Os dois lados da Europa
PublishNews, Redação, 29/10/2009
Autor trata em livro da convivência do humanismo com a intolerância religiosa

O ano é 1553. Da cidade italiana de Ancona, o jovem Benjamin e seu tutor, o médico e anatomista português Amatus Lusitanus (1511-1568) – ambos judeus portugueses convertidos ao cristianismo por força da Santa Inquisição –, são convocados a Roma pelo artista Michelangelo Buonarroti (1475-1564) para um encontro secreto. Na capital da Igreja Católica, ambos são envolvidos em uma trama que levará Benjamin à França, ao Sacro Imperio Romano-Germânico e à atual Suíça, passando pelo ambiente de efervescência intelectual da Sorbonne e do Collége Royal, em Paris, e do Gymnasium, em Estrasburgo, e pelo regime rigoroso da Genebra governada por João Calvino (1509-1564), em busca de uma informação que pode alterar a história da medicina. Resgatando a tradição do romance histórico, Pedro Puech mescla em O unitário - A história de um médico perseguido pela Inquisição (Rocco, 240 pp., R$ 32) personagens fictícios e históricos como Calvino, Michelangelo e o próprio Lusitanus, reconstituindo o ambiente acadêmico e político da Europa do século XVI.

Neste cenário, um confuso Benjamin correrá riscos constantes e viverá uma jornada de medo, mas também de conhecimento, durante a qual irá se deparar com a vaidade levada a extremos por figuras como o médico do papa Julio III, Realdo Colombo (1516-1559); com a intransigência e firmeza de convicções na pessoa de Michel Servet (1511-1553), um cristão fervoroso que rejeitava a Santíssima Trindade, crendo em Deus como uma só entidade, motivo pelo qual era chamado – como outros – de “unitário”; e verá de novo a face da intolerância, assistindo a processo religioso semelhante ao que levou seu pai a arder na fogueira da Inquisição por se recusar a abandonar sua religião em favor do cristianismo, em Portugal. Puech retrata em seu livro os dois lados da Europa renascentista, onde o humanismo e revoluções artísticas e científicas conviveram com a intolerância religiosa e regimes totalitários, tanto seculares quanto teocráticos.
[29/10/2009 01:00:00]