'O avesso da pele' continua a ser alvo de ataques e tentativas de censura
PublishNews, Redação, 06/03/2024
Depois do caso no Rio Grande do Sul, Núcleo Regional de Educação de Curitiba decidiu recolher os exemplares da obra das escolas públicas

Jeferson Tenório | © Carlos Macedo
Jeferson Tenório | © Carlos Macedo
Vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, o aclamado O avesso da pele (Companhia das Letras), do escritor, professor e doutor Jeferson Tenório, ganhou as manchetes dos jornais ao ser alvo de tentativas de censura no Rio Grande do Sul e no Paraná.

Desde o final de semana, o assunto vem ganhando repercussão nas redes sociais e apoio de diversos autores e profissionais do livro.

A diretora de uma escola no município de Santa Cruz do Sul (RS) fez um vídeo criticando o vocabulário "de baixo calão" da obra e um funcionário da 6ª Coordenadoria Regional de Educação chegou a mandar que os exemplares do livro fossem recolhidos das escolas. A Secretaria de Educação do estado posteriormente negou o recolhimento das obras.

Além do caso no Rio Grande do Sul, o Núcleo Regional de Educação de Curitiba mandou recolher os exemplares da obra das escolas públicas. O requerimento foi assinado pela chefe do Núcleo, Laura Patrícia Lopes.

A ordem é para que todos “os colégios sob a jurisdição do NRE de Curitiba realizem a entrega de O avesso da pele até o dia 8 de março de 2024". O ofício alega “a necessidade e a importância da orientação para a realização de encaminhamentos pedagógicos a partir dos livros que fazem parte do Programa PNLD literário, com foco na construção das aprendizagens em cada uma das etapas de escolarização”, porém só a obra de Tenório é alvo do pedido.

Em nota, a Companhia das Letras disse que “ao decidir pelo recolhimento dos livros, a Secretaria de Educação não apenas limita o acesso à informação, mas também mina a autonomia dos educadores e das escolas prevista no PNLD e na legislação educacional. Ela também cerceia a liberdade de pensamento, o direito à educação e à literatura dos jovens”.

Já Tenório lembrou que a obra já foi adotada em centenas de escolas pelo Brasil, venceu o prêmio Jabuti, foi finalistas de outros prêmios, teve direitos de publicação vendidos para mais de 10 países e foi adaptada para o teatro. Além de ser avaliada pelo PNLD em 2021, ainda no governo Bolsonaro. “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de "baixo calão" e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”.

"É importante lembrar que nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação", frisou Jeferson em uma rede social.

Confira a repercussão da notícia:

Em 2022, Tenório também veio a público denunciar as ameaças de morte que sofreu após o anúncio de uma palestra em uma escola na Bahia.

"O que aconteceu comigo na Bahia e que tem acontecido sistematicamente é reflexo também dessa ansiedade do Ocidente. É reflexo desse medo de perder o privilégio...", disse no Podcast do PublishNews. "Acho que faz sentido a gente dizer que o Brasil prefere ser racista do que ser capitalista", complementa.

Ouça o episódio inteiro:

[06/03/2024 10:00:00]