
“Toda livraria que fecha tem suas razões particulares: pode ser o aumento do aluguel ou problemas de fluxo de caixa, mas é ignorância achar que são problemas isolados. Temos um problema sistêmico e não casos isolados e é ignorância também achar que esse movimento é novo. Há mais de 30 anos vemos isso. Vivemos uma situação de completo abandono”, disse ao PublishNews. “Livrarias estão deixando de existir. Eu sou a última de mais de uma dezena de livrarias de rua na Lapa [bairro da Zona Oeste de São Paulo]. O acesso do cidadão ao livro está ficando cada vez mais escasso”, completou.
Afonso bate na tecla da dificuldade de varejistas independentes na lida com editoras. Vendas diretas em escolas de livros didáticos, por exemplo, é um grande mal, na opinião do presidente da ANL. “Há 30 anos, o discurso das editoras é que elas precisam sobreviver e por isso fazem as vendas diretas. Isso parece papo de traficante. O que não percebem é que, com isso, está deixando o mercado pouco saudável”, desabafou.
“Quando se fala de livros, há uma ignorância generalizada que faz muito mal ao país. É muito comum ouvir pessoas ligadas ao livro defender que o livro é caro e que é preciso fazer um programa para fazer o livro custando muito pouco ou de graça. Muita gente transita entre dois lados: ou é o neoliberal, que prega a livre concorrência, mas adora fechar contratos com o governo, ou é o outro oposto que é ‘vamos dar livros de graça’, como se o simples fato de ter o livro ao lado garantiria a conquista da cidadania. Hoje o Brasil é um dos maiores compradores de livros do mundo e essa política que está em vigência há mais de dez anos se mostrou pouco eficiente. Basta observar que 38% dos que têm diploma na mão não têm a capacidade de interpretar um texto”, defendeu.