Kate Wilson e o livro infantil digital
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 26/08/2011
Editora britânica faz palestras em Passo Fundo e em São Paulo para contar sua experiência à frente da Nosy Crow

Kate Wilson é uma editora com experiência de 25 anos (quase todos editando livros infantis). Foi diretora editorial da Macmillan e diretora executiva da Scholastic. Agora, na casa dos 40 e mãe de duas crianças, uma de 12 e a outra de 10, resolveu abrir uma editora. Eram dois os objetivos iniciais: ser dona do seu próprio nariz e explorar o novo universo do livro digital. Ao término deste primeiro ano da londrina Nosy Crow – o primeiro título saiu em janeiro de 2011, ela terá editado 23 livros, cinco e-books e três aplicativos. Isso com a ajuda de 13 funcionários, sendo que nem todos trabalham em tempo integral.

No Brasil para conferências na Jornada Nacional de Literatura e no SESC Belenzinho e para se reunir com editores brasileiros, ela contou que em seu país, a Inglaterra, também é muito caro produzir um aplicativo, mas segundo Kate vale a pena. Ela contou que seus dois primeiros títulos, Os três porquinhos e Cinderela (confira os vídeos), vendem muito bem em seu país, na França e na Alemanha. Aliás, a estratégia da Nosy Crow para aplicativos é a mesma usada por editoras inglesas na época dos livros pop-up. A produção torna-se viável se feita pensando em mercados maiores. Dessa forma, a Nosy Crow lançou os dois aplicativos no Reino Unido por conta própria e também na França, com a ajuda da Gallimard, e na Alemanha, em parceria com a Carlsen.

A ideia de começar por esses dois clássicos, que inspiraram as brincadeiras de diferentes gerações, surgiu para que os pais, mais do que as crianças, sentissem a diferença ao experimentar o novo formato e se animassem em comprar os novos livros para seus filhos ainda não alfabetizados. Além disso, são histórias com movimento, imprescindível em um aplicativo.

Nem todos os livros têm vocação para aplicativo e isso os editores vão aprendendo no dia a dia e com a ajuda de todos os profissionais da empresa. Na opinião de Kate, os editores de livros infantis que quiserem sobreviver à transição para a era digital devem ter em mente duas coisas. A primeira é falar com o cliente certo. “Precisamos parar de pensar, pelo menos na Inglaterra, que os nossos clientes são as livrarias e começar a ver que na verdade nossos clientes são os leitores, ou os pais dos leitores, e achar uma forma de nos comunicarmos com eles”. Nesse sentido, o site da editora é bastante interessante. A outra é agir como uma figura central no processo de produção de um livro, ou seja, organizar para que todos - editores, escritores, ilustradores, diagramadores, programadores e quem mais estiver envolvido naquele projeto - pensem o livro juntos.

Imaginação X independência

As crianças estão gastando mais tempo na frente das telas e com isso terão menos oportunidade para ler. Para Kate, esta é a hora de o editor se perguntar o que pode fazer para não perder de vez esse leitor. E é aí que entram os livros digitais interativos, especialmente quando o público for formado por crianças que ainda não sabem ler. Se sobra espaço para a imaginação? Kate diz que sim porque eles não são passivos. Mas mais importante que isso é a possibilidade de a criança fazer algo melhor do que apenas sentar na frente da tela. “Além disso, a criança não precisa esperar alguém parar para ler para ela”, comentou.

O maior problema é que ninguém sabe que tipo de leitor essa criança que foi apresentada a livros digitais interativos tão cedo se tornará. Ela vai se contentar com um e-book simples, só de texto? “Não sabemos, mas este não é motivo para enfiarmos a cabeça na terra como um avestruz e não fazermos nada.”

Kate no Brasil

Passo Fundo

Experiências de formação de leitores: ampliando redes

Sexta-feira, 26/8, às 8h30

Palestra encerra a programação do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio, que acontece paralelamente à Jornada Nacional de Literatura. Além de Kate Wilson, participam Flourish Klink (MIT Estados Unidos), Elias Torres Feijó (Universidad de Santiago de Compostela/Espanha), César Piva (Programa Cultura Viva), Laura Niembro (FIL Guadalajara/México), Maria Elvira Charria Villegas (Cerlalc/Colômbia), Rita de Cássia Tussi (Programa Bebelendo), Natália Klidzio (Universidade Marie Curie - Sklodowska de Lublin/Polônia), Frieda Liliana Morales Barco (Municipalidad de Guatemala)

Formação do leitor contemporâneo

Sexta-feira, 26/8, às 14h

No palco principal da Jornada Nacional de Literatura, Kate Wilson conversa com a crítica Beatriz Sarlo e os escritores Alberto Manguel e Affonso Romano de Sant’Anna

São Paulo

Conversa com Kate Wilson

Sábado, dia 27/8, às 18h30

Com mediação de Carlo Carrenho, Kate Wilson fala sobre sua experiência profissional e o que é ser um editor na era digital. Discute hábitos e atitudes de leitura a partir de dados do Reino Unido e EUA. O encontro faz parte da exposição Linhas de histórias: Um panorama do livro ilustrado no Brasil

SESC Belenzinho (Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho – São Paulo/SP. Tel.: 11 2076-9700)

Grátis
[26/08/2011 00:00:00]