Estratégias globais para editores brasileiros
PublishNews, Redação, 31/07/2014
Ed Nawotka, editor do Publishing Perspectives, fala ao PublishNews sobre as oportunidades globais para editores brasileiros

A convite do PublishNews e da Nielsen, Ed Nawotka, o prestigiado editor do Publishing Perspectives, vem ao Brasil para o seminário internacional “Oportunidades globais para editores brasileiros”, no dia 6 de agosto, a partir das 14, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509 – São Paulo/SP). Entrevistamos o editor e ele dá uma prévia dos temas que abordará no seminário. Ele defende, por exemplo, que a consolidação de grandes grupos editoriais em nível global pode ser um movimento positivo para as editoras brasileiras: “A presença [dessas editoras internacionais] no Brasil vai permitir uma proximidade maior com as editoras brasileiras - isso, por sua vez, pode levar os livros brasileiros para o exterior, fazendo parcerias e espalhando o mercado editorial brasileiro para o mundo”. Ed aponta algumas oportunidades de ouro para editoras brasileiras: “as verdadeiras oportunidades podem estar em mercados em desenvolvimento, especialmente nos que estão geograficamente ao redor do Brasil. Ao trabalhar com mercados em desenvolvimento, o Brasil pode ser um fornecedor de conteúdo ou serviços premium nesta área. Leia abaixo a íntegra da entrevista:

PublishNews - De repente, os grandes grupos editoriais do mundo, como a Penguin Random House, HarperCollins e Bonnier, estão desenvolvendo e implementando estratégias globais. Como isso pode ser uma ameaça e também uma oportunidade para editoras dos países em desenvolvimento como o Brasil?

Ed Nawotka - É tanto uma ameaça quanto uma oportunidade. É uma ameaça, primeiro de tudo, porque quando elas entrarem no Brasil com seus recursos, conhecimento e prestígio, podem drenar uma porcentagem do mercado aqui em casa. Também, no caso das editoras gerais, elas podem estar menos dispostas a vender os direitos de seus livros principais e optar por publicá-los elas mesmas. É uma oportunidade porque sua presença no Brasil vai permitir uma proximidade maior com as editoras brasileiras - isso, por sua vez, pode levar os livros brasileiros para o exterior, fazendo parcerias e espalhando o mercado editorial brasileiro para o mundo.

PN - Como o Brasil se compara com os outros BRICS para os principais atores globais do mercado editorial? Quais são os pontos fortes e fracos quando vistos por olhos estrangeiros?

EN - O Brasil tem a vantagem de estar na América do Sul, que é vista como estando, no geral, "em ascensão" e existe uma ideia romântica do Brasil no exterior, o que ajuda seu apelo. Mas cada um dos países no BRICS é bastante autocontido por causa do idioma, com a exceção da Índia - onde o inglês é predominante. Uma vantagem que o Brasil tem sobre os outros BRICS é o de ser um país com muita imigração e diversidade cultural, o que significa - como nos EUA - que existem bolsões de comunidades com fortes ligações com o exterior. O ponto fraco é uma atitude muito relaxada na realização das coisas e um geral laissez faire - esta é a percepção – o que pode frustrar os estrangeiros.

PN - Normalmente, o Brasil importa conteúdo e serviços editoriais bem mais do que exporta. O que as editoras brasileiras podem fazer para mudar isso?

EN - Bom, não é provável que isso mude no futuro próximo, enquanto for mais eficiente em custos importar conhecimento e conteúdo. Mas o que precisa mudar é que o tipo de conteúdo produzido precisa ser disseminado pela totalidade do país. A chave é destapar os mercados internos tampados - então o que você descobre é que estes mercados exigem um tipo de conteúdo que somente as editoras brasileiras serão capazes de produzir.

PN - Quais são os pré-requisitos para que as editoras brasileiras tenham sucesso no exterior? Quais são os erros comuns que devem ser evitados?

EN - A melhor forma de aprender a atuar com a comunidade editorial estrangeira é mostrar que os autores brasileiros - sejam educacionais, científicos ou gerais - possuem tanta autoridade e conhecimento quanto os outros. Ser um excelente profissional em todas as circunstâncias realmente ajuda também.

