Três Perguntas do PN para Afonso Borges, idealizador do Fliaraxá e Sempre Um Papo
PublishNews, Talita Facchini, 11/07/2023
Agitador cultural, Afonso conversou com o PublishNews e contou como foi organizar a 11ª edição do Festival Literário de Araxá, os desafios, destaques e os bastidores

Afonso Borges | © Eugenio Savio
Afonso Borges | © Eugenio Savio
Gestor cultural, escritor, jornalista e empresário, Afonso Borges é o nome por trás do Fliaraxá – e de outros festivais literários como Fliparacatu e Flitabira – e do Sempre Um Papo, projeto cultural criado em 1986, que realiza encontros entre importantes nomes da literatura e personalidades nacionais e internacionais com o público. Em entrevista ao PublishNews, ele conta como foi realizar a 11ª edição do Fliaraxá, que terminou no domingo (9), os desafios, destaques e os bastidores.

“Acho que o mais importante que eu tenho para dizer é que eu acredito que o público brasileiro se interessa pelo autor nacional, se eu tivesse que resumir o festival, resumiria com essa frase: ‘Viva o autor nacional. Viva o ficcionista brasileiro, viva o romancista brasileiro’. Devia ser uma obrigação nacional valorizar o autor nacional em todos os seus campos”, disse. Leia a entrevista completa.

PublishNews – O que essa 11ª edição teve de diferente das outras do Fliaraxá?

Afonso Borges – Eu acho que esse, especialmente, é a participação da comunidade; em segundo lugar, a volta da Lei Rouanet; em terceiro, a integração entre o tema proposto e o que aconteceu durante o festival. Acontece muito de um festival determinar um tema e a linha de condução dos autores não acontecer junto. Dessa vez, em homenagem aos 130 anos de Mário de Andrade, determinamos o tema "Educação, Literatura e Patrimônio", e foi seguido, não só pelos autores adultos, mas principalmente pela linha infantil. As crianças saíram daqui sabendo o que é Patrimônio.

Acredito que o segredo é quando a comunidade toma para si o evento. A mostra Muros invisíveis – que acontece pelo segundo ano e nesse focou nos professores negros – fez com que a comunidade incorporasse, que tomasse o evento para ela. E a maior prova disso é que nas falas dos coordenadores, dos curadores da exposição, eles não me citam, eles citam o Fliaraxá, sem vaidade nenhuma, isso é determinante para que se incorpore o evento nas pessoas.

Um dos destaques do 11º Fliaraxá foi a programação, com quase 200 autores e muitos nomes de peso. Como você vê o engajamento deles com o Festival e a programação geral que vocês conseguiram construir?

São 11 anos de trabalho somados há quase 40 no Sempre um Papo, então meu maior patrimônio – já que não tenho patrimônio líquido – é o da amizade. Os autores que estão aqui, antes de serem autores, são amigos. Amigos meus e amigos entre si. Então a seleção deles é importantíssima, e realmente a vocação da literatura negra, que despontou no Brasil nos últimos anos, aconteceu aqui de verdade. Nós temos as amizades do Itamar, Jeferson, Eliana Alves Cruz, um grupo muito forte de autores que está mostrando, finalmente, essa riqueza absoluta que é a literatura negra.

Acho que o mais importante que eu tenho para dizer é que eu acredito que o público brasileiro se interessa pelo autor nacional, se eu tivesse que resumir o festival, resumiria com essa frase: “Viva o autor nacional. Viva o ficcionista brasileiro, viva o romancista brasileiro”. Devia ser uma obrigação nacional valorizar o autor nacional em todos os seus campos.

A qualidade dos autores nacionais sempre foi muito forte, mas a diferença agora é que as editoras descobriram e estão se interessando e isso não tem volta não.

Sobre os bastidores: como foi organizar e fazer o festival acontecer?

Se você pensar que nós tivemos quase 200 autores e ninguém faltou, já é um milagre. A outra coisa é que é um festival que tem muito cuidado com o autor, com o público, com a crianças... cuidados materializados nos mínimos detalhes: os banheiros são bons, tudo tem rampa de acessibilidade, as libras funcionam perfeitamente, tem autodescrição, a gastronomia está ótima, a livraria não deixou faltar um livro de autor presente. A coisa mais comum é o autor chegar num festival, numa feira e a editora não mandou o livro, aqui não teve nada disso. E mais ainda: esse é um festival que você viu a bancada principal só com autores nacionais, não tem um autor estrangeiro.

[11/07/2023 10:00:00]