Tentando se encaixar
PublishNews, Redação, 1º/09/2020
Ímã Editorial publica livro de 1920 redescoberto nos anos 2000 como um marco literário e lido como referência do 'colorismo racial'

Clare está “passando-se”: leva a vida de uma branca, embora seja, na dicotomia racial norte-americana, uma negra. Com a pele clara, linda e ambiciosa, casou-se por interesse com um rico homem branco, racista, que não sabe da origem afro-americana da esposa. Sua amiga de infância, Irene, também negra de pele clara, escolheu permanecer na sociedade negra e é casada com um médico, também negro, que sonha em mudar-se para o Brasil (que, ele acredita, seria uma democracia social). Irene sente ao mesmo tempo repulsa e fascínio por Clare, por sua beleza e ousadia de “passar-se” por branca. Quando, por intermédio de Irene, Clare se aproxima da festiva elite intelectual do Harlem e quer resgatar sua identidade negra, a tensão, racial e sexual, entre elas vai crescendo até o fatídico final. Redescoberto nos anos 2000 como um marco literário e lido como referência do “colorismo racial”, Passando-se (Ímã Editorial, 194 pp, R$ 42 - Trad.: Julio Silveira) foi relegado ao ostracismo, assim como o foi sua autora, Nella Larsen, uma das maiores escritoras do século 20 e que, assim como Clare, passou a vida tentando se encaixar (e sendo rejeitada) nos dois lados da sociedade norte-americana racialmente dicotômica.

[01/09/2020 07:00:00]