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O mercado editorial na Alemanha
PublishNews, 01/07/2013
O mercado editorial na Alemanha

Por Holger Heimann


Só as farmácias conseguem ser mais rápidas, porque providenciam remédios em apenas algumas horas. Mas, na Alemanha, quem quer fortalecer o espírito e a imaginação e não encontra o que procura numa livraria espera no máximo dois dias. Graças à logística eficiente dos grandes livreiros como Koch, Neff e Volckman (KNV) e Libri, que possuem em seus estoques centrais a maioria dos livros atuais e mais procurados, as livrarias são abastecidas da noite para o dia. Mesmo nos tempos da nova mídia, ler livros está no topo das atividades de lazer preferidas dos alemães. Além disso, a rede de livrarias na Alemanha mantém um vínculo muito estreito, difícil de se ver em outros países. Isto se dá, entre outros motivos, graças à fixação dos preços dos livros, que determina o mesmo preço para todos os locais de venda. Há 3.500 livrarias no país para uma população de 82 milhões de habitantes. Ainda hoje toda cidadezinha possui a sua livraria. Muitas vezes, além de ser um lugar onde se vendem livros, ela é o centro cultural da cidade, lugar para sarau de poetas e outras atividades literárias. Não foi à toa que o escritor Hans Magnus Enzensberger intitulou estes locais de “postos de abastecimento do espírito”.

No entanto esta imagem está mudando. Cada vez mais as pequenas livrarias se rendem, por não gerarem mais lucro, sem falar na renda irrisória de seus administradores. Primeiro, foi a expansão das grandes redes, principalmente da Thalia e Hugendubel, e suas estratégias repressoras. Agora é a vez da ascensão do comércio livreiro virtual, com a Amazon e o aumento das vendas de e-books, do qual as lojas físicas praticamente não aproveitam, já que são negociadas diretamente com plataformas virtuais. Em 2011, pela primeira vez o resultado no comércio livreiro físico representou menos de 50% do resultado total do setor de € 9,6 bilhões. O volume de € 4,7 bilhões corresponde a uma queda de 3% em relação ao ano anterior. E algumas previsões são bastante sombrias: até 2015 o resultado no comércio livreiro físico deve cair cerca de 16%, opinam os especialistas. Quase um a cada cinco livreiros acreditam que a queda chegará a 20%, devido à importância cada vez maior do livro eletrônico. Nas vendas do Natal passado, o e-reader, principalmente o Kindle da Amazon, foi um dos presentes preferidos.

A Amazon, empresa ativa no mercado alemão desde 1998, também tem a agradecer o sucesso de seus leitores digitais o fato dela estar crescendo de maneira vertiginosa e constante. O resultado da Amazon Alemanha no setor livreiro foi de € 1,6 bilhões (de um resultado total de € 6,5 bilhões). Isto equivale a 74% de todo o comércio livreiro eletrônico, que representa aproximadamente um quarto do total do comércio livreiro. Com este avanço, a Amazon deixou para trás as maiores redes de livrarias, que após anos de expansão, tiveram que ir fechando cada vez mais filiais, por causa de perdas drásticas na receita.

Thalia, com um resultado de € 984 milhões, ficou abaixo da marca de € 1 bilhão. Esta rede do comércio livreiro pertence ao grupo Douglas, cujo setor mais rentável é o da perfumaria. Na posição abaixo, ocupando o terceiro lugar e mantendo-se bem, temos a DeutschBuchHandelsGmbH (DBH), uma fusão entre os atacadistas de livros Hugendubel e Weltbild, com receita no montante de € 695 milhões.

