A vitalidade e a efervescência do mundo do livro impresso é a sensação mais intensa que fica aos visitantes e expositores na Festa do Livro da USP, organizada anualmente pela Edusp e realizada entre 14 e 16 de dezembro passado na Escola Politécnica na Universidade de São Paulo.
É sempre surpreendente passear por essa festa e “descobrir” dezenas de editoras (inclusive as universitárias) e milhares de títulos cuja circulação e visibilidade têm sido limitada pela circulação cada vez mais restrita dos livros e diante do baixo número de livrarias e outros pontos de venda no país. Eventos como esse permitem ampliar em muito o espaço de circulação e o acesso das obras e é notável como cada livro, não importa o tema, encontra seu leitor e vice-versa, experiência cuja extensão e amplitude só é possível em celebrações como essa.
A Festa do Livro da USP, em sua 13ª edição, idealizada e dirigida pelo editor e professor Plínio Martins Filho, tem como um dos seus critérios que as editoras (foram 143 este ano) devem oferecer todo o seu catálogo – e não apenas pontas de estoque – e vender os títulos com pelo menos 50% de desconto, o que torna os livros mais acessíveis. Além disso, cumprindo uma função social e acadêmica, cada editora deve doar exemplares de seu catálogo para a biblioteca da unidade que sedia o evento.
Um dos destaques este ano foi a transferência para a Escola Politécnica, onde a feira se dividiu em três edifícios com amplo espaço de circulação. Com isso, a Poli – que em 2013 completa 130 anos de fundação e é uma das duas unidades mais antigas da USP (incorporada desde 1934, a outra é a Faculdade de Direito) – consolida duas dimensões distintas e interessantes. Primeiro, indica que o mundo do livro e da cultura humanística é afeito à engenharia, à tecnologia e às ciências exatas tanto quanto às humanidades e à FFLCH (onde a feira havia sido realizada até este ano). E, nesse sentido, é significativo ver uma feira editorial dessa magnitude em edifícios onde funcionam cursos como Engenharia Civil, Engenharia Mecânica ou Engenharia Naval – e os politécnicos não cansam de dar passos interessantes rumo à interdisciplinaridade com as ciências humanas, integrando o arquipélago de unidades da USP.
Segundo, a Poli não apenas dispõe de uma rede de bibliotecas superestruturada e confortável aos pesquisadores e consulentes, incluindo uma biblioteca central com manuais e coleções de revistas centenárias, como mantém um arquivo histórico exemplarmente organizado. O acervo da biblioteca central e o arquivo estão repletos de preciosidades aos pesquisadores. Ou seja, ganhou a Festa do Livro uma nova casa onde já estão alguns dos mais antigos acervos de livros da USP e uma tradição de 130 anos de respeito ao livro. E ganha a Escola Politécnica ao abrir-se e expor-se a um evento dessa magnitude cultural.
Realizar a Feira do Livro em uma Escola de Engenharia neste momento em que tanto se fala do livro digital (que representa menos de 0,5% do mercado no Brasil) tem ainda o efeito suplementar de valorizar o livro impresso não como um fetiche nostálgico, mas como a serena reiteração de uma tremenda invenção tecnológica que tem sido há séculos o suporte e meio de difusão central da ciência e da cultura em parcelas significativas do mundo.
Algumas projeções já arriscam afirmar em que data o livro digital ultrapassará, pelo menos no mercado norte-americano, o livro impresso, em unidades vendidas. Na Europa e no Brasil esse é um processo tremendamente mais lento, mas também irreversível para muitas das áreas do conhecimento e gêneros de conteúdo. Confesso, no entanto, que muitas vezes é exasperante constatar como as conversas sobre a “transição tecnológica” são dominadas apenas pela discussão do modelo de negócios e não pelas imensas – e ainda desconhecidas – possibilidades de produção, circulação e consumo abertas com o livro digital; felizmente a Biblioteca Nacional tem iniciado uma série de discussões e iniciativas a respeito.
Não deixa de ser sintomático que os dois livros mais vendidos neste momento – e, nas últimas semanas, na lista do PublishNews –, a biografia de Steve Jobs e o romance de Jô Soares (ambos da Companhia das Letras), sejam relativos a personagens (biografado e autor) do mundo do entretenimento, da televisão, da tecnologia e do computador. Sem ser óbvio demais, é um indicador da força referencial do livro (também impresso) no universo dos meios de comunicação e da fronteira tecnológica.
Desejo a todos que em 2012 nossas vidas sejam páginas abertas, impressas e em branco, esperando novas histórias, novos encontros, solidariedades, amizades, amores, emoções e leituras.
Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.
Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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