PN - É natural para os editores brasileiros pensarem em mercados mais maduros quando pensam internacionalmente. Existem oportunidades em outros países em desenvolvimento que não deveriam ser ignoradas?

EN - Os mercados maduros podem, na verdade, estar mais fechados às editoras brasileiras do que os mercados em desenvolvimento, que estão procurando conteúdo com bom custo, conhecimento e materiais. Então, as verdadeiras oportunidades podem estar em mercados em desenvolvimento, especialmetne nos que estão geograficamente ao redor do Brasil. Ao trabalhar com mercados em desenvolvimento, o Brasil pode ser um fornecedor de conteúdo ou serviços premium nesta área;em mercados desenvolvidos, o Brasil ainda é visto como menor já que EUA, Reino Unido e Alemanha são vistos como os fornecedores de conteúdo ou serviços premium.

PN - O mercado norte-americano tem sido tradicionalmente fechado ao conteúdo estrangeiro. Isto está mudando? Como vender direitos às editoras norte-americanas?

EN - O mercado dos EUA é uma armadilha porque o país já contém muitos grupos imigrantes que produzem seus próprios livros nos EUA. Dito isto, existe uma enorme diáspora de brasileiros nos EUA e o mercado existe para livros tanto em inglês (tradução) quanto português. O central é se lembrar que as editoras norte-americanas não vão comprar mil livros brasileiros, mas poderiam comprar um ou dois. O importante é ver isso como uma proposta de negócio de longo prazo. Depois de alguns anos, estes um ou dois, podem se transformar em dez ou vinte. É um investimento.

PN - E na área de educação? Como as empresas brasileiras podem explorar melhor as oportunidades globais educativas?

EN - No mercado educacional o Brasil deveria olhar para as nações em desenvolvimento que estão procurando materiais com bom custo. Este é um começo, mas também existe o forte argumento de que o Brasil teve sucesso no lançamento de uma iniciativa de educação para os menos privilegiados e esta experiência pode ser traduzida para outras culturas.

PN - O mercado de Educação Superior parece cada vez mais consolidado. Há espaço para as editoras de economias em desenvolvimento?

EN - Sempre. Se as editoras educativas de fora optarem por participar diretamente no Brasil, vão precisar fazer isso através do governo - e, gostemos ou não, grandes corporações geralmente conseguem exercer pressão sobre governos para conseguir o que querem. Depende do governo decidir se mantém a indústria local (o que significa que as editoras terão que entregar o que prometeram) ou abrir para estrangeiros (que acabarão prometendo entregar um produto melhor do que os locais.).

PN - Você recomendaria joint-ventures? Tanto para as oportunidades locais quanto as globais? Os norte-americanos e europeus estão abertos a fazer parcerias com empresas de países em desenvolvimento?

EN - Parcerias e joint-ventures são uma boa forma de começar, certamente - desde que sejam em termos justos. Mas você não pode esquecer que isso vai mudar inevitavelmente a forma como se faz negócios. E como quase qualquer casamento, vai exigir muito trabalho mantê-lo funcionando - mas pode ter bons resultados.

PN - Além dos óbvios mercados europeus e norte-americano, quais outras regiões as editoras e especialmente as editoras brasilerias deveriam prestar atenção?

EN - Bom, a China é um mercado importante, claro. O Oriente Médio, que precisa de alternativas educacionais. E eu diria que a América Latina e o México, que estão perto geograficamente, o que facilita os negócios.

PN - A Amazon é o grande inimigo das editoras? Como as editoras podem lutar contra ela ou deixar a livraria? Você acha que ela será capaz de reproduzir seu poder em todos os países que entrar?

EN - A questão é que estamos falando de Amazon contra o Mundo. Não existe outra forma de descrever. A Amazon não vai dominar todos os países em que entrar, mas possui seus objetivos e dinheiro, que são chaves importantes para o sucesso nos negócios. Mas é importante lembrar que a Amazon não está focada somente em livros, nem perto disso. Ela quer dominar o varejo, que é uma área muito maior. Também, é importante lembrar a história: tudo é cíclico e eventos pequenos e não imprevistos podem ter um grande impacto em uma corporação gigante como a Amazon. Lembra-se do Império Otomano? Dominou o mundo até o começo da I Guerra Mundial. Hoje, alguém fala do Império Otomano?

[31/07/2014 00:00:00]