InterLivro discutiu o futuro da Indústria do Livro
PublishNews, Leonardo Neto, 04/09/2015
Da criação de capas ao uso de celular na leitura de livros, diversos temas foram abordados no I Encontro Internacional de Profissionais do Livro

Cerca de 400 pessoas participaram da primeira edição da Interlivro no Rio de Janeiro
Cerca de 400 pessoas participaram da primeira edição da Interlivro no Rio de Janeiro

Nesta quinta-feira (3), logo depois de aberta a Bienal do Rio, cerca de 400 profissionais do livro se reuniram para participarem do InterLivro 2015, a programação profissional da Bienal. O encontro foi aberto por Rüdiger Wischenbart, consultor austríaco especializado na indústria cultural e editorial e nos mercados globais do livro. Em sua apresentação, Rüdiger fez um comparativo da indústria do livro com outras de indústrias de mídia, como música, cinema e games. “As pessoas do livro estão sempre reclamando que a indústria editorial é pequena, mas ela é maior que a indústria de música ou do que Hollywood, por exemplo”, apontou o consultor. Rüdiger demonstrou ainda que a estagnação do mercado editorial não é exclusividade brasileira. Em nível global, o mercado tem se mantido estável, com exceção da China, o único país no qual a indústria do livro tem crescido. O mercado (em preço ao consumidor) da China saltou de 84.804 milhões na moeda local, em 2009, para 136.350 milhões, em 2014, segundo dados do State Administration of Press, Publication, Radio, Film and Television (SAPPRFT) apresentados por Rüdiger.

O futuro da indústria do livro, na opinião do consultor austríaco, está na telefonia móvel. “O smartphone é o sol e tudo mais orbita em torno dele”, disse o consultor, que demonstrou que 51% da população global tem um celular e 31% do tráfego de dados pela web é feito a partir de celulares. No final da sua apresentação, Rüdiger deu um conselho aos editores locais: “procurem novos serviços e novas formas de se conectar aos seus leitores. Meu melhor conselho é que não tenham medo, não esperem uma demanda, mas olhe para seus consumidores e guiem-se por eles. Não construam muralhas em torno de vocês”.

Logo depois da apresentação de Rüdiger, subiu ao palco do InterLivro Emma House, diretora de relações com editoras da Associação de Editores do Reino Unido. A inglesa apresentou aos brasileiros o mercado britânico. “Está claro que Reino Unido e Brasil têm oportunidades e desafios muito semelhantes”, disse a representante britânica. Emma, que já esteve no Brasil outras vezes, disse que a sua impressão sobre a indústria do livro brasileira é que ela é “profissional e vibrante”. Ela comparou a adesão dos jovens britânicos e a dos brasileiros aos e-books. “O Kindle foi lançado no Reino Unido na época do natal. Foi o natal do Kindle”, disse. No Brasil, os jovens preferem livros impressos e Emma justificou: “as editoras têm feito livros cada vez mais bonitos e isso encanta”.

Livros bonitos, a propósito, foi o tema da terceira mesa do InterLivro 2015, na qual Aline Valli (Cosac Naify), Daniel Brêtas (Taschen), Christiano Menezes (DarkSide) e Elisa Braga (Companhia das Letras) discutiram as tendências da produção gráfica em livros. “Tenho 28 anos de Companhia das Letras e nesse tempo todo não me lembro de ter participado de uma mesa assim”, apontou Elisa no início da sua apresentação. Quando foi criada, nos anos 1980, a Companhia das Letras quebrou um paradigma ao colocar livros graficamente mais bem cuidados nas livrarias. “Desde que estou lá, essa é uma grande preocupação”, apontou Elisa. “Hoje é mais difícil. Tem muita gente boa no mercado”, disse. Aline falou um pouco sobre o processo de criação dos projetos gráficos na Cosac: “como profissional, para mim, era um sonho poder fazer todas essas brincadeiras que a gente pode fazer lá na Cosac. E isso só é possível graças à total integração entre o conteúdo do livro com aquilo que ele é enquanto objeto”, apontou a profissional, que revelou ainda que faz reuniões mensais com editores para discutirem os projetos gráficos dos livros.

Encerrando a programação do InterLivro 2015, aconteceu o Frankfurt CEO Panel, com Jorge Oakim (Intrínseca), o alemão Jo Lendle (Carl Hanser Verlag) e o italiano Stefano Mauri (Mauri Spagnol). O bate-papo enfocou as estratégias e os desafios para montar uma linha editorial consistente e coerente nos dias de hoje. Jorge Oakin, por exemplo, revelou que frequentemente pensa em criar selos dentro da Intrínseca, mas sempre se convence de que um selo único é melhor: “isso de ter um selo só é legal porque você faz livros para todo mundo, de todas as idades”. A editora de Stefano, ao contrário da de Oakim, tem treze selos. E o italiano rebateu: “em certo sentido, ter muitos selos é muito cansativo, mas em outro é muito rico: permite buscar diferentes títulos e publicar de um prêmio Nobel a um título de ficção comercial ou uma não ficção”.

[04/09/2015 10:55:13]