Encontro da CBL em Atibaia discutiu inteligência artificial, desenvolvimento sustentável e inovações no setor editorial
PublishNews, Guilherme Sobota, 07/08/2023
2º Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos terminou na última sexta-feira (4), e Câmara Brasileira do Livro já pensa no próximo

Sevani Matos, presidente da CBL, fala no 2ª edição do Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos | © CBL
Sevani Matos, presidente da CBL, fala no 2ª edição do Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos | © CBL
O 2º Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos terminou na última sexta-feira (4) em Atibaia (SP) com discussões mais conceituais sobre o mundo do livro – em temas como censura a livros e formação de leitores –, mas também reservou espaço para debates sobre desenvolvimento sustentável da indústria editorial e inovações na produção gráfica.

Ainda na quinta-feira (3), a inteligência artificial foi o destaque do dia. Peter Schoppert, diretor da editora de Cingapura NUS Press, comentou que os desafios da indústria editorial frente ao tema são grandes, especialmente pelas incertezas legais que rondam o assunto. Ele citou o conceito norte-americano de “Fair use” – situação que permite o uso de material protegido por direitos autorais sob certas circunstâncias, sem a necessidade de pedir a autorização – como possível balizador da circunstância por ora, sem ignorar questões relacionadas a privacidade, moral, ética e contratos.

“Vejo alguns cenários possíveis: 1) as editoras começam a licenciar o conteúdo para as empresas de IA (nossa expertise melhora os modelos de linguagem); 2) brechas na lei permitem que as empresas de IA utilizem o conteúdo (o valor passaria então das editoras para a indústria tech); 3) há uma revisão geral nos modelos de copyright; 4) haverá reação em massa por parte dos criadores”, comentou Schoppert.

Ele disse estar “muito irritado” com o modo como as editoras não estão sendo levado em conta pelas empresas de tecnologia na discussão atual. “Elas precisam de nós para maior confiabilidade no conteúdo que entregam, para um texto com mais valores (como tags e outros elementos), dados para ajustes finos nas informações e muitas outras coisas”, explicou.

Entre possibilidades de uso do IA para editoras, Schoppert destacou que ela “pode ser usada para criar conteúdo, analisar diferentes questões, para edição (se eu tenho um texto com bom conteúdo, posso ir para a IA e na metade do tempo meu trabalho de edição está feito); descrição das imagens para acessibilidade; talvez possamos criar interfaces mais interativas; em traduções mais restritas, pode ser bom”.

Logo em seguida, também na quinta-feira (3), uma mesa analisou o cenário nacional da discussão. Para Frederico Flores (fundador da ScaleUp), muitas das atividades de empresas do setor do livro podem automatizar processos a partir do uso de aplicações de IA. “A camada da infraestrutura da IA é inacessível no Brasil”, destacou.

Para Marcelo Gioia, Managing Director da Bookwire Brasil, a IA veio para ficar, em todos os setores da sociedade – ele citou o crescimento do investimento global, que em 2021 era de mais de US$ 90 bilhões, e a projeção para 2023 pode chegar a até US$ 400 bi. “As forças financeiras estão por trás da IA”, afirmou.

Entre os possíveis usos por editoras, Gioia citou que já são realidades processos automatizados de edição, checagem de estilo e gramatical, criação de capas, traduções, produção de audiobooks. Ele destacou também usos de Marketing e Analytics: “são questões como análise de tendências de mercado e demanda, encontrabilidade/metadados (definição e escolha de metadados), processamento de linguagem natural para análise de conteúdo; criação de sinopses; textos de social media e marketing, TTS, produção de audiobooks”, exemplificou.

Mesa discutiu possibilidades da IA para o mercado editorial | © CBL
Mesa discutiu possibilidades da IA para o mercado editorial | © CBL
“Editoras e autores serão substituídos por IA? Não”, concluiu. “O próprio GPT apresenta limitações: informações corretas, desafios jurídicos (copyrights, etc); inundação de conteúdo na IA, tudo isso faz com que processos de controle de qualidade, curadoria, promoção e gestão de audiência se tornem ainda mais determinantes.

