‘A literatura sempre conseguiu superar ditadores’
PublishNews, Leonardo Neto, 19/10/2016
#FreeWordsTurkey: carta de escritora turca presa em Istambul é lida na abertura da Feira do Livro de Frankfurt

Da prisão em Istambul, romancista turca Asli Erdoğan enviou carta que foi lida na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | © Divulgação
Da prisão em Istambul, romancista turca Asli Erdoğan enviou carta que foi lida na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | © Divulgação

Mais do que um centro de decisões sobre o que chegará às livrarias no próximo ano, a Feira do Livro de Frankfurt, aberta oficialmente nesta terça-feira (18), tornou-se um palco político. Na cerimônia de abertura, com a presença dos reis Philippe, da Bélgica, e Guilherme Alexandre, dos Flandres, países homenageados desta edição, Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, leu uma carta escrita pela romancista turca Asli Erdoğan, presa em agosto, depois da tentativa de golpe no país. “Eu clamo a vocês daqui, atrás de pedras, concreto e arame farpado. A consciência está sendo pisoteada no meu país. Eles estão tentando nos matar de verdade. Não sei dizer como, mas a literatura sempre conseguiu superar ditadores”, dizia a carta contrabandeada da prisão onde a escritora está em Istambul.

Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, foi incisivo ao declarar seu apoio à escritora e aos editores presos e fez um apelo claro ao governo turco: “liberte essas pessoas” | © Frankfurt Bookfair
Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, foi incisivo ao declarar seu apoio à escritora e aos editores presos e fez um apelo claro ao governo turco: “liberte essas pessoas” | © Frankfurt Bookfair
Riethmüller declarou: “a liberdade de expressão está ameaçada em diversas áreas do mundo. Oito anos atrás, a Turquia foi o país homenageado da Feira. Hoje, muitos editores turcos não puderam estar aqui porque estão presos”. Pelo menos 140 empresas de mídia, incluindo 30 editoras de livros, foram obrigadas a fechar as portas e cerca de 100 jornalistas estão presos no país. Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, foi incisivo ao declarar seu apoio à escritora e aos editores presos e fez um apelo claro ao governo turco: “liberte essas pessoas”.

Mais cedo, durante a conferência de imprensa da Feira, Riethmüller já tinha feito declarações duras contra as diversas iniciativas que atentam contra a liberdade de expressão. Ele observou que em diversos lugares do mundo, as editoras não podem publicar o que querem e ressaltou que “em tempos de divisão, desavenças e confronto de opiniões, é importante que a indústria do livro desempenhe seu papel. Livros precisam apoiar a disseminação de conhecimento, histórias e experiências. Nunca os profissionais do livro foram tão importantes como nos dias de hoje”. “Liberdade de expressão é um direito humano e isso não é negociável”, completou.

#FreeWordsTurkey

Logo mais, às 18h (horário de Frankfurt, 14h, no horário de Brasília), acontece uma reunião de solidariedade à escritora, no Tulip Lounge do Hall 5.01. Além disso, mesmo quem não estiver em Frankfurt poderá prestar solidariedade à escritora e fazer pressão no governo turco usando a hashtag #FreeWordsTurkey e assinando a petição online encabeçada pela PEN International.

[19/10/2016 09:22:46]