Flip 2023: Primeiro dia tem sol, calor, chuva, shows e, na Casa PN, discussões sobre o mercado
PublishNews, Guilherme Sobota, 23/11/2023
Uma questão que apareceu mais de uma vez, por parte de alguns dos convidados, foi uma preocupação com a concentração do setor em canais de vendas

Adriana Calcanhotto fez o show de abertura da Flip 2023 | © Sara De Santis
Adriana Calcanhotto fez o show de abertura da Flip 2023 | © Sara De Santis
Sob um sol inclemente e com um calor aplacado apenas por uma garoa fina no fim do dia, Paraty recebeu o primeiro dia da Flip 2023, nesta quarta-feira (22), espalhada pela cidade – são 34 casas parceiras neste ano, incluindo a Casa PublishNews, com programação cultural no centro histórico e com uma oferta comercial robusta também no Areal, “do outro lado da ponte”. Adriana Calcanhotto fez um show de abertura contido, enquanto que do lado de lá, o DJ KL Jay agitou a primeira pista da Flipei.

Na Casa PublishNews, as discussões do primeiro dia se focaram em aspectos profissionais do mercado editorial. Uma questão que apareceu mais de uma vez, por parte de alguns dos convidados, foi uma preocupação com a concentração do setor em canais de vendas.

Como se destacar

No painel que abriu a programação, por exemplo, a empresária Lilian Cardoso contou sobre uma mudança de estratégia na sua carreira que lhe rendeu frutos nos últimos meses: simplesmente aparecer mais. “Eu me escondia muito. Foi um erro que cometi: estar em grandes eventos e permanecer nos bastidores apenas, não faz sentido. Falo isso hoje para todos os meus clientes”, explicou. “Quando eu mudei isso, mudou a minha vida, dos meus clientes, da minha equipe. Hoje são 34 funcionários na LC – Agência de Comunicação. Fico muito feliz. Demorei para assumir que sou empresária do mercado editorial”.

Casa PublishNews lotada na Flip 2023 | © PublishNews
Casa PublishNews lotada na Flip 2023 | © PublishNews
Dividiram com ela a mesa sobre divulgação e marketing dos livros, Daniel Lameira, criador do curso Vida do Livro, e Vanessa Passos, autora de A filha primitiva (José Olympio). Ele contou que passou por situações não tão agradáveis para chegar em algumas posições do mercado – e que com o tempo é possível entender melhor o que é preciso fazer e o que é possível deixar de fazer. Vanessa concordou que os erros na trajetória profissional são uma fonte de aprendizado. “Ter vergonha de se apresentar ou pedir alguma coisa é um atraso de vida”, compartilhou.

Gestão

No painel sobre gestão de negócios, uma intervenção do público acabou levando a discussão para assuntos mais gerais do mercado, como a preocupação com a formação de leitores, e as crises vividas pelo setor nos últimos anos.

“Hoje temos cerca de 50% do negócio com a Amazon”, disse a diretora-executiva do Grupo Autêntica, Rejane Dias. “Vivemos em um negócio sempre muito volátil".

Fernando Penteado, da Saraiva Educação, contou como a editora sofreu redobrado o impacto da crise na livraria de onde surgiu.

Já Rui Campos, sócio da Livraria da Travessa, fez diversos questionamentos sobre a concentração atual de mercado. “As livrarias importam porque são diferentes umas das outras”, afirmou. “É preocupante a Amazon ter 50%. A Amazon vende o livro ou só faz o faturamento? Quem é o showroom da Amazon? São as livrarias. Quem vende é uma livraria, uma feira, feito a Bienal ou a Flip, a imprensa, um encontro. Cultura tem que ser cultivada. Nesse momento, a Amazon é uma ameaça ao ecossistema”, afirmou.

Rui Campos demonstrou preocupação com a concentração de mercado | © PublishNews
Rui Campos demonstrou preocupação com a concentração de mercado | © PublishNews
ESG

Luciano Monteiro, diretor global de Comunicação e Sustentabilidade da Santillana e vice-presidente da CBL, afirmou que, se ainda não chegou, a cobrança sobre medidas relacionadas a sustentabilidade e boa governança virá em breve, “seja do consumidor, do cliente, da legislação, do concorrente”.

Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta, conta que encontrou primeiro a experiência do ESG na cultura popular, do ambiente da viola. “Sustentabilidade está presente nos discursos, mas eu, como profissional do livro, quero provocar todos os colegas a dar mais importância para este tema. ESG é uma oportunidade para trazer humanização para o setor”, disse.

Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta e violeiro profissional | © PublishNews
Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta e violeiro profissional | © PublishNews
Ele compartilhou uma conta que fez com todos os livros vendidos em 2022. Se metade foram vendidos pelo e-commerce, a quantidade de plástico dos shrinks (aquele plástico que embala o livro) era suficiente para cobrir a área da Grande São Paulo, três vezes e meia.

Lizandra Magon, da Jandaíra, lembrou que “a gente não vai salvar o planeta fazendo as mesmas coisas que sempre fizemos. A governança entra nisso e gera alguns questionamentos: Os editais precisam ser dessa forma mesmo? Como se dá a relação entre as editoras?”.

“As grandonas têm que correr riscos”, disse ainda, sobre o trabalho de prospecção de autores e autoras. “Não podem ser as pequenas, apenas, se arriscando, revelando novos talentos, e quando ele está consolidado, vem a grande e compra. Esse trabalho de descoberta é muito complicado. Às vezes as apostas não dão certo. O que fazemos para trabalhar de uma forma mais colaborativa?”, afirmou.

Audiobooks

Claudia Esteves – que recentemente anunciou que começou uma nova posição como Director of Publisher Relationships LATAM na Audible – afirmou que o início da operação da plataforma no Brasil demandou um esforço muito grande no sentido de experimentar os audiolivros e passar a produzi-los. “Temos que prestar atenção em coisas básicas, como trabalhar com uma variedade de sotaques; ao mesmo tempo, o mercado ainda é muito pequeno.

Maria Carvalhosa, fundadora da editora de audiolivros Supersônica, comentou que a casa é uma editora comercial com objetivo, na essência, anti capacitista. “É muito importante abordar essa questão a partir de uma perspectiva positiva”, afirmou. A editora tem um catálogo com 10 audiolivros, todos de ficção, e ela comentou o trabalho com atores e atrizes.

Painel discutiu o mercado de audiolivros | © PublishNews
Painel discutiu o mercado de audiolivros | © PublishNews
“Uma voz traz uma textura para o texto, uma camada que tem potenciais… Para a atriz é diferente, é outra mídia. Ter, por exemplo, a Roberta Estrela D’Alva narrando As mulheres de Tijucopapo, da Marilene Felinto, mostra o que queremos fazer, trazer um livro dos anos 1980 para 2023. Ela e Luiza Romão gravaram livros conosco, também foi diferente para elas. Está todo mundo curioso para descobrir esse mercado”.

O dia terminou na Casa PN com uma mesa e o happy hour oferecido pelo Nielsen e pela MVB – clique aqui para saber como foi.

[23/11/2023 09:50:00]