Vinte anos após a sua primeira publicação independente, Estórias gerais (176 pp, R$ 89,90), do roteirista Wellington Srbek e do ilustrador Flavio Colin, ganha uma nova edição pela Conrad Editora. A trama épica tipicamente brasileira acompanha o jornalista Ulisses Araújo no sertão mineiro da década de 1920, em meio a coronéis e jagunços, disputas entre bandos rivais e estórias fabulosas. Utilizando linguagem popular e expressões locais para criar diálogos dinâmicos, a obra envolve os leitores e se consagra como um tesouro nacional. Além do Brasil, o quadrinho já foi publicado em países como Espanha e França.

Do roteirista Mauricio Oliveira Dias e do ilustrador Allan Alex, O grande Xaram (Veneta, 32 pp, R$ 24,90) é uma história que resume em poucas páginas a trajetória de toda uma vida. Guardião de uma arte esquecida, o velho ventríloquo Xaram anima festas infantis com seu boneco Frodo, obrigado a competir com a popularidade dos jogos eletrônicos. Mas nem sempre as coisas foram assim: no fim dos anos 1940, auge dos programas de rádio, Xaram já teve seu momento de fama. Já no outono de seus anos, o artista sofre com o vazio deixado por um grande afeto que ficou no passado. O livro conta ainda com um posfácio do historiador e jornalista Daniel Salomão Roque sobre a história do ventriloquismo.

Na boêmia Paris dos anos 1930, com a Segunda Guer­­ra Mundial prestes a deflagrar, o professor de filosofia Mathieu Delarue rejeita qualquer tipo de compromisso e prega a primazia da liberdade individual. Entretanto, a gravidez ines­perada de sua namorada, Mar­celle, somando-se ao contexto social e político da época, atingirá em cheio suas próprias percepções. E é seu irmão burguês que vai tentar fazê-lo renunciar à rebeldia, abdicando de seus ideais e se entregando à vida burguesa. Será inevitável o caminho que o levará à consciência de si mesmo? Em A idade da razão (Nova Fronteira, 352 pp, R$ 59,90 - Trad.: Sérgio Milliet), o poder dramático de Jean-Paul Sartre e sua originalidade combinaram-se em uma produção literária fundamental. Publicado pela primeira vez em 1945, o livro dá início à trilogia Os Caminhos da liberdade, em que o escritor francês explora na literatura sua visão a respeito do movimento existencialista – o ser, o outro, o nada e a liberdade fatal a que estamos condenados.

Ao ser encurralada pela pandemia, a humanidade mergulhou de cabeça no virtual. O videogame teve um ponto de virada importante nesse contexto, mobilizando legiões e movimentando bilhões. O livro Videogame Pandemia (Lote 42, 144 pp, R$ 40), escrito pelo jornalista João Varella, fundador da editora Lote 42, visa discutir esse fenômeno à quente e reúne ensaios que aprofundam o olhar sobre o papel do videogame no contexto pandêmico, combinando arte, economia e tecnologia. As discussões vão de temas específicos, como a recepção dos lançamentos mais aguardados da temporada e dos novos consoles, a outros mais amplos, como representatividade e acessibilidade. “Acreditar que videogame só traz regozijo por meio de simulação de ação física, fantástica e violenta é tão improcedente quanto enxergar quadrinhos apenas como histórias de super-herói”, escreve o autor. O livro versa sobre temas como a febre do carismático Animal Crossing: New Horizons, o palco político de Among Us e o decepcionante Cyberpunk 2077. A obra foi inteiramente feita durante o isolamento social provocado pela covid-19.

Em História social da beleza negra (Rosa dos Tempos, 160 pp, R$ 49,90), a historiadora e teórica do feminismo negro Giovana Xavier explora o surgimento de uma indústria cosmética voltada para a mulher negra nos EUA na virada do século XIX ao XX, período de normatização agressiva da brancura como padrão de beleza universal, de popularização da eugenia e de difusão de valores associados à ideia de supremacia branca. É uma época infame, do sistema Jim Crow de segregação racial, da usurpação do direito ao voto da população negra, dos linchamentos. Nesse contexto, proliferam produtos para clareamento da pele, para alisar cabelo, para ter “boa compleição” ou “melhorar a aparência”. Com sensibilidade e inteligência, na companhia de “mulheres maravilhas da raça”, como Anne Turnbo Malone, Madame C. J. Walker e Anitta Patti Brown, Giovana apresenta uma imagem da criação do que é belo em todas suas contradições, sua força, seu desejo, seu racismo e sua resistência. História social da beleza negra conta com textos introdutórios do historiador Sidney Chalhoub (Harcard/Unicamp) e Luiza Brasil, jornalista e pesquisadora, idealizadora da plataforma Mequetrefismos.

