Faturamento do setor editorial cai 40% em termos reais desde 2006
PublishNews, Guilherme Sobota, 15/06/2023
Série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro também apontou queda de 3% no faturamento de 2022 em relação a 2021

Evolução do faturamento real do setor editorial desde 2006 | © Snel, CBL e Nielsen
Evolução do faturamento real do setor editorial desde 2006 | © Snel, CBL e Nielsen
A série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – divulgada nesta quinta-feira (15) – aponta que o setor editorial brasileiro teve uma diminuição de 40% no faturamento real nas vendas ao mercado desde o início da série, em 2006. Também foi constatada uma queda de 3% no faturamento de 2022 em relação a 2021, considerando vendas ao mercado – o faturamento total dessa modalidade é de cerca de R$ 4,1 bilhões. Em 2021, a taxa de crescimento real havia sido de 2,5%.

Já a Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, com números desde 2019, teve neste ano sua primeira série histórica. Ela apontou um crescimento real de 95% em quatro anos, num mercado que em 2022 equivalia a R$ 224 milhões.

As Pesquisas são coordenadas pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData.

Produção e Vendas

Em nota, o presidente do SNEL, Dante Cid, afirmou que o setor esperava que o cenário econômico já estivesse mais favorável no ano passado. “Nós começamos 2022 empolgados principalmente com a recuperação dos Didáticos na volta às aulas presenciais e isso levantou os números no primeiro semestre. No entanto, mesmo com certo distanciamento, a pandemia ainda pesou muito nos resultados. Em seguida veio a elevação da inflação e a perda do poder de compra do consumidor, que deixou o resultado parecido com a inflação”, detalha. “Os resultados mostrados pela série histórica reafirmam que o vigor do mercado continua acompanhando o cenário macroeconômico do Brasil”, destaca.

Para a presidente da CBL, Sevani Matos, também em nota, a pesquisa mostra a retração do mercado editorial nos últimos 17 anos, refletindo a queda da base de leitores no Brasil, como demonstrou a pesquisa Retratos da Leitura lançada em 2020. “É muito difícil esperar um mercado saudável e pujante em um país que perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores. Observamos que esse resultado é reflexo da falta de políticas públicas e de ações para a formação de leitores no país. Iniciativas de incentivo à leitura são essenciais tanto para o fortalecimento do mercado, como para o crescimento do nosso país”, afirma.

A série histórica também analisa o desenvolvimento dos subsetores.

Mesmo com o primeiro crescimento real em sete anos, o subsetor de Didáticos segue no patamar mais baixo em 17 anos nas vendas ao mercado, que representam cerca de 50% do faturamento.

As vendas ao mercado do subsetor de Obras Gerais em 2022 tiveram desempenho em termos reais próximo de zero, empatando com a inflação – somando as vendas ao governo, a queda no faturamento é de 5% em relação a 2021. Nos últimos quatro anos a taxa de crescimento real foi de 2% e, segundo os organizadores da pesquisa, este desempenho foi alcançado com base na recuperação do preço. Apesar do crescimento real, o subsetor alcança patamar semelhante ao de 2015, ainda distante dos patamares do início da última década e mais distante ainda dos patamares registrados no início da série – queda real de 38% desde 2006.

O subsetor de Religiosos segue com desempenho semelhante ao registrado em 2018, com base também no aumento de preços.

CTP teve em 2022 o pior desempenho dentre os subsetores desde o início da crise econômica, alcançando o patamar mais baixo em 17 anos, com uma queda de 26% em termos reais desde o início da pandemia.

Desde o início da série, o faturamento do subsetor encolheu mais de 50%. O preço dos livros também acumula perda de 25% em termos reais, em comparação com o período anterior à pandemia.

“Nos últimos anos o setor tem procurado recuperar as perdas através do aumento do preço nominal do livro. Contudo, ao deflacionar os dados nota-se que esse movimento não é suficiente e que o setor permanece sufocado. Isso é preocupante por duas razões: a primeira é que há um teto, um limite para esse aumento de preço, o que pode agravar a situação no futuro; a segunda é que não há grandes perspectivas de que possa existir um aumento no número de exemplares vendidos capaz de alavancar essa recuperação, seja pela restrição da renda das famílias ou pelo baixo número de leitores no país. Lembrando que o número de exemplares vendidos pelas editoras ao mercado sofreu redução de cerca de 30% desde o início da crise econômica,” explica Mariana Bueno, economista da Nielsen BookData responsável pela pesquisa, em nota.

Variação do preço médio do livro nas vendas ao mercado | © SNEL, CBL e Nielsen
Variação do preço médio do livro nas vendas ao mercado | © SNEL, CBL e Nielsen

Conteúdo digital

Entre o conteúdo digital, somando as categorias À La Carte (vendas de unidades) e Outras Categorias (que incluem, por exemplo, modelos de assinaturas), o crescimento real no faturamento das vendas das editoras foi de 95% nos últimos quatro anos. Em 2022, os produtos digitais corresponderam a 6% do faturamento das editoras em termos reais.

Desempenho real do conteúdo digital no faturamento das editoras | © SNEL, CBL e Nielsen
Desempenho real do conteúdo digital no faturamento das editoras | © SNEL, CBL e Nielsen
[15/06/2023 11:10:00]