Utopia do horizonte chamada Amor
PublishNews, Redação, 16/012023
Os 15 contos de ‘Coisa Amor’ se desenvolvem convidando — ou, mais exatamente, compelindo — o leitor a encarar perguntas sobre seu próprio ser

Onde começa e a que se conforma a experiência do que é propriamente humano? O que, aquém disso, toca o puro instinto, confina com a pura Coisa? O que, para além, aponta na direção dessa utopia de horizonte que é o Amor? É na estreita e ao mesmo tempo vasta rachadura entre esses dois continentes que os 15 contos de Coisa Amor (Urutau, 152 pp, R$ 50), de Pedro Jucá, se desenvolvem, convidando — ou, mais exatamente, compelindo — o leitor a, fundindo e dissolvendo a distância entre esses domínios, revisitar a própria idiossincrasia, espelhando-a na memória, na infância, no sexo e no desejo, na solidão, nas relações entre pais e filhos, na loucura, no inconsciente, na crueldade e na arte — em tudo, enfim, que é universal à nossa condição. Os contos, que intercalam formas breves e longas, são elaborados com variedade de estrutura e estilo. E as histórias podem ser duras. Existem no livro, contudo, pontos de descanso e de amparo, em que o autor nos lembra de que, apesar de implacável, a vida ainda nos permite encontrar beleza, laço e doçura. Ao final, as perguntas do início não só não encontram respostas, mas também se veem, em portentoso amálgama, acumuladas a uma infinidade de outras interrogações que precisamos nos impor conforme avancemos na leitura. Não há nisso, contudo, desalento algum: é munido dessas questões que, com grata surpresa, o leitor se descobre um pouco mais próximo do núcleo duro e inefável do que o faz humano.

[16/01/2023 07:00:00]