Inteligência na sua editora
PublishNews, Fernando Tavares*, 28/03/2024
Em novo artigo, Fernando Tavares dá dicas práticas para as editoras que estão implementando/usando a IA ou que querem experimentar o uso dela nos mais variados serviços de produção editorial

Muitos editores estão receosos quanto à utilização da Inteligência Artificial no próprio processo editorial. Outros estão já de fato adotando estas tecnologias nas tarefas mais diversificadas possíveis, de responder e-mail a fazer análise de dados ou marketing digital.

A regulamentação da IA no Brasil anda longe de ter um consenso e algumas áreas do direito precisam se atualizar no que diz respeito ao uso da IA no mercado editorial [1].

Somado a isso, temos uma preocupação com questões de plágio ou de criação de textos que são na realidade um mosaico de palavras sem originalidade [2]. Mas será que a melhor maneira de usar a IA generativa é criando textos? Na realidade ela é uma ferramenta muito mais ampla e sofisticada que se tornará uma espécie de extensão da nossa criatividade.

Enfim, muitos medos, muitas ansiedades e também muita vontade de desfrutar desta tecnologia. [3]

Por isso vou deixar aqui algumas dicas práticas, sem nenhuma pretensão, para as editoras que estão implementando/usando a IA ou que querem experimentar o uso dela nos mais variados serviços de produção editorial. Não são leis, nem regras, apenas ideias que podem te ajudar no início.

  1. Defina um plano de ação: Antes de mais nada, pense no que você quer alcançar com a IA. Ela é uma ferramenta e não faz mágica. Qual é o objetivo da editora? Reduzir custos? Melhorar a qualidade? Melhorar o marketing? Ter metas claras vai te ajudar a não se perder no meio do caminho.
  2. Meça o retorno do seu investimento: Não adianta gastar uma fortuna em IA se você não souber o que esperar em troca. Faça aquela conta de quanto você pode economizar e como a IA pode aumentar sua receita, mas sem perder qualidade! Uma dica é fazer uma análise do seu processo editorial e avaliar quais são os gargalos. Assim, aplicando ali, no ponto de maior dor, o retorno será bem mais rápido e certeiro.
  3. Todos precisam estar comprometidos: Todos na editora precisam estar no mesmo barco que você. Mostre para os líderes/gerentes/chefes como a IA pode ser uma aliada e conquiste o apoio deles. Isso é fundamental para a criação de uma política de responsabilidade e atenuar assim os riscos.
  4. Ética no uso e nas regras: Ética é fundamental, principalmente quando se trata de IA. Garanta que a tecnologia não vai prejudicar ninguém, respeite os dados dos leitores e faça tudo com responsabilidade. Escolha ferramentas que garantam a privacidade dos dados. Sobretudo crie uma política de uso da IA dentro da editora, que todos conheçam e saibam respeitar. Se possível contrate um advogado para ajudar nas cláusulas contratuais no quesito IA. Isso vai blindar sua editora contra qualquer crise de reputação.
  5. Simplicidade é chave: Não caia na tentação de escolher a solução mais complexa só porque parece mais avançada. Lembre-se de que IA não é só sobre ter o que há de mais novo, mas sobre escolher o que realmente resolve seus problemas sem dor de cabeça. Lembre-se de avaliar qual é a sua dor real. Tem certeza que a produção das capas é um problema? Você tem certeza que usar IA para escrever texto vai realmente alavancar sua editora? Não seria mais eficiente usar a IA no marketing e aumentar as vendas? Ou não seria mais eficiente usar a IA em análise de informações que ajudem você a tomar decisões estratégicas melhores?
  6. Treine seu time: A IA só é tão boa quanto as pessoas que a usam. Invista em treinamento para que sua equipe saiba tirar o melhor proveito dessa tecnologia. Quanto mais conhecimento sua equipe tiver, mais eficiente a IA vai ser. Elimine as mistificações. IA não é mais inteligente que humanos, mas é uma plataforma que vai alavancar a criatividade humana. Ela pode ser boa ou ruim. Depende da nossa ética no uso. Aprenda a tal "engenharia de prompt". Não fique apenas no chat GPT, aprenda também sobre as outras IAs generativas.
  7. Seja transparente: Conte para o mundo o que você está fazendo com a IA. Seja honesto sobre o que ela pode fazer, o que ainda não pode e como ela está (ou SE está) melhorando sua editora. Isso vai construir confiança e mostrar que vocês estão comprometidos com a inovação sem perder a qualidade. IA não veio substituir humanos, mas sim aqueles processos chatos e repetitivos deixando mais espaço para o que é realmente humano. Esta deve ser a nossa meta.
  8. Teste, teste e teste: Antes de usar a IA em produção, faça testes, testes e mais testes. Verifique como ela se comporta em diferentes situações e garanta que ela vai entregar o que promete. E seja honesto com você mesmo. Ela realmente melhora o teu modo de trabalhar ou só atrapalha? É culpa dela? Ou é falta de conhecimento e treinamento? Você está usando a ferramenta certa? Faça perguntas, se questione, seja crítico sem ser obtuso.
  9. Pense no futuro: Escolha soluções que possam crescer com você. A ideia é que a IA seja flexível e possa acompanhar o ritmo das mudanças no mundo editorial, sem deixar você na mão.

Com um bom planejamento, uma mentalidade aberta e uma pitada de cautela, você vai ver que ela pode ser uma parceira incrível na sua editora. Mas sobretudo converse, discuta sem medo as questões que estão quentes no momento atual, como direitos autorais, perda de empregos, monopólio das empresas de IA, carência de regulamentação e falta de formação técnica para o uso da IA. Precisamos olhar nos olhos desta realidade e entender o que está acontecendo.

Último conselho: Não seja somente um usuários de IA ou de softwares de IA. Seja alguém que conhece como ela funciona, inclusive a parte técnica para poder ter assim domínio da ferramenta e não dizer coisas sem sentido ou ser dominado por ela.


Notas:

[1] Leia com atenção este artigo sobre Diretos Autorais e IA. https://www.jusbrasil.com.br/artigos/direito-autoral-brasileiro-e-a-inteligencia-artificial-ia/2055309721

[2] Preocupação legítima coma qualidade dos textos produzidos: https://www.publishnews.com.br/materias/2024/03/18/vaidade-plagio-e-mosaico

[3] Preocupação com o uso indevido da IA: https://www.publishnews.com.br/materias/2024/03/21/uso-de-inteligencia-artificial-para-traducoes-no-mercado-editorial-ainda-nao-e-regulamentado


* José Fernando Tavares é especialista em Publicações Digitais e produtos digitais com mais de 14 anos de experiência no mercado editorial, especializado em tecnologia para negócios e Inteligência Artificial para produtividade. Em 2014, fundou a Booknando, empresa especializada em publicações digitais e livros acessíveis. No ano passado, criou a Volyo Audiobooks, focada na produção de audiolivros com uso de Inteligência Artificial. Com formação humanística, busca utilizar a tecnologia para melhorar o mundo. Tem paixão por vinhos e pelo aprendizado diário.

[28/03/2024 11:00:00]