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Tá “craude” na prateleira
PublishNews, 14/06/2012
Tá “craude” na prateleira

Para se destacar da multidão, autores estão usando o poder das massas

A internet, com as ferramentas de publicação digital, resolveu (ou promete resolver) muitos dos problemas enfrentados por quem escreve. Primeiro, ela “furou” o bloqueio das editoras, permitindo a qualquer um publicar e distribuir um livro, não requerendo prática ou habilidade, por meio de um variado cardápio de autopublicação (Amazon, Smashwords, Lulu, Per Se etc). Segundo, ela proveu um serviço muito mais eficiente e muito mais barato do que a divulgação tradicional (propaganda e publicidade): as redes sociais. O problema que ela não resolveu — e que talvez tenha justamente agravado – é o da visibilidade. “A obscuridade é a maior ameaça aos autores e aos criadores”, disse Tim O’Reilly, diretor da editora que leva seu sobrenome, na vanguarda dos recursos digitais na publicação.

“Mais de 100 mil livros são publicados a cada ano [só nos EUA], com milhões de exemplares impressos, porém menos de 10 mil entre esses novos livros terão alguma venda significativa, e somente uns 100 mil livros impressos chegarão a uma livraria. […] O autor acha que conseguir ser publicado é a realização de um sonho, mas, para tantos, é só o começo de uma longa decepção.

Como não descobriram a fórmula para o “boca a boca”, a obscuridade continuará a ser um problema sem resposta. Mas uma ferramenta criada para atender outra necessidade está conseguindo “desobscurecer” alguns livros e autores: o crowdfunding. Basicamente, a “verba da multidão” é um sistema pelo qual se vendem cotas de um produto que ainda não foi lançado, em troca de “recompensas” que vão desde um “obrigado” até um jantar íntimo com o criador. É um esforço coletivo e social, conectando diretamente quem cria a quem consome a criação. Sites de Crowdfunding, como Kickstarter e, no Brasil, o Catarse, já vêm viabilizando livros, como este (que eu apoio e para o qual, a propósito, peço seu apoio). O sistema já se sofisticou a ponto de existirem sites para levantar fundos exclusivamente para livros, como o Unbound, e ainda mais específicos, como o Crowdbooks, voltado a livros de fotografia. (Ou ainda o idealista Unglue, que quer levantar dinheiro para “alforriar” livros já publicados, isto é, pagar aos autores para trocar o copyright por licenças Creative Commons não comerciais).

O que os escritores mais espertos já notaram é que o Crowdfunding vai muito além do papel de financiador. O que se obtém ao fim de uma campanha é visibilidade. O processo de “viabilizar” o livro através de contribuições é semelhante a uma guerra de trincheiras. O autor vai alastrando seu projeto por sua rede de amigos virtuais, e daí para os amigos dos amigos, recorrendo a todas as armas da mídia social para engajar “apoiadores”. Quem compra um produto que corre o risco de não chegar a existir (se não atingir o valor mínimo) sente-se ainda mais compelido a promovê-lo em sua própria rede social. O processo é rizomático e o efeito é exponencial. Antes mesmo de o livro ser lançado, o público já ouviu falar (bem) dele.

O sistema não é muito diferente da antiga prática de assinatura, onde as editoras coletavam assinantes que pré-compravam uma obra, viabilizando sua impressão — e criando expectativa no público leitor. Foi assim, por exemplo, que Ulisses de Joyce foi editado. (Quando a livreira Sylvia Beach mandou um folheto de pré-venda para Bernard Shaw, recebeu uma resposta desaforada: “se você acha que um velho irlandês gastaria 150 francos em um livro, você não conhece meus compatriotas”. Joyce, deliciado, mandou imprimir a resposta, mas acrescentou: “se você acha que um velho irlandês não gastou — anonimamente — 150 francos em um livro, você não conhece meus compatriotas”).

Fora do Crowdfunding, alguns serviços prometem aquele empurrãozinho que falta para o escritor tirar seu romance da gaveta, por meio da vitrine da comunidade leitora. É o caso do Wattpad, que se autointitula o “YouTube da escrita” e que captou este mês US$ 17 milhões com investidores. Seu único serviço oferecido é a possibilidade de colocar a obra à vista de leitores virtuais. Uma série de estímulos, como concursos, medalhas e resenhas em vídeo, é empregada para mobilizar a comunidade, e estatísticas de leitura fazem a alegria do escritor compulsivo obsessivo.

Contudo, sites como o Wattpad não permitem ainda ao escritor social a efetiva publicação de seu futuro best-seller. Esse hiato entre escrever socialmente e publicar talvez seja preenchido em breve pela Kobo. A loja de e-books que corre, com agilidade, por fora do confronto titânico Amazon e Apple, está para lançar uma plataforma de autopublicação, que promete não ser “só mais uma”. A ideia é “fazer da escrita um jogo”, e imbricar todo o processo de escrita, publicação e divulgação com as redes sociais, dando visibilidade e aumentando um pouco as chances de o livro não mofar nas estantes digitais.

Alguém precisa criar logo um site que integre exposição, financiamento e publicação, onde o escritor entre com o manuscrito — ou só uma ideia! — e saia com um livro bem divulgado e já rendendo — tudo por meio do crowdfunding. Aliás, acho que eu mesmo vou fazer esse site. E abrir um crowdfunding para custear o desenvolvimento. Quem aí quer uma cota?

Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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