Ele compartilhou ainda uma conclusão a consultoria PwC: “Uma grande parte de conteúdo no futuro poderá ser AI generated, MAS human-validated e aperfeiçoada”.

O poder de transformação do livro

Já na sexta-feira (4), uma mesa reuniu profissionais para falar sobre como o mercado editorial pode ser agente de incentivo à leitura, educação e mudança social.

O fundador da Editora e Gráfica Heliópolis, PC Marciano, aproveitou para falar dos editais governamentais, como o do PNLD Literário. “Todos os editais já selecionam previamente, já tem 'censuras', até pela linguagem do edital e das leis de fomento”, comentou. “Quando eu comecei no setor editorial eu confesso que chorei porque não entendia o que estava escrito nos editais. Tive a boa sorte de encontrar pessoas que me ensinaram a ler o edital. Hoje tem melhorado a linguagem, mas ainda devemos muito nisso”, comentou.

Para Fabíola Farias, especialista em educação e leitora-votante da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, o livro atua na transformação social e de mentes e corações, talvez não em curto prazo, mas que “alteram percepções para crianças, adolescentes (e adultos também) naquela lógica elaborada pelo Faulkner (a literatura é um fósforo aceso na escuridão, não ilumina tudo, mas mostra o tamanho da escuridão)”, comentou.

Desenvolvimento sustentável na indústria editorial

Desafios e oportunidades da produção limpa na indústria editorial foram tema do encontro entre Jorge Pedro de Castro Stein, da Posigraf, e Luciano Monteiro, vice-presidente da CBL e diretor global de comunicação e de Sustentabilidade do Grupo Santillana, na sexta (4). A discussão passou por práticas sustentáveis e certificações, pela redução do uso de plástico no setor e a importância de conscientizar o público sobre a reciclagem e o descarte adequado de materiais editoriais.

Luciano mencionou os esforços das economias mundiais para regular práticas de ESG. “O que estamos vendo na Europa é um movimento regulatório muito forte, para todas as áreas da economia, que levem a práticas mais limpas. No caso da Santillana, ter um papel de origem certificada é um grande avanço. Nos 19 países em que atuamos, 99,7% do papel utilizado é de uso certificado, 100% de origem sustentável. Com uma operação sustentável, o impacto econômico vem. Tenho visto vontade das companhias em implantar práticas”, afirma.

Ele completou citando os 160 milhões de exemplares produzidos por ano no Brasil no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Ele ressalta que é necessário ter política forte para o descarte. “Começamos uma discussão na CBL para orientar o setor em termos de boas práticas sustentáveis, nos próximos meses devemos ter recomendações mais práticas. Podemos ajudar as empresas de qualquer porte com dicas para onde ir”.

Encontro de 2024

A CBL já pensa no próximo Encontro – o evento é anual. Uma pesquisa está disponível para coletar opiniões e avaliações sobre o evento. Sevani Matos, presidente da CBL, encerrou o Encontro falando sobre a importância do livro. "Todos nós da CBL trabalhamos por uma importante causa, o livro é um importante instrumento transformador. É um importante agente transformador para a formação e educação da sociedade”.

@publishnews PublishNews em 1 minuto! Os destaques do 2° Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos, em Atibaia (SP), promovido pela @cbloficial. Que tal se inscrever na newsletter do PublishNews no link da bio? Todo dia, notícias sobre o mercado editorial e as políticas do livro, novidades sobre feiras e eventos literários e vagas de trabalho! #pnem1minuto #publishnews #mercadoeditorial #literatura #livros ♬ Breaking News Background Music (Basic A)(1001538) - LEOPARD

[07/08/2023 10:50:00]