Notícias do Sul
PublishNews, Roberta Campassi, 14/10/2011
Argentino, brasileira e indiana conversam sobre o mercado digital em países emergentes

Amazon, Apple, Google. Editores do mundo todo prestam atenção em como essas empresas estão influenciando o mercado editorial digital. Mas até que ponto os modelos de negócios criados por elas se aplicam fora da Europa e dos Estados Unidos? Editores de países em desenvolvimento se reuniram ontem no evento "Digital Publishing in the South", na Feira do Livro de Frankfurt, para debater seus pontos de vista sobre e-books, suportes e modelos de distribuição. A mensagem deixada por eles é que as soluções desenvolvidas nos mercados mais maduros não atendem as necessidades e características de lugares como a Índia ou a América Latina.

"O mercado editorial dos países em desenvolvimento deve achar soluções próprias para seus negócios e leitores, e não simplesmente importar soluções fechadas", disse Octavio Kulesz, dono da editora de livros digitais Teseo, na Argentina, e autor do estudo "Digital Publishing in the Developing World", encomendado pela Aliança Internacional de Editores Independentes. "Não é questão de nacionalismo, e sim de pensar quais são os modelos que atendem melhor as necessidades de cada país."

O estudo de Kulesz, finalizado no começo deste ano, mostra as diferentes tendências e soluções que estão sendo criadas para o mercado editorial digital na América Latina, Índia, Rússia, mundo árabe, África Subsariana e China. Nestes dois últimos lugares, os celulares estão se transformando nas peças fundamentais para a leitura de livros eletrônicos, enquanto na América Latina a tendência parece ser realmente o uso de tablets e e-readers. Já na Índia, e-readers estão sendo desenvolvidos num modelo similar ao do Kindle, da Amazon, porém com a diferença de que podem operar em até quinze idiomas.

As informações levantadas por Kulesz geraram um laboratório, por enquanto em fase de implantação, para difundir informações, oferecer cursos à distância e fomentar pesquisa e desenvolvimento de soluções para o mercado de livros digitais. Você pode ler mais sobre o estudo e o laboratório aqui.

Para Bridget Impey, publisher da Jacana Media na África do Sul, uma editora independente, as publicações digitais são uma oportunidade para que empresas pequenas ganhem mercado. "Apple, Amazon e Google não vão nos 'recolonizar'", ela disse no debate. "As soluções criadas por elas podem atender pessoas da classe alta em nossos países, mas deixam de fora 90% da população, e é aí onde podemos crescer", disse.

Promover a leitura é um desafio em boa parte dos países analisados por Kulesz e os editores presentes no debate ressaltaram que os livros digitais podem ser desenvolvidos nesses lugares como uma ferramenta voltada para criar novos leitores.

Mariana Warth, dona da Pallas, editora independente brasileira, observou que a digitalização ainda é muito cara para editoras pequenas. "É mais viável neste momento lançar novos títulos em formato trade e digital, e depois aos poucos digitalizar os títulos do catálogo", disse. A Pallas pretende lançar seus primeiros e-books no ano que vem e deve começar pelas obras acadêmicas.
[14/10/2011 00:00:00]