Produção gráfica: o que é isso?
PublishNews, Aline Valli*, 05/04/2016
Em sua coluna de estreia, Aline Valli (ex-produtora gráfica da Cosac) explica a 'grande importância desse ofício dentro da cadeia produtiva do livro'

_ Oi, tudo bem? Como você chama?

_ Meu nome é Aline.

_ Prazer Aline, e o que você faz?

_ Sou produtora gráfica!

_ Ah! Legal! Mas tipo assim, o que você faz? Mexe no computador, né?

_ É... mexo…

_ Photoshop?

_ Não exatamente…

_ Indesign

_ Sim, às vezes, só pra checar algumas coisas…

_ Corel???

_ Bem... Daí nem pensar, né... (risos)

_ Hummm, então quais softwares você usa pra trabalhar?

_ Excell, e-mail, Google… Algumas vezes uso alguns “hardwares” também: carro, telefone, já usei avião, uso bastante meus olhos também..

_ Puxa... acho que não entendi..

Diálogos como esses, são muito comuns pra mim nos últimos 14 anos, desde do dia que decidi trabalhar como “produtora gráfica”.

Explicar essa profissão (ou cargo ou departamento ou ofício) é diversas vezes um pouco complicado mesmo. Da mesma forma que não é não tão simples de entender a sua importância dentro do processo produtivo dos livros.

Um dia desses encontrei um amigo, trabalhamos juntos durante anos na Cosac Naify, e ele, emocionado, disse que, finalmente, depois de tanto tempo, conseguiu entender o que era a produção gráfica, vendo o livro feito por uma outra editora, que se desfazia nas suas mãos, ao ser folheado.

Tenho tido, nesses últimos meses, conversas maravilhosas e muito enriquecedoras tanto pessoal quanto profissionalmente. E umas dessas conversas, foi com o Carlo Carrenho, fundador e CEO do PublishNews, que carinhosa e gentilmente, me convidou para escrever uma coluna aqui.

Escrever, mesmo trabalhando há tanto tempo com livros, não é um talento nato meu, mas aceitei o desafio.

O aceite desse desafio é, para mim, um convite à reflexão da minha própria carreira e profissão e para quem lê, uma tentativa de mostrar e tornar mais visível a grande importância desse ofício dentro da cadeia produtiva do livro.

Nessa primeira coluna, quero contar como é a minha visão do que é ser “produtora gráfica”, e vou dividir a minha definição em duas partes.

A primeira é bem prática e objetiva. Pode ser dividida em tarefas a serem executadas por esse departamento. Como por exemplo: conhecer e visitar gráficas para entender o negócio e especialidade de cada uma, fazer orçamentos gráficos, compra e controle de papéis, acompanhamento de tratamento de imagens, desenvolver juntos aos designers novos materiais, recursos e acabamentos, pesquisas diversas, cálculo de aproveitamento de papel, controle de notas fiscais, etc.

A segunda parte, eu vejo de uma forma um pouco mais abstrata, que requer constante aprendizado, desenvolvimento, sensibilidade e observação.

É como se o produtor gráfico fosse um “tradutor”.

Isto é, a compreensão, leitura e entendimento das ideias e expectativas de todos os profissionais envolvidos na produção do livro (autores, escritores, fotógrafos, artistas, editores e designers) além das expectativas dos leitores em relação ao produto / livro. A partir desse entendimento, ele precisa ser capaz de “traduzir” todas essas ideias e expectativas para a produção propriamente do livro.

O que algumas vezes pode ser, na máquina de impressão, um simples “sobe” ou “desce” de uma ou outra carga de tinta.

Em outras palavras: um dia um escritor resolver escrever. Escreveu, escreveu e escreveu tanto, que virou um livro! Ele ficou muito feliz com seu feito e decidiu então mostrar para as editoras, fazer o texto ser impresso e correr o mundo por aí. Aqui nasce a primeira expectativa! Também pode ser um fotógrafo, um artista, um ilustrador.

Um editor adorou o material que recebeu e decidiu: vou fazer esse livro! Mais uma pessoa ou editora numa enorme expectativa de ver esse livro, lindo e pronto, vendendo! Vai ser sucesso!

E então entram os designers!! Que pensam tudo que o livro pode ter, melhor fonte, papel, acabamento! Muitas vezes os produtores trabalham como “dupla” do designer para o desenvolvimento do projeto. E é muito rico quando esse processo nasce assim, dessa parceria. E então tem uma enorme expectativa do designer em ver, realizado, fisicamente, o seu projeto, com todos os detalhes que ele projetou executados da melhor forma possível.

E por último, a expectativa do leitor, de ter em suas mãos um livro que seja gostoso de ser lido, que dure e não desafaça em suas mãos e que ele possa ter nessa leitura, uma grande experiência.

Tudo pode ser muito tranquilo e fluido em todas as etapas e todos aqui em cima ficam felizes e com suas expectativas superadas... mas às vezes... ai ai… às vezes complica…

Então, nas próximas colunas, vou contar um pouco melhor, ora como atender à essas demandas práticas e objetivas e ora como atender às demandas mais subjetivas e sensíveis dessa bonita (e muitas vezes invisível) profissão.


* Aline Valli é tecnóloga gráfica, formada pela Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica onde também é formada técnica em Artes Gráficas. Trabalha como produtora gráfica há 14 anos, sendo os últimos oito anos na Editora Cosac Naify. Também dá cursos e palestras sobre o tema.

[05/04/2016 09:40:00]