Com promoções permutáveis em espaços de venda enormes, as grandes redes foram se dirigindo para um beco sem saída. A crítica à política dos gigantes tornou-se cada vez mais veemente. “Estou certa que o aumento de filiais, que tanto a Thalia quanto a Hugendubel impulsionaram, levou a um nivelamento do comércio livreiro individual, deixando os clientes de hoje entediados. É compreensível que eles prefiram se afastar dos espaços padronizados, pois tem mais chance de encontrar produtos interessantes pela Internet”, diz Julia Claren. A gerente da Dussmann, Shopping da Cultura, mostra que é possível fazer diferente. O templo da cultura, com uma gama imensa de livros, CDs e DVDs espalhados num prédio de 5 andares no centro de Berlim, é prova viva que grandes espaços também podem ser rentáveis. No entanto o conceito da Dussmann se distancia daquele das redes livreiras, focadas em livros bestsellers; o seu se assemelha mais ao das livrarias administradas por proprietários, que investem em um atendimento competente e em um sortimento selecionado e de qualidade. “Estas são nossas pequenas irmãs”, afirma Claren.

Em Berlim estas são tão numerosas como em nenhum outro lugar; a densidade do comércio livreiro na cidade também é a maior do país. O que não surpreende, para uma cidade de 3,5 milhões de habitantes, a mais populosa da Alemanha. Por outro lado, aqui há um outro crescimento notável: ao contrário da tendência geral, o número de livrarias na capital aumenta: são mais de 300 atualmente. Ao empreendedor corajoso, o momento atual parece favorável para concretizar um negócio no setor livreiro, que não seja meramente voltado para as massas, mas que dê ênfase no especial, acima do trivial.

Provavelmente a iniciativa mais ambiciosa das recém-inauguradas é a livraria Ocelot, na capital, cujo proprietário Frithjof Klepp quer unir os mundos Online e Offline. Pelo wi-fi seus clientes não só podem como devem baixar os e-books. Mas por ora eles continuam indo às lojas, principalmente por causa da seleção primorosa de belos livros, para os quais Klepp reserva sempre um lugar de honra. “Estou certo que, mesmo nos tempos atuais, as pessoas querem ter contato com outras pessoas. Quer dizer que o cliente vai lá, onde ele se sente bem, onde espera encontrar um atendimento competente”, diz Klepp com confiança.

Deve ter sido graças ao otimismo e a dedicação destes empreendedores que Gottfried Honnefelder, Diretor da Associação da Bolsa do Comércio Livreiro Alemão, declarou: “É possível que agora seja a hora e vez do comércio livreiro independente”. Se e como o comércio livreiro tradicional poderá usufruir dos negócios com o e-book ainda é uma icógnita, mesmo contando com livreiros inovadores como Klepp. As previsões divergem tanto quanto o temperamento dos livreiros. Talvez Julia Claren tenha razão, ao afirmar que “sentimos uma certa ansiedade no momento, devido às transformações fundamentais. Todos nós do setor só temos a ganhar, reconhecendo que as empresas bem-sucedidas sempre se orientaram e ficaram bem atentas às necessidades dos clientes, para depois agir de maneira criativa. Quando a pressão aumenta, aparecem força e energia e se olha para frente.“

Holger Heimann trabalhou muitos anos como redator do Börsenblatt, a revista mais importante do setor editorial alemão. Hoje é jornalista independente em Berlim e trabalha, entre outros, para a Welt, a Rádio Alemanha e ainda para a Börsenblatt.

Texto traduzido por Christina Wolfensberger

O negócio do livro na Alemanha vai bem – e é muito produtivo: cerca de 80 mil novos títulos são publicados todo ano, e as vendas geram um faturamento anual de 9,52 bilhões de euros. Mas quem são os atores no cenário do livro e do mercado editorial na Alemanha? Quais regras específicas se aplicam ao mercado alemão – do preço do livro ao Börsenverein? Em virtude da participação da Alemanha em 2013 como país convidado de honra na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, e do Brasil como país convidado de honra na Feira do Livro de Frankfurt no mesmo ano, a Feira de Frankfurt preparou uma série de artigos sobre o mercado editorial na Alemanha.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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