Quando José Saramago recebeu o Prêmio Nobel, decidiu que não voltaria a aceitar nenhuma outra distinção literária “porque são muitos os escritores que merecem prêmios e poucos os prêmios para distingui-los”. Quando soube que seu último livro, Caim (Companhia das Letras, 176 pp., R$ 38) havia sido apresentado ao Prêmio Portugal Telecom, abriu uma exceção e anunciou que, caso ganhasse, encaminharia o valor do prêmio para a Fundação José Saramago, que tem como objetivo a difusão da literatura em português. No entanto, com a morte do escritor em junho deste ano, a fundação que leva seu nome e a Companhia das Letras pediram que Caim fosse retirado da lista dos 10 finalistas do prêmio por entenderem que isto estaria de acordo com o desejo do escritor português. Os três vencedores do Prêmio Portugal Telecom serão anunciados na próxima segunda-feira (8), quando a empresa de telefonia portuguesa fará uma homenagem a Saramago, representado na ocasião por sua esposa Pilar. Para saber quem são os finalistas, clique aqui.

Abaixo a carta da Fundação José Saramago

Lisboa, 5 de Novembro 2010

Quando José Saramago recebeu o Prêmio Nobel anunciou que não voltaria a aceitar nenhuma outra distinção literária porque são muitos os escritores que merecem prêmios e poucos os prêmios para distingui-los. Esta atitude, a de partilhar com os seus pares o prazer do reconhecimento, manteve-a em todo o mundo com a disciplina e a honestidade que sempre o caracterizaram. Soube um dia, no entanto, que o seu último livro, “Caim”, havia sido apresentado ao Prêmio Portugal Telecom. Perante este fato, anunciou que, no caso de ganhar, o valor do Prêmio teria como destino a Fundação José Saramago, que tem como objetivos a difusão da Literatura em português no mundo e, sobretudo, que os Direitos Humanos não sejam uma declaração retórica mas sim um programa de governo. Assim o disse, assim ficou estabelecido.

Mas a morte interrompeu a cadeia lógica da vida. Assim a sua Fundação decidiu que o prêmio deve ir para um autor vivo e, de comum acordo com a sua editora, a Companhia das Letras, foi tomada a decisão de retirar o livro “Caim” de entre os dez finalistas. Um escritor com presente e futuro ganhará o Prêmio Portugal Telecom no ano de 2010. Não será José Saramago, que pertence já à nossa memória.

A Fundação José Saramago felicita desde já o futuro vencedor do Prêmio Portugal Telecom 2010 e deseja-lhe uma vida tão fecunda, tão humanamente rica e criativa, tão bem-amada como foi a de José Saramago.