E então nos ocorre uma pergunta básica: tem alguém ensinando os leitores a usar tudo isso? Tem alguém dizendo para as pessoas que, além do jogo X ou do aplicativo de paquera Y, é possível instalar no celular um app (grátis!) que permite a leitura? Muita, mas muita gente que conhecemos – gente acostumada a ler, bem informada, que faz compras online e já tem tablet e smartphone – ainda fica com cara de nuvem quando falamos em livros digitais. E a questão nem passa pela conversa boboca do “ah, mas gosto do cheiro de livro”. É desconhecimento mesmo. Há quem pense que, para aproveitar esse meio de leitura, precisa de um Kindle ou “daquele aparelho que vende na Cultura” (a gente sempre fala: “o nome é Kobo!”). Pior: existe, e aos montes, quem já viu um PDF malfeito e acha que “putz, a leitura digital é muito desconfortável”.
Estamos falando, aqui, do básico. De educar o público. De atitudes que promovam o digital, que se proponham a apresentar os leitores ao formato, pegar os caras pela mão e mostrar como é bacana, como pode ser prático.
Somos uma editora pequena e 100% digital que ainda está no início do que esperamos ser uma longa jornada. Assim como nós, existem outras empresas do tipo, e é uma alegria sincera saber que surgiu mais uma, e mais uma, e mais uma. Será que não vale nos unirmos – editoras digitais e departamentos digitais das editoras de papel – para promover essas atitudes? Todos juntos somos fortes, como já ensinava aquela música do Chico Buarque há quase 40 anos.
Três ideias rápidas:
- Uma campanha conjunta das editoras, no Facebook, estimulando a leitura digital. Cada uma faz uns dois ou três memes de incentivo, usa sua própria base de curtidores e replica os posts das outras. (Fizemos uma experiência no ano passado, com memes divertidos que terminavam dizendo “Acredite nos livros digitais”).
- Promover mais encontros “autor-leitor” para apresentar o digital ao público. Nada de palestras chatas sobre o tema, claro. Mas nossos autores não podem ser nossos melhores porta-vozes se chegarem a um bate-papo e lerem um trecho do livro no celular, no tablet, no e-reader? Que nos perdoem as lojas, mas não basta deixar Kindles e Kobos à disposição dos leitores sem que alguém mostre como podem ser bacanas para a leitura.
- Por fim: você, que tem uma editora física – mas é esperto e antenado o suficiente para saber que não, o digital não vai acabar com o papel e um meio pode conviver muito pacificamente com o outro, pois há mercado e produtos para ambos –, que tal pensar em, a cada mês, fazer uma promoção com um ou dois títulos na linha “compre um e leve dois”? Compra o físico, ganha o digital. Que seja válida por apenas uns poucos dias. Não pode beneficiar a todos, a começar pelo leitor?
[Nota do editor: nesta coluna, Gabriela Erbetta cedeu espaço para a sua sócia na Editora Alpendre Gabriela Aguerre que assinam conjuntamente este artigo]