Fecha: presidente da ANL anuncia fechamento de sua livraria
PublishNews, Leonardo Neto, 11/02/2016
Afonso Martin disse ao PublishNews que sua livraria, a Sampabooks, funciona até o fim de fevereiro

Fachada da SampaBooks, livraria de Afonso Martin, que encerra suas atividades no fim desse mês | © Divulgação
Fachada da SampaBooks, livraria de Afonso Martin, que encerra suas atividades no fim desse mês | © Divulgação
Até o próximo dia 1º, Afonso Martin está à frente da Associação Nacional de Livrarias (ANL). O presidente convocou eleições gerais depois da desistência de dois dos seus diretores. Na época, disse ao PublishNews que permanece no cargo até março para saldar responsabilidades e prestar contas do convênio com a Prefeitura de São Paulo que deu a quase 80 mil funcionários da Rede Municipal de Ensino um vale-livro no valor de R$ 50 para ser usado nas livrarias associadas à ANL. Mas há outro motivo para Afonso abrir mão do cargo. É que, depois de 50 anos e três gerações (a livraria foi fundada pelo tio-avô em 1965), Afonso decidiu fechar a sua livraria, a Sampa Books (antiga Supercap), localizada na Zona Oeste da capital paulista. As atividades devem se encerrar na última semana de fevereiro. Afonso disse ao PublishNews que o que o motivou a fechar a livraria foi uma “completa insustentabilidade do negócio”.

“Toda livraria que fecha tem suas razões particulares: pode ser o aumento do aluguel ou problemas de fluxo de caixa, mas é ignorância achar que são problemas isolados. Temos um problema sistêmico e não casos isolados e é ignorância também achar que esse movimento é novo. Há mais de 30 anos vemos isso. Vivemos uma situação de completo abandono”, disse ao PublishNews. “Livrarias estão deixando de existir. Eu sou a última de mais de uma dezena de livrarias de rua na Lapa [bairro da Zona Oeste de São Paulo]. O acesso do cidadão ao livro está ficando cada vez mais escasso”, completou.

Afonso bate na tecla da dificuldade de varejistas independentes na lida com editoras. Vendas diretas em escolas de livros didáticos, por exemplo, é um grande mal, na opinião do presidente da ANL. “Há 30 anos, o discurso das editoras é que elas precisam sobreviver e por isso fazem as vendas diretas. Isso parece papo de traficante. O que não percebem é que, com isso, está deixando o mercado pouco saudável”, desabafou.

“Quando se fala de livros, há uma ignorância generalizada que faz muito mal ao país. É muito comum ouvir pessoas ligadas ao livro defender que o livro é caro e que é preciso fazer um programa para fazer o livro custando muito pouco ou de graça. Muita gente transita entre dois lados: ou é o neoliberal, que prega a livre concorrência, mas adora fechar contratos com o governo, ou é o outro oposto que é ‘vamos dar livros de graça’, como se o simples fato de ter o livro ao lado garantiria a conquista da cidadania. Hoje o Brasil é um dos maiores compradores de livros do mundo e essa política que está em vigência há mais de dez anos se mostrou pouco eficiente. Basta observar que 38% dos que têm diploma na mão não têm a capacidade de interpretar um texto”, defendeu.

[11/02/2016 11:33:07]