O rebelde brasileiro em Frankfurt
PublishNews, Carlo Carrenho, 06/10/2014
Um dos fundadores do Widbook participa da Contec, conferência que antecede a abertura da Feira do Livro de Frankfurt

Em junho de 2012, três jovens empreendedores de Campinas, no interior de São Paulo, se juntaram para lançar a Widbook, uma plataforma social on line para pessoas lerem, escreverem e compartilharem histórias em formato de e-book. Sete meses depois do lançamento, a Widbook recebeu investimentos do W7 Brazil Capita, um fundo privado de investimentos em companhias focadas no mercado web. Hoje, a plataforma global tem 200 mil usuários em 100 países e 30 mil e-books em desenvolvimento. Joseph Bregeiro, um dos três empreendedores que gestaram o Widbook, é um dos convidados da Contec, conferência que antecede a abertura da Feira do Livro de Frankfurt, no dia 7 de outubro. Joseph participa da palestra Rebels of Publishing, marcada para começar ao meio dia e quinze, na Sala Europa (Hall 4.0). Leia abaixo entrevista que Joseph concedeu ao PublishNews:

PublishNews: O que levou você a abandonar a segurança de um emprego na Fnac para apostar todas as fichas na Widbook?

Joseph Bregeiro: A possibilidade de mudar a forma como um escritor se relaciona com o seu leitor foi o maior dos fatores de decisão. Na nossa visão, as mudanças deviam ir muito além do ato da compra que é praticado de forma eficiente mas fria pelos grandes portais de distribuição de conteúdo. Seria necessária a disposição de alguém que se colocasse como uma plataforma de escrita e que abraçasse escritores e leitores desde o início do processo de produção da obra. E disposição nós tínhamos de sobra.

PN: Entre os fundadores da Widbook, você é o único que tinha alguma experiência com o mercado de livros. Isto ajudou?

JB: Sim, me tornei especialista na venda dos livros e isso se uniu à minha paixão pela leitura. Isso ajudou sim, mas era necessário aliar este conhecimento à ciência das start-ups tecnológicas e ao complexo mundo do mercado editorial. Nós nos complementamos e procuramos um grupo de investimento e advisors que fortificassem ainda mais a nossa união.

PN: O Widbook quer criar rupturas no mercado editorial ou pretende se inserir nele?

JB: Temos muito a aprender ainda com o mercado editorial. A cadeia toda foi muito eficiente em todos estes anos de grandes escritores e obras de sucesso. O que buscamos é alcançar níveis de excelência ainda maiores e isso só se faz colaborando e conectando-se ao mercado editorial já estabelecido.

PN: Vocês se consideram editores?

JB: Não. Widbook e editoras se complementam. Somos especialistas no processo da escrita da obra e na relação que o escritor estabelece com seus leitores durante e após este processo. Nossa comunidade traz força às novas obras e isso garante o lançamento de novos autores. A prova disso é que diversas editoras já trabalham com o Widbook.

PN: Por que a plataforma foi lançada internacionalmente antes que fosse lançada no Brasil?

JB: Primeiro porque o Widbook é uma plataforma global e o inglês é o idioma que possibilita a conexão de escritores e leitores do mundo todo. Também tínhamos que testar a tração da ideia simultaneamente em diversos países e decidimos desenvolver EUA e Brasil de forma mais próxima. Depois destes dois países, aparecem Índia, Reino Unido, Filipinas e Paquistão no ranking de usuários. A falta de plataformas locais mais profissionais que aproximem o escritor de sua audiência é a maior causa do grande crescimento nestes países.

PN: Há tanto leitores como escritores entre os usuários. Fale um pouco do desafio de atingir estes dois públicos.

JB: De fato, a construção de uma plataforma eficiente para leitores envolve desafios completamente diferentes dos da de uma que seja eficiente para escritores. Optamos por aceitar o duplo desafio e trabalhamos constantemente tanto nas melhorias do editor de texto e de tudo que rodeia o universo do escritor quanto nas funcionalidades que muito claramente são destinadas aos leitores. Entendemos que a opção do escritor por uma plataforma para a escrita de um livro parte do princípio de que haja um bom ambiente para que seus leitores possam degustar sua obra.

PN: Quais foram as maiores surpresas?

JB: Talvez a maior das surpresas esteja relacionada à dúvida que tínhamos se haveria público interessado em ler livros ainda não finalizados. E há! Isso se provou ao longo do tempo na medida que observamos leitores pedindo os próximos capítulos. Estamos acostumados a consumir conteúdo de forma fracionada com novelas, séries de TV, etc. Isso vem fortalecendo muito a relação do escritor com seus leitores e talvez isso seja o que mais nos diferencia de uma plataforma self-publishing tradicional.

PN: Durante a Contec, você vai participar da sessão Rebels of Publishing. Você se considera um rebelde?

JB: Sempre que alguém sai do trilho tradicional das coisas, um certo grau de rebeldia lhe é atribuído. Entendemos isso e, neste sentido, aceitamos o título. Mas está muito claro com as nossas parcerias e nossa postura que iremos todos co-existir para alcançar um único objetivo, que é o de revelar novos autores e o de transformar a experiência da escrita e leitura de livros. Estamos dispostos a trilhar estes novos caminhos e abertos a nos conectar com todo o mercado editorial.

[06/10/2014 00:00:00]