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A decisão pela leitura crítica
PublishNews, Marisa Moura, 13/07/2010
Marisa Moura dá dicas para quem decide tomar a dianteira e contratar os serviços de um leitor crítico ou parecerista antes de enviar sua obra para alguma editora

Ao ouvir depoimentos de autores sobre a criação de seus textos, perceberemos que a maioria recorre à opinião alheia sobre sua mais recente obra. Logo após o (primeiro) ponto final, isto é, da primeira vez que se considera o texto pronto, parece existir uma urgência em descobrir se a história realmente vale ser contada — ou melhor, se vale ser publicada.

Mas quem os autores consagrados escolhem para ser seu leitor crítico? Isso varia de caso para caso; pode ser um colega, um especialista em literatura, um editor em quem eles confiam ou também seu agente literário. Enfim, “o escolhido” deve ser, basicamente, um leitor voraz e, além disso, que reconheça que, como Walter Benjamin afirmou no artigo O Narrador, que “a experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores”.

A Página da Cultura já escutou inúmeras revelações de autores brasileiros — e leu depoimentos de outros tantos estrangeiros — dizendo que só depois de saber da opinião de seu “leitor de confiança”, aquele que é uma espécie de representante de todos os outros que virão, é que eles enviam o texto para seu agente ou editor.

Porém, não é só o autor que busca uma opinião ou um parecer crítico sobre o texto, as editoras também possuem uma equipe (interna ou externa) de pareceristas para analisarem todos os livros que irão publicar. Desde as obras literárias até as técnicas, todos os textos passam por essa análise, e os aspectos avaliados são muitos: qualidade do texto, estrutura da obra, veracidade de informações, viabilidade econômica de publicação, interesse do mercado pelo assunto etc. As editoras pagam por esse serviço.

Em alguns casos, erros — mesmo que simples — nas primeiras páginas do texto original impedem que este chegue às mãos de um parecerista. E o autor acaba perdendo uma boa oportunidade, pois o parecerista é quem destacaria todos os aspectos positivos e negativos da obra, de acordo com a linha editorial das publicações da editora. Por isso, muitas vezes, compensa realizar uma leitura crítica prévia de seu livro.

Claro, que muitas dessas primeiras leituras já fizeram julgamentos equivocados, por exemplo, o editor que negou a obra Madame Bovary, por entender que Gustave Flaubert não era um escritor. Muitas outras histórias semelhantes são relatadas em Rotten reviews and rejections – A history of insult, a solace to writers, publicado pela WW Norton. Outro caso recente foi o da escritora JK Rowling, em que o livro Harry Potter e a pedra filosofal teve oito respostas negativas antes de ser publicado pela Bloomsbury, na Inglaterra.

Assim, caso você decida tomar a dianteira e contratar os serviços de um leitor crítico ou parecerista antes de enviar sua obra para alguma editora, saiba o que é preciso considerar:

  1. Contrate o serviço de uma empresa de editoria ou de um profissional experiente, que seja referência no gênero que você escreve. Escolha um leitor crítico que não só conheça muito sobre o tipo de texto que você produz, mas que também entenda como ele é aceito no mercado.
  1. Informe-se sobre a distinção entre a leitura crítica (parecer crítico), preparação e revisão de texto. Sabendo o que significa cada serviço, você poderá entender qual deles você realmente necessita e contratar aquele que corresponderá aos seus anseios.
  1. Trabalhe muito no texto para que sua obra seja destacada como um produto excelente, mesmo antes de tentar um agente literário. Pois, se deseja se incluir no grupo de autores agenciados, saiba que há muitos outros autores tentando o mesmo feito que você, e que a primeira impressão de sua obra será determinante para que você seja selecionado entre tantos outros autores.
  1. Os editores americanos, que preferem trabalhar com obras enviadas por agentes literários, criaram a expressão slush pile para designar a imensa quantidade de originais não solicitados que chegam às editoras. No Brasil não é diferente, basta visitar a sala de um editor para ver a quantidade de livros e manuscritos que estão ali, empilhados em um canto, à espera de uma análise rápida, a chamada “leitura diagonal”. Essa é mais uma razão para que você apresente o melhor texto possível a uma editora.
  1. A leitura crítica é realizada por profissionais que conhecem muito os textos que já estão disponíveis no mercado. Fatalmente, ao analisar sua obra, o parecerista desconfiará ou descobrirá se as ideias do seu texto já estão circulando no mercado em outras obras. E é fundamental para o sucesso de sua obra saber se já escreveram sobre o que você está se propondo a escrever.

Viver a experiência de obter uma leitura crítica de sua obra implica, antes de qualquer coisa, em entender claramente que tudo o que o parecerista expõe em seu relatório nada mais é do que aquilo que ele compreendeu e/ou absorveu da obra lida. Assim, antes de contestar a análise recebida ou simplesmente alterar de imediato o texto, reflita sobre esse feedback, lembrando que foram as palavras escritas por você que levou àquela interpretação do leitor crítico.

A formação de Marisa Moura começou pela graduação em Letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde assumiu sua paixão pela literatura, da criação à produção. Marisa sentia necessidade de aprofundar-se em Marketing Cultural para Literatura Brasileira, o que fez no mestrado da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Com a ideia fixa de trabalhar com literatura brasileira, abriu a sua agência, a Zigurate, em 1994 e não parou mais. Sua coluna reflete sobre o trabalho do agente literário, um profissional atuante nas negociações de direitos autorais internacionais e nacionais e já presente no mercado editorial

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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