Flip 2022 começa com onda de calor, reencontros e Copa do Mundo
PublishNews, Guilherme Sobota, Talita Facchini e Beatriz Sgrignelli, 24/11/2022
20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty tem dia cheio mesmo antes da abertura oficial; nesta quinta (24), haverá pausa para estreia da seleção brasileira

Público acompanha abertura da 20ª Flip, que homenageia Maria Firmina dos Reis | © Sara DeSantis
Público acompanha abertura da 20ª Flip, que homenageia Maria Firmina dos Reis | © Sara DeSantis
A 20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty começou na quarta-feira (23) com uma onda de calor, nos sentidos literais e figurados: enquanto os termômetros marcavam mais de 30ºC durante o dia, os encontros do mercado editorial, de autores, livreiros e leitores voltaram a ocorrer nas ruas de pedra de Paraty depois de três anos e meio em que o evento de maior prestígio da literatura nacional não ocorria na cidade do sul fluminense.

A Casa PublishNews – localizada na Rua do Comércio, provavelmente a rua mais movimentada do centro histórico de Paraty durante a Flip – recebeu centenas de pessoas em quatro painéis durante o dia, além do happy hour, patrocinado ontem pela MVB. Hoje (24), a Casa recebe outras seis mesas (veja a programação do dia abaixo). A impressão é de que a Flip já está “cheia”, mesmo para uma quarta-feira.

Nesta quinta (24), a Flip faz uma espécie de intervalo à tarde para acompanhar a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo, em jogo contra a Sérvia, às 16h. Editoras e empresas organizam eventos pela cidade para que os amantes do livros também sejam, pelo menos por um tempo, amantes do futebol. Já na quarta-feira (23) era possível testemunhar os fãs assistindo aos jogos da Copa em diversos bares do centro histórico.

Em outros anos, a Flip costumava mudar as datas da Festa para não coincidir com a Copa. Este ano, porém, com os adiamentos de ambos os eventos, não foi possível evitar a coincidência. A Flip acabou não incluindo programação sobre a relação entre literatura e futebol na sua agenda oficial, mas o Sesc Santa Rita recebe nesta quinta-feira (24) um “bate-bola literário” com Xico Sá e Milly Lacombe, às 14h.

Embora a tenda principal da Flip esteja no mesmo lugar que ocupou nas últimas edições, há um novo espaço “do outro lado do rio” chamado Auditório do Areal, com uma programação de lançamentos. A Flipei – programação feita por editoras independentes que representou uma consolidação da programação paralela e aberta na Flip há alguns anos – voltou remodelada e bem estruturada.

Coquetel

Na tarde de quarta-feira (23), a Pousada Literária de Paraty recebeu o tradicional coquetel de abertura da Festa, com a presença ilustre de Annie Ernaux, prêmio Nobel de Literatura e estrela desta edição. Annie ficou sentada em um sofá no espaço comum da pousada, tirou a máscara e se mostrou simpática, conversando com produtores e editores – pediu apenas para não ser fotografada no momento, alegando cansaço.

Também estavam presentes a secretária de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio, Danielle Barros, o prefeito de Paraty, Luciano Vidal, entre outros políticos. Além, claro, de Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip, e Liz Calder, idealizadora do evento. O clima também foi de reencontros. “Os 20 anos da Festa são significativos pelo esforço de seguir com os mesmos propósitos e pela ideia de fazer as manifestações culturais serem o motor dessa transformação que acontece na cidade e se alastra por outros festivais. A gente não aprende a ler só para ler palavras, mas para ler o mundo. O espaço de trocas das mesas também nos possibilita ler o outro, e ao fazer isso, lemos a gente também”, disse Munhoz.

O prefeito Luciano Vidal exaltou os feitos da Flip na cidade e fez um anúncio curioso: a Festa será uma ala do desfile da Acadêmicos do Tatuapé no carnaval de São Paulo em 2023. O desfile homenageará Paraty.

Casa PublishNews

O dia começou na Casa PublishNews com o diretor-executivo, Ricardo Arcon, dando as boas-vindas, agradecendo aos parceiros da Casa – 19 empresas ao todo – e abrindo o brunch do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Em seguida, ele mediou o primeiro painel, sobre a Lei Cortez, com Roberta Machado, Alexandre Martins Fontes e Rosely Boschini.

Casa PublishNews tem programação até sábado (26) | © Beatriz Sgrignelli
Casa PublishNews tem programação até sábado (26) | © Beatriz Sgrignelli
Os três se mostraram otimistas com a possibilidade de que a Lei – que regulamentaria o preço fixo dos lançamentos de livros no país – seja aprovada em breve. Desde julho de 2022, a Lei se encontra pronta para a pauta na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal.

“Para o grande público, a primeira reação ao saber da Lei é a de que seria um controle de preços pelo Estado”, disse Martins Fontes, diretor-executivo da WMF, dono da livraria Martins Fontes Paulista e vice-presidente financeiro da Associação Nacional de Livrarias (ANL). “E aí é um ‘tô fora’. Mas o buraco é muito mais embaixo, a discussão é muito mais profunda. A pergunta de verdade é: queremos mais ou menos livrarias nas cidades?” Para ele, é mais importante realizar uma comunicação com os parlamentares envolvidos no trâmite da Lei do que um convencimento do público geral.

