho invertido de As primas, obra que consagrou Aurora Venturini, o romance Nós, os Caserta (Fósforo, 192 pp, R$ 69,90 – Trad.: Mariana Sanchez) mostra outra protagonista extraordinária. María Micaela Stradolini, vulgo Chela, é uma jovem superdotada, porém desprovida de qualquer senso de sociabilidade, que apresenta ao leitor sua família, parte da alta burguesia argentina dos anos 1920. Com um estilo verborrágico que revela tanto excesso de vocabulário quanto carência de autopercepção, Chela oferece um retrato involuntário e constrangedoramente fiel do ambiente que a circunda. Por trás dessa narrativa escandalosa está a mente de Venturini, cronista mordaz dos costumes de seu país e da natureza humana. A mãe de Chela é uma pianista cujo fracasso na arte desperta o zelo desmedido por uma coleção de bibelôs. O pai é tão rigoroso que a filha chega a urinar quando o encontra. A delicada irmã mais nova, Lulita, é a preferida dos progenitores, mas motivo de escárnio constante por parte da narradora. Diferente do irmão caçula, portador de deficiência e quase abortado por indicação médica. Numa espécie de paródia, as viagens de Chela em busca de suas origens escancaram a mais clássica discrepância: a filiação nobre e a erudição estão imbricadas ao que há de mais sombrio no mundo — fascismo, racismo e classismo.

Tags: Fósforo, romance
[17/07/2023 07:00:00]