Diário de Londres: Do planejamento no sistema on-line à primeira reunião
PublishNews, Leonardo Garzaro*, 05/04/2022
No primeiro capítulo do seu Diário de Londres, Leonardo Garzaro conta como acabou se atrasando para seus primeiros compromissos na feira mesmo com horários bem agendados e com e-mails repletos de informações enviados pelo evento

A vida toda escutei histórias sobre a pontualidade e organização britânicas, e pude confirmá-las desde o momento em que me inscrevi para participar da Feira do Livro de Londres. Antes da viagem, recebi um e-mail com todas as informações imagináveis sobre a cidade, vistos de entrada, pontos de interesse, questões sanitárias. Outra mensagem simpática me ensinava como me registrar na plataforma para agendar os encontros com os editores. O agente da imigração já sabia que eu estava a caminho da feira e me recomendou publicar livros de história militar — obrigado, mas, não. O funcionário do hotel foi simpático me oferecendo o telefone de um motorista — sim, pois nunca se sabe.

Contudo, já diz o ditado ídiche, “O homem faz planos, Deus ri”. E, apesar de meus horários bem agendados na plataforma da feira, dos e-mails repletos de informações, de ter escolhido um hotel próximo ao local do evento e ter estudado o mapa do caminho, meros 13 minutos a pé, fiquei preso no elevador e me atrasei. Entre às 9h30 e às 10h da manhã, apertei repetidamente a campainha de socorro até que a recepcionista indiana me escutou. Precisaram de mais 20 minutos para o resgate. Ainda bem que não sou claustrofóbico!

A primeira reunião era com a Monica Gramm, agente sueca que me vendeu os direitos dos livros da Linda Boström Knausgård, Geir Gulliksen e Ragnar Jónasson. Cheguei 30 minutos depois do horário combinado, mas conseguimos conversar bem. Como boa vendedora, ela já quis me empurrar mais dois títulos — calma, Monica! Falamos sobre a saúde da Linda, e ela espera que com a primavera a autora volte a escrever. Eu também. Mostrei alguns dos livros impressos, e ela me contou que as editoras da Europa, por conta da guerra, estão tendo problema com o fornecimento de papel. Não sabia.

Depois fui até o estande do Brazilian Publishers, onde uma prateleira aguardava incólume para receber os livros da Rua do Sabão. Como é legal encontrar um estande enorme escrito “Brasil” bem na frente. Viva a literatura brasileira! Lá estavam os livros vencedores do Jabuti, de outras editoras associadas e informações sobre os programas de apoio à tradução. Organizando tudo, estava a Constância Egrejas, que era proprietária da livraria Letras & Arte, em Campinas. Mudou para a França há 20 anos, e hoje representa a editora Ricochet e a Edições Dunod. Em um minuto estávamos batendo papo e nos entendendo. Em dois, ela me contou sobre como foi parar na França, e me deu um chocolate quando eu disse que ia escrever sobre ela para o PublishNews. Essa vida de jornalista está valendo a pena!

Assim que organizei os livros fui abordado por uma escritora inglesa. Ela trazia nas mãos dois livros: um sobre o tratamento de patologias psiquiátricas usando cores, outro sobre o tratamento de patologias psiquiátricas usando animais. Disse que ambos eram best-sellers na Inglaterra. Agradeci a oportunidade, mas disse que não era o tipo de livro que costumo publicar. Logo em seguida, me abordou uma escritora israelense, acompanhada do marido e agente. Traziam na mão um romance ambientado na França da Segunda Guerra, que segundo ambos era um best-seller em Israel. Pelo visto, está fácil demais conseguir um best-seller: melhor ter cuidado.

Ainda tenho que encontrar os tradutores do PETA, uma associação de tradutores do português para o inglês, e a Ayse Ozman, editora da Dixi Books, com a qual espero assinar um contrato sobre o qual trocamos e-mails há seis meses. Na agenda também estão um bate-papo com a Anna Luiza, da Villas Boas & Moss - vencedora do Prêmio Jovens Talentos 20/21 –, e com a Marina Penalva, agente literária. E a feira está cheia de eventos interessantes, como uma conferência sobre direitos internacionais, e outra sobre a submissão de títulos pelos autores. Vou correr!

Constância Egrejas
Constância Egrejas


* Leonardo Garzaro é jornalista, escritor e editor da Rua do Sabão. À parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.

[05/04/2022 11:00:00]