“É necessário preservar a bibliodiversidade”, afirmou Roberta Machado, diretora de comunicações do SNEL e vice-presidente do Grupo Editorial Record. “Não estamos inventando nada, vários outros países adotaram leis como esta, não fere a livre concorrência. Às vezes a conversa de intervenção estatal gera ruído, mas é só uma pequena parcela do mercado”. O PublishNews fez uma matéria sobre a Lei Cortez, que você pode conferir clicando aqui.

Na mesa ‘Tecnologia e inovação no mercado editorial: tendências e oportunidades’ a discussão focou em dois pontos importantes: a resistência de alguns editores ao uso da tecnologia e como essas inovações têm auxiliado no momento de fechar negócios, direitos autorais, oferecer novos formatos ao leitor e auxiliar os profissionais do mercado, por exemplo. O palestrante Emerson Frigerio, CEO da Literarius, disse que “toda a cadeia tem que evoluir” e adaptar a tecnologia em seu ciclo de produção.

Cinthya Müller, coordenadora comercial e de e-commerce na Editora Planeta, afirmou que as editoras devem entregar conteúdo em todos os formatos para os consumidores, abrangendo os leitores com diferentes gostos e, claro, incentivando outras pessoas que não se identificam com o formato tradicional do ‘papel na mão’. Mesmo em uma empresa multinacional, a palestrante afirmou que havia uma resistência e lentidão do mercado editorial brasileiro para adaptar os avanços tecnológicos, que agora estão sendo pauta em todas as discussões do setor. Ela também acrescentou que “o digital dá um resultado muito rápido sobre o sucesso ou o fracasso de um livro, o que nos permite corrigir erros nas próximas edições “.

Já a Árvore, representada pela Head of Content, Camila Cabete, e a Skeelo, representada por André Palme, deram ênfase nas bases de dados e nos parceiros, que acumulam possíveis leitores, abertos aos novos formatos.

A última mesa do dia reuniu Marcos da Veiga Pereira, vice-presidente do SNEL e Mariana Bueno, economista da Nielsen e responsável pela Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro para justamente descomplicar o assunto e explicar o que esses estudos revelam sobre o setor. Além de fazerem uma análise sobre a série história da PeV, Marcos fez questão de frisar a importância de focar na formação de novos leitores e como isso pode influenciar a médio e longo prazo nos resultados do estudo. Marcos e Mariana também falaram sobre o que prospectam para o setor editorial em 2023 e tocaram em pontos que podem ser melhorados e adaptados nas próximas edições das pesquisas.

Programação de quinta-feira (24/11) da Casa PublishNews na Flip 2022

10h às 11h

Livros infantis e a formação de leitores

Vagner Amaro (fundador e Publisher da editora Malê)
Flávia Reis (autora da nVersinhos Editora)
Sandra Trabucco Valenzuela (autora da nVersinhos)
Otávio Prado Alabarse (autor da Bella Editora)
Sheila Ribeiro (autora da Bella)

Mediação: Cristiane Mateus (Publisher da Maralto Edições)

11h às 11h50
Biografia em foco. Papo com Toninho Vaz, autor de "Paulo Leminski – o bandido que sabia latim" (Tordesilhas; em nova edição)

Mediação: Guilherme Sobota, editor-chefe do PublishNews

12h às 13h
Papo indie: Jéssica Macedo e sua carreira de sucesso como autora KDP (plataforma de autopublicação de e-books da Amazon)

Mediação: jornalista Leonardo Neto

13h20 às 14h10
O que os metadados podem fazer pela sua empresa e estão fazendo pela nossa

Ricardo Costa (CEO da MVB Brasil)
Maria Borin (consultora para negócios do livro)
Andrea Guatiello (gerente de marketing da Alta Books)

Mediação: Bruno Mendes, sócio do PublishNews e do #coisadelivreiro

14h10 às 15h
Distribuição e transformação digital: desafios e inovações para múltiplos formatos

Marcelo Gioia (Managing Director da Bookwire)
Marcelo Levy (diretor comercial da Editora Todavia)
Larissa Helena (Head of Content da Yoto)

Mediação: Joana de Conti (Head Of Account Management da Bookwire)

PAUSA PARA A ESTREIA DO BRASIL NA COPA DO MUNDO

19h às 20h15
O mercado do livro como agente de inclusão e diversidade

Alê Garcia (autor de Negros gigantes; Latitude)
Pedro Rhuas (autor de Enquanto eu não te encontro; Seguinte)
Larissa Caldin (diretora-executiva da Primavera Editorial)
Raquel Menezes (editora da Oficina Raquel)
Haroldo Ceravolo Sereza (doutor em Literatura pela USP e editor da Alameda Editorial)

Mediação: Talita Facchini, editora-assistente do PublishNews

20h15 às 22h
Happy Hour by Primavera Editorial

[24/11/2022 09:00:00]