Referência em temas de espiritualidade, esoterismo e misticismo, a Editora Pensamento lança anualmente seus tão aguardados almanaques com as previsões do ano que está para chegar. São dois guias de cabeceira, práticos e de fácil consulta, que servem tanto para iniciantes como para experientes no assunto. O Almanaque do Pensamento 2022 (224 pp, R$ 19,90) traz as previsões dos signos para o dia a dia, sobre amor, trabalho e muito mais, Horóscopo para Brasil, Horóscopo Chinês, Tarô dos Anjos, Tarô do Zodíaco e até a relação da astrologia com a psicoterapia. Além disso, como 2022 será regido por Mercúrio, este guia traz uma análise sobre esta influência ao longo do ano e mostra que 2022 será voltado à interação social, à comunicação, ao aprendizado, ao crescimento intelectual, assim como para as viagens e o comércio em geral. Já o Almanaque Wicca 2022 (160 pp, R$ 19,90) antecipa o ano segundo o universo do misticismo e da bruxaria, abordando ainda temas contemporâneos como bruxaria urbana e marginal, espiritualidade feminista e Hooddo, a magia popular de origem negra do sul dos Estados Unidos, entre outros.

A nova edição do livro-agenda da Todavia traz, além de organização semanal, régua e espaço para listar livros, filmes e exposições, um planejamento anual e fitilho. Ano Todavia 2022 (192 pp, R$ 79,90) tem, mais uma vez, a colaboração de autores da editora: enquanto Andrés Sandoval abre cada um dos meses com desenhos de plantas brasileiras que florescem naquele momento do ano, Giovana Madalosso apresenta pequenas histórias ao longo das páginas. As mesmas plantas desenhadas por Andrés ganham ilustrações e textos botânicos criados por Julia Panadés e Bárbara Cordovani, respectivamente. Como na edição anterior, a cinta se transforma em um calendário de mesa e a sobrecapa plástica pode ser usada também como capa de proteção para outros livros.

Aos 37 anos, Alice Ray não vive exatamente em um conto de fadas. Entre longas jornadas na clínica odontológica onde trabalha e idas a congressos tediosos, ela precisa lidar com dois filhos pequenos, obrigações domésticas – e um casamento que já viveu dias melhores. Mas tudo muda quando a sua irmã caçula, Melissa, a leva para um lugar nada comum: um acampamento viking, em pleno século 21. A contragosto, Alice vai parar no meio de uma floresta na Dinamarca, onde vai aprender desde caçar a própria comida a forjar uma espada. Tudo para encontrar o seu “guerreiro interior” e se tornar uma viking moderna – seja lá o que isso quer dizer. Em meio à natureza (e longe das preocupações de rotina), ela vai embarcar em uma jornada de autodescoberta – e refletir sobre as coisas realmente importantes da vida. Virando Viking (LeYa, 336 pp, R$ 44 - Trad.: Mariana Serpa) é o primeiro livro de ficção da jornalista Helen Russell.

Desde a fúria do fim, passando pelo passado sublime e pelo futuro sórdido, Jamaica Kincaid brinda os leitores com uma história sobre separação, mas também sobre o que significa continuar lutando. O sr. Sweet compõe em seu estúdio, enquanto a sra. Sweet passa o tempo na cozinha escrevendo. Seus filhos correm pela grande casa que um dia pertenceu a Shirley Jackson. Contudo, a perfeita imagem da família tradicional americana é abalada quando o marido deixa a esposa por uma mulher mais jovem. Através dos fluxos de consciência de múltiplos personagens, Jamaica Kincaid mostra as angústias profundas que existem por trás de uma aparente perfeição. Uma análise ferina sobre as diversas maneiras como o transcorrer dos anos afeta um casamento, Agora veja então (Alfaguara, 144 pp, R$ 69,90 – Trad.: Cecília Floresta) é um livro ao mesmo tempo singelo e potente. Os personagens, em confronto, se desesperam em situações cotidianas, suas mentes tentando entender linearmente uma realidade que aqui, de fato, não é linear. Escrevendo no passado, no presente e no futuro, Kincaid faz da passagem do tempo sua principal ferramenta narrativa.

Nosso lugar entre cometas (Plataforma 21, 432 pp, R$ 54,90), livro de Fernanda Nia, é uma história bem-humorada sobre amor, amizade e todas as outras respostas que buscamos no caminho para encontrar a nossa verdade. Na trama, a série de livros Cometas da galáxia é o único ponto em comum entre uma menina destemida, um garoto inseguro e uma jovem fugindo de si mesma. Ou, ao menos, é o que Lorena, Gabriel e Stefana pensavam, até que a criadora da série vem pela primeira vez ao brasil para o maior evento literário do país, a Livrocon. A visita de Cassarola Star, que deveria ser a melhor notícia que os três já tiveram em seus 17 anos de vida, se torna uma jornada cheia de obstáculos em busca da chance de conhecer a famosa autora. Só que nem o plano mais mirabolante para encontrá-la vai funcionar enquanto cada um não vencer os próprios desafios. Lorena acha que todo mundo é seu inimigo – especialmente o Gabriel. Gabriel tem dificuldade de se abrir para as pessoas e assumir os próprios gostos e sonhos. E Stefana sonha em vestir seu tão amado cosplay, mas morre de vergonha de chamar atenção. No fim das contas, o que está em jogo é a mudança mais significativa que poderia acontecer em 24 horas: a coragem de entender quem somos e do que gostamos.