Na toca do Fernando Morais
PublishNews, Leonardo Neto, 30/10/2014
Escritor relança, pela Novo Conceito, três de seus livros esgotados

Fernando Morais está feliz e aliviado. Sua candidata foi reeleita presidente da República. “Nossa! Estou aliviado! Que sufoco”, disse na tarde de ontem (29) em seu apartamento em Higienópolis, na capital paulista. O escritor recebeu o PublishNews em sua casa para falar sobre o relançamento de três de seus livros pela Novo Conceito. O mago, biografia de Paulo Coelho, de 2008; Montenegro, biografia do criador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de 2006 e Na toca dos leões, sobre a agência W/Brasil, de 2005, que agora sairão pela editora de Ribeirão Preto, foram todos publicados orginalmente pela Planeta. “Quando venceu meu contrato com a Planeta, eu decidi não renovar por que você editar com uma editora que está com a cabeça em outro continente é complicado”, queixou-se. A ponte para a ida de seus livros para a Novo Conceito foi pavimentada pelo novo diretor geral da casa, Luiz Fernando Pedroso e pelo editor Thiago Mlaker. “Eu já conhecia a Novo Conceito pelo sucesso de vendas e eu contei que estava com esses três livros sem contrato”, lembra o escritor. “Todos estão esgotados. Muita gente me procura pelas redes sociais para saber como comprar”, justifica a assinatura do contrato que foi feita ontem, logo depois da entrevista que concedeu ao PublishNews. Os livros devem sair já no primeiro semestre de 2015.

Morais se diz cansado de guerra, que não vai mais escrever. Mas deixa escapulir que tem planos para livros curtos, menores, sobre personagens ou episódios da história brasileira. “O que eu não quero mais é fazer tijolo, livros de 800 páginas. Chega no fim, você está descadeirado e começa até ter um certo nojo daquilo ali...”, desabafou. Personagens não faltam. “Tenho umas 20 caixas pretas aqui no meu escritório com personagens que dariam livros, filmes e minisséries”, comenta o escritor, que está terminando o último “tijolo” da sua carreira: a biografia do ex-presidente Lula sobre o qual está debruçado há um par de anos e o qual garante entregar até o ano que vem. “Fiz um acordo com o Luiz (Schwarcz, publisher da Companhia das Letras, casa pela qual Morais edita o livro) e com o próprio Lula de não lançar esse livro em ano eleitoral. Então, ou eu publico ano que vem ou só em 2017, que é muito longe”, disse ao PublishNews.

“Você fazer 200 entrevistas é um trabalho de estivador, é um trabalho braçal. Tem entrevistas que duram 30 horas. É um trabalho infernal. Falta disposição física”, declara Morais. Além disso, há a coleta de dados, outro trabalho que exige muito do escritor. “Agora mesmo, eu estou indo para Washington, ficar no National Archives para varrer tudo o que há sobre Lula na CIA, no FBI, na Agência Nacional de Segurança, no Departamento de Estado. É um trabalho duro”, diz. “É um trabalho insano de pesquisa. E não adianta, eu só me considero em condições de começar a escrever quando não tenho mais dúvida nenhuma. É muito trabalhoso e cansativo, então, eu não sei o que vou fazer... talvez eu vá vender caju na Praça Buenos Aires”, brinca.

Polêmica

Na toca dos leões, um dos livros que Morais relançará pela Novo Conceito, acabou se envolvendo em uma polêmica das bravas, chegou a ser recolhido das livrarias e deu munição ao hoje deputado e senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) para a inclusão de uma polêmica emenda à Lei das Biografias que tramita no Congresso Nacional. É que no livro, Morais relata de passagem, em um único parágrafo, uma história envolvendo o senador eleito. Na época, Caiado foi a Justiça e hoje, para liberar as publicações de aprovações prévias dos biografados, quer que seja inclusa uma emenda à lei que prevê ritos sumários em casos de acusações de calúnia, injúria e difamação.

Mas Morais está cansado de guerra e preferiu suprimir o parágrafo que citava Caiado nessa nova edição. “[A supressão do parágrafo] não mutila o livro. Num livro de quase 500 páginas, tinha cinco linhas irrelevantes para a história. Não tem sentido e eu não quero caçar encrenca. Se Washington [Olivetto, fundador da W/Brasil] tivesse bancado, eu compraria e iria pra briga, mas não tem sentido. Eu tenho onze livros escritos, o único que alguém contestou foi esse. Ossos do ofício”, comentou o escritor.

Morais lembra que, na Justiça, Caiado pediu três coisas: uma indenização aos três envolvidos na ação (o escritor, a editora e Gabriel Zellmeister, então diretor de criação da W/Brasil), o recolhimento do livro das livrarias e uma multa de R$ 5 mil a cada vez que Morais tocasse no assunto em público. “Nem a ditadura fez isso. Tudo bem, a ditadura fez coisas muito piores, mas nunca proibiu que um autor falasse do seu livro publicamente. No dia que eu soube da decisão, eu estava no Cairo, com o Paulo Coelho, já trabalhando para o livro seguinte. Falei para o Paulo que eu teria que voltar para o Brasil, mas antes parei em Paris. Lá, eu fui a uma casa de câmbio, troquei o equivalente a R$ 5 mil, convoquei uma coletiva com os correspondentes internacionais na França e falei tudo o que eu tinha para falar. Para eles, falei: ‘o dinheiro está aqui, vou embarcar com esse dinheiro no bolso, se tiver um oficial de Justiça na escada do avião com uma ordem judicial na mão, eu já estou com o dinheiro para pelo menos cair de pé, não me acovardar’”, relembra Morais. Não foi necessário usar o dinheiro. “Conseguimos derrubar a multa. O livro voltou a circular e a indenização foi reduzida para R$ 100 mil e eu estou recorrendo, já que não transitou em julgado”, comentou o escritor.

Morais não acha que polêmicas vendem livros. Para ele, o caso do Na toca dos leões demonstra isso. “Gerou polêmica, mas ao contrário do que possa parecer, não ajudou a vender não”, comentou. Pelas razões óbvias, o livro sumiu das listas de mais vendidos logo depois que os exemplares foram recolhidos das livrarias. “Eu acabei comprando uma briga internacional por causa dessa história. Antes mesmo de sair a decisão judicial, a FNAC, por puro cagaço, devolveu dez mil livros para a editora. Fiz uma carta para o presidente da FNAC na França dizendo que eu achava um absurdo que uma livraria da França, da terra da liberdade, da terra do saber, da luz tomar a iniciativa de fazer censura a um autor antes que a justiça a tivesse obrigado. Eles só leram no jornal, podia ser uma notícia falsa, mas encheram o caminhão e devolveram os livros. Depois acabaram afastando a pessoa que foi responsável por isso”, lembra o escritor. “Quando acabou a censura, não foi noticiado e as pessoas já não sabiam que o livro estava à venda. Não me ajudou em nada. Bobagem esse negócio de dizer que polêmica vende livros”, arrematou.

[30/10/2014 01:00:00]